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Transtornos de aprendizagem: quando \"ir mal na escola\" torna-se um problema médico e/ou psicológico / Learning disorders: when doing poorly at school becomes a medical and/or psychological problem.

Bautheney, Katia Cristina Silva Forli 28 September 2011 (has links)
A expressão transtornos de aprendizagem pode ser encontrada tanto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 2000) quanto na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10, 1993) obras de referência, no Brasil, na taxonomia dos ditos transtornos ou distúrbios psicológicos. Esses textos apresentam em seu conteúdo a descrição de uma sintomatologia e diagnóstico diferencial de perturbações que se manifestariam pela primeira vez na infância ou adolescência. Dentre esses problemas estão os que envolvem os processos de aprendizagem e/ou escolarização. Parte da nomenclatura nosográfica utilizada nessas obras aparece incorporada ao discurso de alguns educadores para designar entraves vivenciados pelos alunos na escola, silenciando em categorias o que é considerado inadequado no comportamento desses sujeitos. Neste trabalho de doutorado, procuramos analisar, sob uma ótica foucaultiana, diferentes formas de articulação entre saber e poder como fundamentação para o surgimento de conceitos e orientação de uma práxis. Buscaremos traçar, especialmente, uma genealogia do emprego do discurso psiquiátrico no campo da educação, partindo do pressuposto de que existe uma correspondência imaginária entre loucura e fracasso escolar, o que será demonstrado por meio do estudo dos desdobramentos desta relação em algumas práticas pedagógicas, sobretudo a escrita de relatórios sobre alunos que vão mal na escola. Na primeira parte da tese, estudaremos como as afecções hoje entendidas como transtornos de aprendizagem descendem de categorias que ao longo do século XIX (o qual assistiu o surgimento da psiquiatria moderna e da psicologia experimental) eram consideradas um tipo de loucura na forma de idiotia e imbecilidade. Visamos destacar como o uso de procedimentos pedagógicos tomados como terapia ou profilaxia dos transtornos mentais permitiu a importação do discurso psiquiátrico para as instituições escolares. Na segunda parte, à luz do conceito de poder psiquiátrico formulado por Foucault, analisaremos o solo epistemológico e as forças que permitem a circulação de um discurso médico e psicológico acerca dos fenômenos escolares. A última parte da tese versará sobre formas como se tecem as tramas entre loucura, doença mental, transtorno psicológico, inadequação de comportamento, discurso psiquiátrico e insucesso escolar. Para exemplificar esse movimento partiremos da análise documental e de relatórios de educadores e profissionais de saúde sobre alunos com supostos problemas de aprendizagem produzidos estes no âmbito de um serviço de Saúde Escolar, localizado num município da Região Metropolitana de São Paulo e coletados em Pesquisa de Campo realizada entre 2007 e 2010. Esse material será analisado dentro de uma abordagem qualitativa, na perspectiva de Albuquerque (1986) e Maingueneau (1997, 2008a, 2008b) de análise do discurso institucional. Ao término deste trabalho demonstraremos como a circulação do discurso psiquiátrico no campo da educação gera o esvaziamento do ato educativo, e é por ele alimentado. / The expression learning disorders may be found both in the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV, 2000) and in the International Classification of Diseases and Health Related Problems (DSM-IV, 2000) reference works, in Brazil, in the taxonomy of then so-called psychological disorders or disabilities. In their content, these texts present the description of symptoms and differential diagnosis of \"disorder\" that would appear for the first time in childhood or adolescence. Among these \"problems\" are those that involve the processes of learning and / or schooling. Part of the nosographic nomenclature used in these works are incorporated in the discourse of some educators to refer to barriers experienced by students in school, hiding in categories what is considered \"inappropriate\" behavior in these subjects. In this doctoral work, we analyze, from a Foucauldian perspective, different forms of articulation between knowledge and power as the basis for the emergence of concepts and guidance of praxis. We will try to draw, especially, one genealogy of the use of psychiatric discourse in education, on the assumption that there is an imaginary correspondence between madness and school failure, which will be demonstrated through the study of the consequences of this relationship in some teaching practices, especially writing reports on students who \"do poorly in school.\" In the first part of the thesis we will study how the diseases - nowadays understood as \"learning disorders\" come from categories that throughout the nineteenth century (which saw the emergence of modern psychiatry and experimental psychology) were considered a kind of madness in the form of idiocy and imbecility. We aim to highlight how the use of pedagogical practices taken as therapy or prophylaxis of mental disorders has allowed the introduction of psychiatric discourse to the schools. In the second part, in the light of the concept of psychiatric power formulated by Foucault, we will analyze the epistemological ground and the forces that allow the circulation of a medical and psychological discourse about school phenomena. The last part of the thesis will focus on the ways madness, mental illness, psychological disorder, \"inappropriate\" behavior, school failure and psychiatric discourse are produced. To exemplify this movement, we will use the analysis of documents and the reports about students with alleged learning problems that were produced as part of a school health service, located in a town of the metropolitan region of São Paulo, and collected from field research conducted between 2007 and 2010. This material will be analyzed in a qualitative approach, under the perspective of Albuquerque (1986) and Maingueneau (1997, 2008a, 2008b) of institutional analysis of discourse.At the end of this work, we will demonstrate how the circulation of the psychiatric speech in the field of education produces the emptying of the educative act and nurtures itself.
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Transtornos de aprendizagem: quando \"ir mal na escola\" torna-se um problema médico e/ou psicológico / Learning disorders: when doing poorly at school becomes a medical and/or psychological problem.

Katia Cristina Silva Forli Bautheney 28 September 2011 (has links)
A expressão transtornos de aprendizagem pode ser encontrada tanto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 2000) quanto na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10, 1993) obras de referência, no Brasil, na taxonomia dos ditos transtornos ou distúrbios psicológicos. Esses textos apresentam em seu conteúdo a descrição de uma sintomatologia e diagnóstico diferencial de perturbações que se manifestariam pela primeira vez na infância ou adolescência. Dentre esses problemas estão os que envolvem os processos de aprendizagem e/ou escolarização. Parte da nomenclatura nosográfica utilizada nessas obras aparece incorporada ao discurso de alguns educadores para designar entraves vivenciados pelos alunos na escola, silenciando em categorias o que é considerado inadequado no comportamento desses sujeitos. Neste trabalho de doutorado, procuramos analisar, sob uma ótica foucaultiana, diferentes formas de articulação entre saber e poder como fundamentação para o surgimento de conceitos e orientação de uma práxis. Buscaremos traçar, especialmente, uma genealogia do emprego do discurso psiquiátrico no campo da educação, partindo do pressuposto de que existe uma correspondência imaginária entre loucura e fracasso escolar, o que será demonstrado por meio do estudo dos desdobramentos desta relação em algumas práticas pedagógicas, sobretudo a escrita de relatórios sobre alunos que vão mal na escola. Na primeira parte da tese, estudaremos como as afecções hoje entendidas como transtornos de aprendizagem descendem de categorias que ao longo do século XIX (o qual assistiu o surgimento da psiquiatria moderna e da psicologia experimental) eram consideradas um tipo de loucura na forma de idiotia e imbecilidade. Visamos destacar como o uso de procedimentos pedagógicos tomados como terapia ou profilaxia dos transtornos mentais permitiu a importação do discurso psiquiátrico para as instituições escolares. Na segunda parte, à luz do conceito de poder psiquiátrico formulado por Foucault, analisaremos o solo epistemológico e as forças que permitem a circulação de um discurso médico e psicológico acerca dos fenômenos escolares. A última parte da tese versará sobre formas como se tecem as tramas entre loucura, doença mental, transtorno psicológico, inadequação de comportamento, discurso psiquiátrico e insucesso escolar. Para exemplificar esse movimento partiremos da análise documental e de relatórios de educadores e profissionais de saúde sobre alunos com supostos problemas de aprendizagem produzidos estes no âmbito de um serviço de Saúde Escolar, localizado num município da Região Metropolitana de São Paulo e coletados em Pesquisa de Campo realizada entre 2007 e 2010. Esse material será analisado dentro de uma abordagem qualitativa, na perspectiva de Albuquerque (1986) e Maingueneau (1997, 2008a, 2008b) de análise do discurso institucional. Ao término deste trabalho demonstraremos como a circulação do discurso psiquiátrico no campo da educação gera o esvaziamento do ato educativo, e é por ele alimentado. / The expression learning disorders may be found both in the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV, 2000) and in the International Classification of Diseases and Health Related Problems (DSM-IV, 2000) reference works, in Brazil, in the taxonomy of then so-called psychological disorders or disabilities. In their content, these texts present the description of symptoms and differential diagnosis of \"disorder\" that would appear for the first time in childhood or adolescence. Among these \"problems\" are those that involve the processes of learning and / or schooling. Part of the nosographic nomenclature used in these works are incorporated in the discourse of some educators to refer to barriers experienced by students in school, hiding in categories what is considered \"inappropriate\" behavior in these subjects. In this doctoral work, we analyze, from a Foucauldian perspective, different forms of articulation between knowledge and power as the basis for the emergence of concepts and guidance of praxis. We will try to draw, especially, one genealogy of the use of psychiatric discourse in education, on the assumption that there is an imaginary correspondence between madness and school failure, which will be demonstrated through the study of the consequences of this relationship in some teaching practices, especially writing reports on students who \"do poorly in school.\" In the first part of the thesis we will study how the diseases - nowadays understood as \"learning disorders\" come from categories that throughout the nineteenth century (which saw the emergence of modern psychiatry and experimental psychology) were considered a kind of madness in the form of idiocy and imbecility. We aim to highlight how the use of pedagogical practices taken as therapy or prophylaxis of mental disorders has allowed the introduction of psychiatric discourse to the schools. In the second part, in the light of the concept of psychiatric power formulated by Foucault, we will analyze the epistemological ground and the forces that allow the circulation of a medical and psychological discourse about school phenomena. The last part of the thesis will focus on the ways madness, mental illness, psychological disorder, \"inappropriate\" behavior, school failure and psychiatric discourse are produced. To exemplify this movement, we will use the analysis of documents and the reports about students with alleged learning problems that were produced as part of a school health service, located in a town of the metropolitan region of São Paulo, and collected from field research conducted between 2007 and 2010. This material will be analyzed in a qualitative approach, under the perspective of Albuquerque (1986) and Maingueneau (1997, 2008a, 2008b) of institutional analysis of discourse.At the end of this work, we will demonstrate how the circulation of the psychiatric speech in the field of education produces the emptying of the educative act and nurtures itself.

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