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Um lugar entre dois mundos: paisagens de Mbanza Kongo / A place between two worlds: landscapes of Mbanza Kongo

Maximo, Bruno Pastre 03 February 2017 (has links)
Durante séculos capital do Reino do Kongo, a cidade se configurou como uma paisagem de referência étnica, política, identitária e religiosa para dezenas de grupos que tiveram relações com ela. No final do século XIX, com a conferência de Berlim, o Reino do Kongo foi dilacerado, tendo seus territórios divididos entre três colônias: África Equatorial Francesa, Congo Belga e Angola. Neste momento de disputa, os vestígios arqueológicos foram utilizados por Portugal para barganhar e afirmar sua soberania na região de Mbanza Kongo, então chamada de São Salvador do Congo. Estes foram automaticamente entendidos como um legado exclusivo lusitano na cidade. Após a consolidação da posse do território, a cidade foi então alvo de diversos estudos coloniais, reafirmando através de diferentes narrativas a importância da cidade como símbolo da presença civilizatória colonial portuguesa em África e da expansão do catolicismo, tendo em 1957 a cidade sido declarada patrimônio português. Esta paisagem construída, formulada e vivenciada por estes escritores, foi duramente criticada pelos movimentos independentistas. O MPLA, partido que governa o país desde 1975, logo após a independência denunciou a narrativa colonialista da presença colonial como falsa, e afirmou as violências cometidas por eles. A fúria do partido se voltou também contra as autoridades tradicionais, taxadas como traidoras do plano de criação de uma Angola socialista e colaboradores dos colonizadores. Após o abandono do socialismo em 1992, o partido retomou, de forma surpreendente, a narrativa colonial de valorizar e compreender a cidade como uma paisagem construída europeia, sendo que o mote deste novo período é que a cidade seria um lugar exemplar da harmonia entre os povos que ali se encontraram - europeus e africanos - deixando de lado a denúncia das violências coloniais. Paralela a esta paisagem construída de origem colonial, temos uma paisagem ideativa da cidade de Mbanza Kongo enquanto lugar de ancestralidade kongo. Com o recorte de análise envolvendo os lugares Kulumbimbi, Ntotila e Yala-Nkuwu, pudemos identificar e compreender que para os diferentes grupos kongo que tiveram relação com a cidade durante o século XX, a paisagem da cidade é a da afronta ao colonialismo, um lugar de liberdade, igualdade, justiça, tradição, e principalmente, ancestralidade. Os lugares analisados são os pontos de ligações da cidade física com a ideativa. Tomados como referencial esta paisagem ideativa de Mbanza Kongo, grupos lutaram e continuam a lutar e se manifestar contra a violenta narrativa colonial que busca excluí-los e ignorar a identidade e a tradição como fundamentais na composição da sociedade. A paisagem de Mbanza Kongo, desta forma, é ao mesmo tempo um referencial de passado de como organizar e pensar a cidade e um lugar do futuro, um lugar que contém os elementos necessários para que a sociedade consiga se libertar e (re)construir a tradição. / The city of Mbanza Kongo is one of the main archaeological sites in Central Africa. For centuries the capital of the Kingdom of Kongo, the city was configured as a landscape of ethnic, political, identity and religious reference for dozens of groups that had relations with it. At the end of the nineteenth century, with the Berlin conference, the Kingdom of Kongo was disbanded, and its territories were divided between three colonies: French Equatorial Africa, Belgian Congo and Angola. At this moment of dispute, the archaeological remains were used by Portugal to bargain and affirm their sovereignty in the region of Mbanza Kongo, then called San Salvador de Congo. These were automatically understood as an exclusive Lusitan legacy in the city. After consolidating the territory\'s possession, the city was then the target of several colonial studies, reaffirming through different narratives the importance of the city as a symbol of Portuguese colonial civilization presence in Africa and the expansion of Catholicism, with the year 1957 being declared as a Portuguese heritage. This landscape constructed, formulated and experienced by these writers, was harshly criticized by the independents movements. The MPLA party, which ruled the country since 1975, soon after Independence, denounced the colonialist narrative of the colonial presence as false, and affirmed the violence committed by them. The fury of the party also turned against the traditional authorities, labeled as treacherous of the plan of creation of a socialist Angola and collaborated of the settlers. After the abandonment of socialism in 1992, the party surprisingly resumed the colonial narrative of valuing and understanding the city as a European-built landscape, and the motto of this new period is that the city would be an exemplary place of harmony between the Peoples who met there - European and African - leaving aside the denunciation of colonial violence. Parallel to this landscape constructed of colonial origin, we have an ideational landscape of the city of Mbanza Kongo as place of kongo ancestry. With the analysis involving the Kulumbimbi, Ntotila and Yala-Nkuwu places, we were able to identify and understand that for the different Kongo groups that had a relationship with the city during the 20th century, the city\'s landscape is that of affront to colonialism, a place of freedom, equality, justice, tradition, and above all, ancestry. The places analyzed are the points of connection between the physical and the imaginative city. Taken as a reference point for this ideational of Mbanza Kongo, groups have fought and continue to struggle against the violent colonial narrative that seeks to exclude them and ignore identity and tradition as fundamental in the composition of society. The landscape of Mbanza Kongo is both a past reference of how to organize and think about the city and a place of the future, a place that contains the elements necessary for society to be able to free itself and (re) build the city. tradition.
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Um lugar entre dois mundos: paisagens de Mbanza Kongo / A place between two worlds: landscapes of Mbanza Kongo

Bruno Pastre Maximo 03 February 2017 (has links)
Durante séculos capital do Reino do Kongo, a cidade se configurou como uma paisagem de referência étnica, política, identitária e religiosa para dezenas de grupos que tiveram relações com ela. No final do século XIX, com a conferência de Berlim, o Reino do Kongo foi dilacerado, tendo seus territórios divididos entre três colônias: África Equatorial Francesa, Congo Belga e Angola. Neste momento de disputa, os vestígios arqueológicos foram utilizados por Portugal para barganhar e afirmar sua soberania na região de Mbanza Kongo, então chamada de São Salvador do Congo. Estes foram automaticamente entendidos como um legado exclusivo lusitano na cidade. Após a consolidação da posse do território, a cidade foi então alvo de diversos estudos coloniais, reafirmando através de diferentes narrativas a importância da cidade como símbolo da presença civilizatória colonial portuguesa em África e da expansão do catolicismo, tendo em 1957 a cidade sido declarada patrimônio português. Esta paisagem construída, formulada e vivenciada por estes escritores, foi duramente criticada pelos movimentos independentistas. O MPLA, partido que governa o país desde 1975, logo após a independência denunciou a narrativa colonialista da presença colonial como falsa, e afirmou as violências cometidas por eles. A fúria do partido se voltou também contra as autoridades tradicionais, taxadas como traidoras do plano de criação de uma Angola socialista e colaboradores dos colonizadores. Após o abandono do socialismo em 1992, o partido retomou, de forma surpreendente, a narrativa colonial de valorizar e compreender a cidade como uma paisagem construída europeia, sendo que o mote deste novo período é que a cidade seria um lugar exemplar da harmonia entre os povos que ali se encontraram - europeus e africanos - deixando de lado a denúncia das violências coloniais. Paralela a esta paisagem construída de origem colonial, temos uma paisagem ideativa da cidade de Mbanza Kongo enquanto lugar de ancestralidade kongo. Com o recorte de análise envolvendo os lugares Kulumbimbi, Ntotila e Yala-Nkuwu, pudemos identificar e compreender que para os diferentes grupos kongo que tiveram relação com a cidade durante o século XX, a paisagem da cidade é a da afronta ao colonialismo, um lugar de liberdade, igualdade, justiça, tradição, e principalmente, ancestralidade. Os lugares analisados são os pontos de ligações da cidade física com a ideativa. Tomados como referencial esta paisagem ideativa de Mbanza Kongo, grupos lutaram e continuam a lutar e se manifestar contra a violenta narrativa colonial que busca excluí-los e ignorar a identidade e a tradição como fundamentais na composição da sociedade. A paisagem de Mbanza Kongo, desta forma, é ao mesmo tempo um referencial de passado de como organizar e pensar a cidade e um lugar do futuro, um lugar que contém os elementos necessários para que a sociedade consiga se libertar e (re)construir a tradição. / The city of Mbanza Kongo is one of the main archaeological sites in Central Africa. For centuries the capital of the Kingdom of Kongo, the city was configured as a landscape of ethnic, political, identity and religious reference for dozens of groups that had relations with it. At the end of the nineteenth century, with the Berlin conference, the Kingdom of Kongo was disbanded, and its territories were divided between three colonies: French Equatorial Africa, Belgian Congo and Angola. At this moment of dispute, the archaeological remains were used by Portugal to bargain and affirm their sovereignty in the region of Mbanza Kongo, then called San Salvador de Congo. These were automatically understood as an exclusive Lusitan legacy in the city. After consolidating the territory\'s possession, the city was then the target of several colonial studies, reaffirming through different narratives the importance of the city as a symbol of Portuguese colonial civilization presence in Africa and the expansion of Catholicism, with the year 1957 being declared as a Portuguese heritage. This landscape constructed, formulated and experienced by these writers, was harshly criticized by the independents movements. The MPLA party, which ruled the country since 1975, soon after Independence, denounced the colonialist narrative of the colonial presence as false, and affirmed the violence committed by them. The fury of the party also turned against the traditional authorities, labeled as treacherous of the plan of creation of a socialist Angola and collaborated of the settlers. After the abandonment of socialism in 1992, the party surprisingly resumed the colonial narrative of valuing and understanding the city as a European-built landscape, and the motto of this new period is that the city would be an exemplary place of harmony between the Peoples who met there - European and African - leaving aside the denunciation of colonial violence. Parallel to this landscape constructed of colonial origin, we have an ideational landscape of the city of Mbanza Kongo as place of kongo ancestry. With the analysis involving the Kulumbimbi, Ntotila and Yala-Nkuwu places, we were able to identify and understand that for the different Kongo groups that had a relationship with the city during the 20th century, the city\'s landscape is that of affront to colonialism, a place of freedom, equality, justice, tradition, and above all, ancestry. The places analyzed are the points of connection between the physical and the imaginative city. Taken as a reference point for this ideational of Mbanza Kongo, groups have fought and continue to struggle against the violent colonial narrative that seeks to exclude them and ignore identity and tradition as fundamental in the composition of society. The landscape of Mbanza Kongo is both a past reference of how to organize and think about the city and a place of the future, a place that contains the elements necessary for society to be able to free itself and (re) build the city. tradition.
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A arqueologia da África através dos editoriais: uma análise dos discursos arqueológicos de africanos e africanistas nos boletins especializados / The Archaeology of Africa through the editorials: an analysis of archaeological discourses of African and Africanists in specialized bulletins

Silva, Agatha Rodrigues da 28 February 2013 (has links)
As sociedades e instituições arqueológicas, como as demais organizações científicas, são espaços fundamentais no fomento e na manutenção da rede de intelectuais de sua área de pesquisa. Podem, através da veiculação de suas publicações, apontadas na seção editorial de boletins dessas organizações, reafirmar as tradições arqueológicas ou oferecer perspectivas inovadoras. Analisamos trinta e quatro editoriais das publicações The South African Archaeological Bulletin, Nyame Akuma e Nsi, intentando compreender a formação das múltiplas imagens dos arqueólogos africanos e africanistas na era pós-colonial, entre 1987 e 1993, que, a nosso ver, dar-se-ia diante daquilo que essas sociedades através de seus boletins consolidam. Segundo a ótica de seus editores, os boletins do corpus de nossa pesquisa eram meios de comunicação rápidos e eficientes para cumprir funções de possibilitar que os arqueólogos interagissem, que se informassem sobre o andamento das pesquisas de campo e que fossem comunicados quanto à realização de congressos entre seus pares. Nosso recorte temporal define-se pela circulação concomitante dos três boletins, exceto quanto ao Nsi, que foi, um ano antes, em 1992, assimilado ao Nyame Akuma. Esse recorte temporal, a propósito, foi marcado pelas correntes teóricas da Nova Arqueologia, do Pós-Processualismo, dos estudos pós-coloniais e pela divulgação da pesquisa arqueológica na África e sobre a África em face dessas abordagens. Apontamos a título de conclusão da análise que os boletins, sob o pretexto de favorecer os arqueólogos e a produção científica em arqueologia na África durante esse período, veiculavam, na verdade, as imagens ideais ou mesmo as rechaçadas dos arqueólogos interessados na África. Essas imagens eram construídas nos textos dos editores na prática discursiva que formulavam com temas ligados ao ofício do arqueólogo. / The archaeological societies and institutions, like others scientific organizations, they are fundamental spaces in the encouragement and in the support an intellectual\'s network of the research´s area. They can, through the distribution of its publications, like the newsletters, in the editorial section, to reaffirm traditions or offer innovative perspectives. We analyzed thirty and four editorial texts in The South African Archaeological Bulletin, Nyame Akuma and Nsi, intending to understand structure multiple images\' of Africans and Africanists Archaeologists in the post-colonial era, between 1987 and 1993, that, in our opinion, would it is happen before of that societies through its newsletters consolidate. According to the viewpoint their editors, the newsletters of our documental corpus were agile and efficient to fulfill the functions to make possible archaeologists interact, they knew about the fieldwork\'s progress, they were informed about the realization of Congress. Our temporal period is defined by the concomitant movement of the bulletins, with the exception of the year 1993, when Nsi was assimilated to Nyame Akuma. It\'s a period was marked by New Archaeology´s theoretical currents, Post-processualism, postcolonial studies and dissemination of archaeological research in the Africa and about the Africa in face of these approaches. We point as conclusion of the analysis like the bulletins, under the pretext of promoting the archaeologists and the scientific archeology in the Africa, during in this period, they conveyed, in fact, the ideal or rejected images of the interested archaeologists in Africa. These images were constructed in the editor\'s texts in discursive practice that they formulated. They were recurring statements of the contingent themes at the archaeologist´s work.
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A arqueologia da África através dos editoriais: uma análise dos discursos arqueológicos de africanos e africanistas nos boletins especializados / The Archaeology of Africa through the editorials: an analysis of archaeological discourses of African and Africanists in specialized bulletins

Agatha Rodrigues da Silva 28 February 2013 (has links)
As sociedades e instituições arqueológicas, como as demais organizações científicas, são espaços fundamentais no fomento e na manutenção da rede de intelectuais de sua área de pesquisa. Podem, através da veiculação de suas publicações, apontadas na seção editorial de boletins dessas organizações, reafirmar as tradições arqueológicas ou oferecer perspectivas inovadoras. Analisamos trinta e quatro editoriais das publicações The South African Archaeological Bulletin, Nyame Akuma e Nsi, intentando compreender a formação das múltiplas imagens dos arqueólogos africanos e africanistas na era pós-colonial, entre 1987 e 1993, que, a nosso ver, dar-se-ia diante daquilo que essas sociedades através de seus boletins consolidam. Segundo a ótica de seus editores, os boletins do corpus de nossa pesquisa eram meios de comunicação rápidos e eficientes para cumprir funções de possibilitar que os arqueólogos interagissem, que se informassem sobre o andamento das pesquisas de campo e que fossem comunicados quanto à realização de congressos entre seus pares. Nosso recorte temporal define-se pela circulação concomitante dos três boletins, exceto quanto ao Nsi, que foi, um ano antes, em 1992, assimilado ao Nyame Akuma. Esse recorte temporal, a propósito, foi marcado pelas correntes teóricas da Nova Arqueologia, do Pós-Processualismo, dos estudos pós-coloniais e pela divulgação da pesquisa arqueológica na África e sobre a África em face dessas abordagens. Apontamos a título de conclusão da análise que os boletins, sob o pretexto de favorecer os arqueólogos e a produção científica em arqueologia na África durante esse período, veiculavam, na verdade, as imagens ideais ou mesmo as rechaçadas dos arqueólogos interessados na África. Essas imagens eram construídas nos textos dos editores na prática discursiva que formulavam com temas ligados ao ofício do arqueólogo. / The archaeological societies and institutions, like others scientific organizations, they are fundamental spaces in the encouragement and in the support an intellectual\'s network of the research´s area. They can, through the distribution of its publications, like the newsletters, in the editorial section, to reaffirm traditions or offer innovative perspectives. We analyzed thirty and four editorial texts in The South African Archaeological Bulletin, Nyame Akuma and Nsi, intending to understand structure multiple images\' of Africans and Africanists Archaeologists in the post-colonial era, between 1987 and 1993, that, in our opinion, would it is happen before of that societies through its newsletters consolidate. According to the viewpoint their editors, the newsletters of our documental corpus were agile and efficient to fulfill the functions to make possible archaeologists interact, they knew about the fieldwork\'s progress, they were informed about the realization of Congress. Our temporal period is defined by the concomitant movement of the bulletins, with the exception of the year 1993, when Nsi was assimilated to Nyame Akuma. It\'s a period was marked by New Archaeology´s theoretical currents, Post-processualism, postcolonial studies and dissemination of archaeological research in the Africa and about the Africa in face of these approaches. We point as conclusion of the analysis like the bulletins, under the pretext of promoting the archaeologists and the scientific archeology in the Africa, during in this period, they conveyed, in fact, the ideal or rejected images of the interested archaeologists in Africa. These images were constructed in the editor\'s texts in discursive practice that they formulated. They were recurring statements of the contingent themes at the archaeologist´s work.

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