Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Florianópolis, 2016. / Made available in DSpace on 2016-10-19T13:22:03Z (GMT). No. of bitstreams: 1
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Previous issue date: 2016 / Dos diversos meios pelo qual o mal-estar pode irromper na vida do sujeito, um deles refere-se às condições exteriores, como as forças da natureza. As catástrofes naturais podem ser compreendidas como eventos potencialmente traumáticos devido à severidade e intrusão na dinâmica das pessoas e grupos. Assim, costumam ter desdobramentos psicológicos importantes que podem gerar impactos na saúde mental e sofrimento psíquico diante das perdas vivenciadas, geralmente mais intensas que em outros eventos da vida. Os meios de lidar com eventos traumáticos são atravessados pela cultura, pois ela oferece rituais e discursos que orientam o sujeito, inclusive nos acontecimentos que excedem as possibilidades imediatas de representação psíquica. Porém, o processo migratório, principalmente nas migrações involuntárias, implica em diversas mudanças e pode levar o sujeito a um estado de vulnerabilidade psíquica, pois muito daquilo que o orientava em sua existência é ameaçado pelo contato com uma cultura diferente. Em janeiro de 2010 o Haiti foi atingido por um terremoto com proporções catastróficas. A dificuldade do país em responder ao ocorrido, que agravou a situação precária da maioria de sua população, levou muitos haitianos a emigrarem, sendo o Brasil um dos destinos ? ainda que provisório. O deslocamento geográfico de haitianos não é novidade, mas a motivação deste ser a ocorrência de um terremoto não é irrelevante. Nesse sentido o objetivo principal deste estudo foi analisar quais os impactos psicológicos de um terremoto que, além de levar a experiência do imprevisível pelo evento em si, foi seguido de uma migração necessária para a continuidade e reconstrução da vida. De caracterização qualitativa e exploratória, o presente trabalho buscou responder à questão por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com imigrantes haitianos que residem em uma região de Santa Catarina. Orientado pelo olhar psicanalítico e etnopsiaquiátrico procurou-se escutar a experiência desses sujeitos por intermédio de suas narrativas. Os resultados demonstram que a lembrança traumática, as perdas de pessoas próximas, casa, trabalho e educação foram acrescidas às dificuldades de uma migração que, apesar de facilitada legalmente, é vivida com dificuldade de integração pela maioria desses sujeitos. Em contrapartida, o desejo de reconstrução da história individual e coletiva se apresenta como uma importante força na vida dessas pessoas que, mesmo à distância, procuram compartilhar projetos com os conterrâneos. O contato com a rede social do país de origem foi e continua sendo um importante fator de proteção ao oferecer os elementos fundamentais de representação da experiência do terremoto e da migração. Pilares da nova casa, interna e externa, propiciam o material necessário para essa reconstrução que não cessa. O presente estudo oferece contribuições à Psicologia, no âmbito nacional, em relação aos fenômenos psíquicos que interpõem as migrações. Para tanto, leva em consideração a escuta dos aspectos referentes às diferenças culturais e o seu papel na elaboração de eventos traumáticos. Compreende um material útil para orientar discussões no âmbito das práticas de atenção à saúde, assistência social e políticas públicas de acolhimento e atenção integral, não somente dessa população específica, mas dos imigrantes e refugiados que chegam ao Brasil.<br> / Abstract : The malaise can break into the people's life by various ways, one of them refers to the external conditions such as the forces of nature. Natural disasters can be understood as potentially traumatic events due to the severity and intrusion of the event into the individual and the groups organization and relationship wise. Often they have important psychological consequences that can have an impact on mental health and psychological distress as a result of the experience of loss, usually more intense than in regular life events. The ways of dealing with traumatic events are structured by culture, since it's culture that offers rituals and discourses that guide the subject throughout life, including the unexpected events that exceed the immediate possibilities of a psychic representation. However, the migration process, especially the involuntary migration, involves several changes that can lead the individual to a mental state of vulnerability, because much of what guided him in its existence so far, is threatened by the contact with a different culture. In January 2010, Haiti was hit by an earthquake with catastrophic proportions. The difficulty of the country to respond to the event, has aggravated the precarious situation of the majority of the country's population, and led many Haitians to emigrate. Brazil became one of the destinations - even if temporary. The geographical displacement of Haitians is not new phenomenon, but having an earthquake as the main motivational element is not irrelevant. In this sense the main objective of this study was to analyses what psychological impacts the earthquake had, in addition to bringing the experience of an unpredictable event itself, followed by a migration needed for continuity and reconstruction of life. Characterized as a qualitative and exploratory research, the present study sought to answer the question through semi-structured interviews with Haitian immigrants living in a region of Santa Catarina. Guided by the psychoanalytical and etnopsychiatric theories, the study tried to listen to the experience of these individuals through their narratives. The results show that the traumatic memory, the loss of relatives, of their home, work and education were added to the difficulties of the migration that, although legally facilitated, is experienced with difficulty to the majority of these subjects during their integration process. On the other hand, the desire for reconstruction of an individual and collective history - family and also Haiti - presents itself as a major force in the lives of people who, even at a distance, seek to share projects with fellow countrymen. Contact with the social network in the country of origin has been and remains an important protection factor to provide the basic elements of representation of the earthquake experience and the migration as well. Edifications of the new house, internal and external, provide the necessary material for this reconstruction that never ceases. This study offers contributions to Psychology, at the national extent, in relation to psychic phenomena that interpose the migrations. To do so, it takes into account the listening of aspects relating to cultural differences and their role in the elaboration of traumatic events. It?s a useful material to guide discussions within the health care practices, social assistance and public policy of reception and full attention, not only for this specific population, but immigrants and refugees who come to Brazil.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufsc.br:123456789/169657 |
Date | January 2016 |
Creators | Barros, Allyne Fernandes Oliveira |
Contributors | Universidade Federal de Santa Catarina, Borges, Lucienne Martins |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Format | 127 p.| il. |
Source | reponame:Repositório Institucional da UFSC, instname:Universidade Federal de Santa Catarina, instacron:UFSC |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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