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Encontro com o povo Sateré-Mawé para um diálogo intercultural sobre a loucura / The meeting with the Sateré-Mawé for Intercultural dialogue about madness

José, Ermelinda do Nascimento Salem 20 December 2010 (has links)
Esta pesquisa originou-se do encontro com o Povo Sateré-Mawé da Área Indígena do Marau e de um diálogo que iniciamos com os professores dessa etnia, que visitaram as pessoas internas no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro (CPER), em Manaus/AM, junto às quais desenvolvemos um trabalho de extensão da Universidade Federal do Amazonas. Indagados sobre a loucura no contexto em que vivem, eles negaram sua existência. Decidimos registrar e ampliar, para outros Sateré-Mawé, o diálogo que havíamos iniciado com os professores. Tendo em vista os múltiplos sentidos com que a loucura é evocada na tradição cultural ocidental, definimos a mesma como a manifestação de experiências nomeadas, em um ponto de vista da prática clínica médico-psicológica, como alucinações, delírios, quadros de agitação psicomotora (muitas vezes acompanhados de atitudes agressivas sem um sentido aparente), e/ou outras, em que a pessoa parece ter perdido o contato com a realidade consensual - como se a sua mente estivesse sofrendo um mau funcionamento massivo. A definição proposta não foi atrelada à noção de doença ou anormalidade, mas delimitada à noção mais geral de sofrimento, infortúnio, aflição, mal-estar. Embora os professores Sateré- Mawé tenham negado a loucura em sua sociedade, no sentido com que a conheceram na visita aos internos no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, eles não afirmaram a inexistência de experiências cuja manifestação definimos como loucura. Delimitamos como objetivo geral compreender dialogicamente experiências Satere Mawe da loucura; e, como objetivos específicos, conhecer explicações, classificações e respostas Satere Mawe para essas experiências; e identificar implicações do atendimento em serviços de saúde mental da tradição biomédica. Para um diálogo intercultural optamos pelo caminho da hermenêutica diatópica, através do desenvolvimento de argumentações com indígenas Sateré-Mawé que exercem diferentes papéis sociais em suas aldeias. Os diálogos foram realizados em duas fases: uma preliminar, para o início da construção da zona de contato; e outra para ampliação dos topoi/argumentos das tradições culturais Ocidental e Sateré-Mawé; classificação e definição dos topoi/argumentos Sateré-Mawé; e observação e acompanhamento de casos. O diálogo desenvolvido informou-nos sobre diversas categorias Sateré-Mawé de mal-estar, dentre as quais destacaram-se mikyry\'iwo hap/judiação e mimoko\'i como as mais próximas de uma delimitação psíquica da experiência, postulada pela Psicologia. Além disso, possibilitounos observar que, nas fronteiras em que as práticas de saúde da tradição biomédica penetram o universo Sateré-Mawé, a ênfase colocada na utilização de remédios, para tratar o sofrimento mental, denuncia uma ausência na explicitação de outras circunstâncias que devem estar presentes no atendimento a pessoas que vivenciam esse tipo de problemática. / The meeting with the Sateré-Mawé for Intercultural dialogue about madness Abstract -This research originated from the meeting with the People Sateré-Mawé Area Indigenous Marau and a dialogue that began with the teachers of this ethnicity, people who visited the internal Psychiatric Center Eduardo Ribeiro (ERCP) in Manaus, Amazonas, developed with them an extension work of the Federal University of Amazonas. When they were questioned about the madness in the context in which they live, they denied their existence. Thus, we decided to register and expand to other Sateré-Mawé, who had started the dialogue with teachers. Given the multiple ways in which madness is known in the Western cultural tradition, we define it as the manifestation of experience named in the medicalpsychological clinical practice, such as hallucinations, delusions, agitation (often accompanied by aggressive actions without a apparent meaning), and/or others in which the person appears to have lost contact with consensual reality - as if his mind was suffering a massive malfunction. The proposed definition was tied to the notion of disease or abnormality, but bounded to the more general concept of suffering, misfortune, distress, discomfort. Although teachers Sateré-Mawé have denied the madness in their society, in the sense that met on visits to inmates in the psychiatric center Eduardo Ribeiro. Therefore, They are not saying the lack of experience which we define as the manifestation of madness. We defined as general goal to understand dialogically Satere Mawe experiences of madness, and as specific goals, understand the explanations, classifications and responses Mawe Satere to these experiences and to identify implications of treatment the mental health services in the biomedical tradition. We chose the way of hermeneutic diatopical for intercultural dialogue, through the development of arguments with indigenous Sateré-Mawé performing different roles in their community. The dialogues were conducted in two phases: a preliminary to the start of construction of the contact zone, and another to expand the topoi/arguments of the cultural traditions of Western and Sateré-Mawé, classification and definition of topoi/arguments Sateré-Mawe; and the observation and monitoring of cases. The dialogue developed informed us about the different categories Sateré-Mawé discomfort, among them stood out mikyry\'iwo hap/judiação and mimoko\'i as the closest definition of a psychic experience, postulated by psychology. Furthermore, it allowed us to observe that frontier on the health practices of the biomedical tradition permeate the universe Sateré-Mawé, the emphasis on the use of drugs to treat mental suffering, denounces the lack of explicitness in other circumstances that must be present in the treatment of people who experience such problems.
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Encontro com o povo Sateré-Mawé para um diálogo intercultural sobre a loucura / The meeting with the Sateré-Mawé for Intercultural dialogue about madness

Ermelinda do Nascimento Salem José 20 December 2010 (has links)
Esta pesquisa originou-se do encontro com o Povo Sateré-Mawé da Área Indígena do Marau e de um diálogo que iniciamos com os professores dessa etnia, que visitaram as pessoas internas no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro (CPER), em Manaus/AM, junto às quais desenvolvemos um trabalho de extensão da Universidade Federal do Amazonas. Indagados sobre a loucura no contexto em que vivem, eles negaram sua existência. Decidimos registrar e ampliar, para outros Sateré-Mawé, o diálogo que havíamos iniciado com os professores. Tendo em vista os múltiplos sentidos com que a loucura é evocada na tradição cultural ocidental, definimos a mesma como a manifestação de experiências nomeadas, em um ponto de vista da prática clínica médico-psicológica, como alucinações, delírios, quadros de agitação psicomotora (muitas vezes acompanhados de atitudes agressivas sem um sentido aparente), e/ou outras, em que a pessoa parece ter perdido o contato com a realidade consensual - como se a sua mente estivesse sofrendo um mau funcionamento massivo. A definição proposta não foi atrelada à noção de doença ou anormalidade, mas delimitada à noção mais geral de sofrimento, infortúnio, aflição, mal-estar. Embora os professores Sateré- Mawé tenham negado a loucura em sua sociedade, no sentido com que a conheceram na visita aos internos no Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, eles não afirmaram a inexistência de experiências cuja manifestação definimos como loucura. Delimitamos como objetivo geral compreender dialogicamente experiências Satere Mawe da loucura; e, como objetivos específicos, conhecer explicações, classificações e respostas Satere Mawe para essas experiências; e identificar implicações do atendimento em serviços de saúde mental da tradição biomédica. Para um diálogo intercultural optamos pelo caminho da hermenêutica diatópica, através do desenvolvimento de argumentações com indígenas Sateré-Mawé que exercem diferentes papéis sociais em suas aldeias. Os diálogos foram realizados em duas fases: uma preliminar, para o início da construção da zona de contato; e outra para ampliação dos topoi/argumentos das tradições culturais Ocidental e Sateré-Mawé; classificação e definição dos topoi/argumentos Sateré-Mawé; e observação e acompanhamento de casos. O diálogo desenvolvido informou-nos sobre diversas categorias Sateré-Mawé de mal-estar, dentre as quais destacaram-se mikyry\'iwo hap/judiação e mimoko\'i como as mais próximas de uma delimitação psíquica da experiência, postulada pela Psicologia. Além disso, possibilitounos observar que, nas fronteiras em que as práticas de saúde da tradição biomédica penetram o universo Sateré-Mawé, a ênfase colocada na utilização de remédios, para tratar o sofrimento mental, denuncia uma ausência na explicitação de outras circunstâncias que devem estar presentes no atendimento a pessoas que vivenciam esse tipo de problemática. / The meeting with the Sateré-Mawé for Intercultural dialogue about madness Abstract -This research originated from the meeting with the People Sateré-Mawé Area Indigenous Marau and a dialogue that began with the teachers of this ethnicity, people who visited the internal Psychiatric Center Eduardo Ribeiro (ERCP) in Manaus, Amazonas, developed with them an extension work of the Federal University of Amazonas. When they were questioned about the madness in the context in which they live, they denied their existence. Thus, we decided to register and expand to other Sateré-Mawé, who had started the dialogue with teachers. Given the multiple ways in which madness is known in the Western cultural tradition, we define it as the manifestation of experience named in the medicalpsychological clinical practice, such as hallucinations, delusions, agitation (often accompanied by aggressive actions without a apparent meaning), and/or others in which the person appears to have lost contact with consensual reality - as if his mind was suffering a massive malfunction. The proposed definition was tied to the notion of disease or abnormality, but bounded to the more general concept of suffering, misfortune, distress, discomfort. Although teachers Sateré-Mawé have denied the madness in their society, in the sense that met on visits to inmates in the psychiatric center Eduardo Ribeiro. Therefore, They are not saying the lack of experience which we define as the manifestation of madness. We defined as general goal to understand dialogically Satere Mawe experiences of madness, and as specific goals, understand the explanations, classifications and responses Mawe Satere to these experiences and to identify implications of treatment the mental health services in the biomedical tradition. We chose the way of hermeneutic diatopical for intercultural dialogue, through the development of arguments with indigenous Sateré-Mawé performing different roles in their community. The dialogues were conducted in two phases: a preliminary to the start of construction of the contact zone, and another to expand the topoi/arguments of the cultural traditions of Western and Sateré-Mawé, classification and definition of topoi/arguments Sateré-Mawe; and the observation and monitoring of cases. The dialogue developed informed us about the different categories Sateré-Mawé discomfort, among them stood out mikyry\'iwo hap/judiação and mimoko\'i as the closest definition of a psychic experience, postulated by psychology. Furthermore, it allowed us to observe that frontier on the health practices of the biomedical tradition permeate the universe Sateré-Mawé, the emphasis on the use of drugs to treat mental suffering, denounces the lack of explicitness in other circumstances that must be present in the treatment of people who experience such problems.

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