[pt] Este trabalho tem por objeto as estruturas gramaticais
portuguesas tradicionalmente denominadas voz passiva
analítica e voz passiva sintética (ou pronominal). No
quadro da abordagem sistêmico-funcional, são analisadas
as semelhanças e diferenças semânticas entre elas, tendo
por base seu emprego em textos. O exame de ocorrências
dessas estruturas em diferentes gêneros de textos
jornalísticos - notícias, editoriais e artigos - revela
diferenças de distribuição, com a quase inexistência de voz
passiva sintética nas notícias. Partindo desse fato como
uma evidência da não-equivalência funcional entre as duas
estruturas, estuda-se o significado das ocorrências em
contexto, visando a identificar a contribuição específica
de cada tipo de estrutura para a realização dos significados
do texto. O significado de cada estrutura é, assim,
analisado em seus componentes textual, ideacional e
interpessoal. No domíno textual, a voz passiva analítica,
que se caracteriza pela conversão do participante paciente
em Sujeito e, portanto, em Tema não-marcado, funciona
primordialmente como um recurso para facilitar o
posicionamento de informação dada antes de informação nova,
na ordem dos constituintes oracionais. A voz passiva
sintética, por sua vez, não apresenta essa propriedade de
tematizar um participante, já que, na ordem não-marcada, é o
Processo que ocupa a primeira posição oracional nessa
estrutura. Na maioria das ocorrências de voz passiva
sintética, o constituinte que seria o Sujeito da oração
correspondente em voz passiva analítica representa
informação nova. Sendo assim, as duas estruturas estudadas
contribuem de modos diferentes para a organização do fluxo
informacional do texto. No domínio ideacional, há, por um
lado, uma diferença na distribuição dos tipos de processo
entre as estruturas. A voz passiva sintética presta-se
melhor à representação de processos mentais que a
voz passiva analítica. Por outro lado, porém, é no âmbito
ideacional que as duas estruturas apresentam um traço comum
de significado, visto que ambas servem à representação de
um processo sem a identificação do Agente. Finalmente, no
domínio interpessoal, as estruturas se distinguem pelo fato
de que a voz passiva sintética apresenta Sujeito
indeterminado, ao contrário da voz passiva analítica. O
Sujeito indeterminado, caracterizado pela indefinição
máxima da categoria de pessoa, possibilita diferentes
efeitos de sentido no que se refere ao envolvimento
tanto do autor, quanto do leitor. Propõe-se, desse modo,
uma caracterização da voz passiva analítica e da voz
passiva sintética em termos de traços semânticos, na
forma de um sistema de três parâmetros binários,
correspondentes às três metafunções sistêmico-funcionais.
Essa análise do significado em traços independentes permite
compreender melhor a especificidade do potencial semântico
de cada estrutura, bem como a funcionalidade de cada uma no
discurso. / [en] The object of this work are the Portuguese grammatical
structures traditionally known as analytical passive
voice and synthetic (or pronominal) passive voice.
Considering their use in texts, the semantic similarities
and differences between them are analysed within a systemic-
functional framework. The study of these structures in
different journalistic genres - reports, editorials
and articles - reveals distributional differences, as
synthetic passive voice nearly does not occur in reports.
Taking this fact as evidence of the functional
nonequivalence between the two structures, the work studies
the meaning of their occurrences in context, in order to
identify the specific contribution of each type of
structure to the realization of the text meanings. The
meaning of each structure is thus analysed in its textual,
ideational and interpersonal components. In the textual
domain, analytical passive voice, which is characterized by
the conversion of the affected participant into Subject
and, consequently, into unmarked Theme, functions primarily
as a resource for placing given information before new
information, in the order of clause constituents. Synthetic
passive voice, on the contrary, does not bear this property
of turning a participant into Theme, once it is the Process
that occupies the clause first position in this structure.
In most of the occurrences of synthetic passive voice, the
constituent which would be the Subject of the correspondent
clause in analytical passive voice represents new
information. So, the two structures contribute in different
ways to the organization of the informational flow of the
text. In the ideational domain, there is, on the one
hand, a difference in the distribution of process types
between the structures. Synthetic passive voice is more
suitable for the representation of mental processes
than analytical passive voice. On the other hand, however,
it is in the ideational component that the two structures
share a semantic feature, as both of them allow
representation of a process without identification of the
Agent. Finally, in the interpersonal domain, the structures
are distinguished by the fact that synthetic passive voice
has indeterminate Subject, differently from analytical
passive voice. Indeterminate Subject, characterized by a
maximum indefiniteness of grammatical person, permits a
variety of meaning effects concerning the author`s and the
reader`s involvement. A characterization of analytical
passive voice and synthetic passive voice is thus proposed
in terms of semantic features, in a system of three
binary parameters, correspondent to the three systemic-
functional metafunctions. This analysis of meaning in
independent features allows a better understanding of
the specific semantic potential of each structure, as well
as of the functionality of each one in discourse.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:3560 |
Date | 03 June 2003 |
Creators | HELENA FERES HAWAD |
Contributors | MARIA DO CARMO LEITE DE OLIVEIRA |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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