O número de órfãos em decorrência da aids continuará a aumentar na próxima década, particularmente nos países onde não há tratamento efetivo e universal para a aids. No mundo, 14 milhões de crianças são órfãs devido à aids, a maioria delas vive em países em desenvolvimento; entretanto, no Brasil, o número de órfãos por aids não é conhecido. Este estudo objetivou identificar as características dos órfãos por aids em Porto Alegre e verificar os fatores associados à institucionalização destas crianças. Foi realizado um estudo de corte transversal das crianças de 0-15 anos de idade, filhos de indivíduos falecidos por aids no período de 1998-2001, residentes em Porto Alegre/RS. Os dados foram coletados em inquérito domiciliar com questionário estruturado. As crianças foram rastreadas a partir dos atestados de óbitos e dos registros dos Serviços de Saúde. A abordagem dos domicílios e cuidadores foi feita de modo a garantir absoluta privacidade, evitando discriminação e estigma para os órfãos e suas famílias. A proporção de órfãos/óbito de adulto foi 2:1. Do total de crianças localizadas (853), 70 por cento são órfãs de pai e 50 por cento , de mãe. Do total 20 por cento são órfãos duplos. São meninas 52 por cento . Quanto à cor da pele: pretas/pardas-56,5 por cento ; brancas 43 por cento . A idade mediana por ocasião do óbito paterno e materno foi 7 anos (0,00-19 P25=4 P75=11) e 8 anos (0,01-17 P25=5 P75=11), respectivamente. A idade média do pai por ocasião do óbito foi 36 anos (DP 8,0) e da mãe, 33,7 anos (DP 7,7); 64,0 por cento das mães e 72 por cento dos pais tinham ou tem diagnóstico de aids; 40,6 por cento das crianças vivem com a mãe, 24,5 por cento , com os avós (idade média 60 anos DP 7,45); 11,5 por cento , com tios e 5,1 por cento , em abrigos; 88,3 por cento dos cuidadores são do sexo feminino; 56,4 por cento estudaram menos de 5 anos; 58 por cento não possuem atividade remunerada; 10,2 por cento (54) das crianças que fizeram o teste anti-HIV são portadoras do HIV/Aids e, dessas, 32 por cento estão institucionalizadas; 45 por cento das crianças vivem separadas de seus irmãos. Com base na OR ajustada, pode-se estimar que ser portador do HIV/aids aumenta a ocorrência de crianças vivendo em instituição em 4,3 vezes; crianças órfãs de mãe, em 5,9 vezes, e órfãs duplas, em 3,7 vezes e ter mãe não branca, em 4,0 vezes. Há um número de órfãos considerável em Porto Alegre e as condições de vulnerabilidade persistem, pois, além de perderem seus pais, estão em famílias empobrecidas. Melhorar as condições de vida e evitar a institucionalização dos órfãos devido à aids requer intervenções que resultem no aumento da sobrevida das mulheres com HIV/aids e que fortaleça, econômica e psicologicamente, as famílias afetadas. A redução do estigma e da discriminação pelo HIV/aids é outro desafio que se têm que enfrentar. / The numbers of orphans due to AIDS will continue to increase over the next decade, particularly in countries where there is no effective and universal treatment for AIDS. Around the world, 14 million children have been orphaned due to AIDS. The majority of these children live in developing countries; This study aimed at identifying the characteristics of orphans due to AIDS in a city in Porto Alegre/RS and identify the factors associated with institutionalization of orphans due to AIDS. A cross-sectional study was made among children aged 0-15 years who are the children of all individuals that lived in Porto Alegre (State of Rio Grande do Sul) and died of AIDS during 1998-2001. The data were collected using a structured questionnaire. The children were traced via the death certificates and healthcare service records. The data were analyzed via Stata. Results: The ratio of orphans/adult deaths was 2:1. Of the total number of children located (853), 70 per cent were orphaned from their father and 50 per cent from their mother; 20 per cent were doubly orphaned. 52 per cent were girls. With regard to skin color, 56.5 per cent were black and 43 per cent were white. The median ages at the time of the mothers or fathers death were 7 years (0-19 P25=4 P75=11) and 8 years (0-17 P25=5 P75=11), respectively. The fathers mean age at the time of death was 36 years (SD=8.0), and the mothers 33.7 years (SD=7.7); 64.0 per cent of the mothers and 72 per cent of the fathers had or have a diagnosis of AIDS. 40.6 per cent of the children are living with their mother, 24.5 per cent with the grandparents (average age of 60 years; SD = 7.45), 11.5 per cent with uncles or aunts and 5.1 per cent in charitable homes. 88.3 per cent of the caregivers are female; 56.4 per cent have less than 5 years of schooling; 56 per cent do not have any remunerated activity. 10.2 per cent (54) of the children who did the anti-HIV test have HIV/AIDS and of these, 32 per cent are institutionalized. 45 per cent of the children live separated from their siblings. In multivariate analysis, HIV positive multiplied the childs chances of living in an institution by a factor of 4.3, losing its mother by 5.9, losing both parents by 3.7, and having a non-white mother by 4.0. Conclusions: This study provides population-based data on what has become of the children of persons dying of AIDS. Improving the quality of life and averting institutionalization of orphans due to AIDS requires interventions to promote the survival of mothers living with AIDS as well as specific interventions for child family placement. Reducing the stigma of HIV infection in children and racial discrimination present challenges in Brazil.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-21072009-102156 |
Date | 14 February 2005 |
Creators | Doring, Marlene |
Contributors | França Junior, Ivan |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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