As relações da psicanálise com as obras de arte, a filosofia da arte e as disciplinas estéticas têm sido objeto de inúmeras investigações. Desde sua invenção, a experiência artística esteve presente na argumentação metapsicológica de Freud. E se uma primeira aproximação do tema poderia sugerir que o recurso às formas artísticas ali encontraria uma função meramente expositiva, mobilizado em benefício da ilustrabilidade das teses e proposições psicanalíticas, ou debatidas sob a perspectiva de sua aptidão em demonstrar a plausibilidade das idéias freudianas, cumpre apontar para o que se possa conceber para além desse dispositivo puramente metodológico. A arte realiza na obra freudiana uma função legitimamente heurística. Em momentos decisivos do estabelecimento de determinadas teses da metapsicologia, o recurso ao debate interpretativo acerca de figuras e experiências artísticas provê aportes fundamentais para a configuração e consolidação das mesmas. Recurso esse, é bem verdade, que coexiste e articula-se com elementos extraídos das investigações clínicas de Freud, esses ainda mais frequentes e não menos importantes para os contornos da teoria psicanalítica. O conceito de sublimação é aquele que reúne, sob o extenso e complexo panorama de sua inserção metapsicológica, os mais diversos apontamentos freudianos acerca das consequências e pormenores subjetivos de vicissitudes das mudanças de alvo da pulsão, das quais a experiência artística é um paradigma exemplar. Tal conceito é aqui revisitado, com vistas a restabelecer suas principais matrizes teóricas e alguns de seus matizes doutrinais, numa investigação interna à obra de Freud. Mas, preponderantemente, a discussão aqui pretendida entrevê as conexões da teoria freudiana da sublimação com os elementos artísticos que nela infletem ou à ela subjazem. Na esteira desses desdobramentos, fez-se crucial um debate entre o conceito de sublimação e momentos da filosofia moderna do sublime. Um debate que, em seu desenlace, buscou revelar, quanto a doutrina freudiana da sublimação e acerca da apreensão freudiana das obras de arte, os principais efeitos que sobre ela parecem ter exercido aspectos das idéias de Kant, Schopenhauer e Schiller em suas investigações acerca do belo e do sublime. Se o conceito de sublimação não pode ser subsumido à filosofia do sublime, ali figurando como mais um de seus capítulos, ele é todavia permeável a esse debate, sob aspectos que, por motivos e circunstâncias que aqui se procurou evidenciar, Freud jamais soube suficientemente explicitar. / The relationship between psychoanalysis and works of art, the philosophy of art, and the aesthetic disciplines have been the subject of innumerable studies. Since its invention, the metapsychology of Freud has discussed the artistic experience. Beyond merely serving as a methodological exercise for the purpose of illustrating psychoanalytic theses and propositions or demonstrating the plausibility of Freudian ideas, revisiting the topic of artistic expression succeeds in extending their conceptual range. Art serves a legitimately heuristic function in Freudian works. At crucial points in the establishment of particular metapsychological theses, the configuration and consolidation of the theory receives fundamental support from revisiting the interpretation of artistic expression and experience. It is true that this involves elements which are extraneous to the clinical investigations of Freud, but this does not diminish their importance to the shape of psychoanalytic theory. Due to the extent and complexity if its insertion into metapsychological theory, the concept of sublimation reunites many diverse Freudian concepts concerning the effect of subjective idiosyncracies upon the way in which impulses are directed to a target, and the artistic experience serves as a paradigm for this process. The concept is revisited here in an internal investigation of the works of Freud for the purpose of elucidating its principal theoretical origins and some of its nuance. However, for the most part, this discussion intends to connect the Freudian theory of sublimation to artistic elements that are expressed in, or underly, it. In the course of these expositions, there is a crucial dialogue between the concept of sublimation and modern philosophy\'s propositions concerning the sublime. The debate ultimately seeks to reveal how much the Freudian doctrine of sublimation and the Freudian understanding of art have been effected by, and employed, the ideas of Kant, Schopenhauer, and Schiller in its investigation of beauty and the sublime. If the concept of sublimation cannot be subsumed within the philosophy of the sublime, configured as one more of its chapters, it is nevertheless permeable to that discussion, with the view that, for motives and circumstances which herein one attempts to make evident, Freud never knew how to make it sufficiently explicit.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-29112010-144750 |
Date | 12 November 2010 |
Creators | Rocha, Guilherme Massara |
Contributors | Safatle, Vladimir Pinheiro |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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