[pt] A partir do aumento no fluxo migratório venezuelano para o Brasil no início
de 2017, a mobilidade venezuelana passou a ser veiculada na mídia e reproduzida nos
discursos de autoridades governamentais brasileiras tanto como um problema e um
risco a ser controlado quanto como um imperativo para o acolhimento e proteção
dessa população vulnerável. Tais representações e discursos foram reforçados em
março de 2018 com a criação da chamada Operação Acolhida, operação logística
governamental constituída para gerenciar o fluxo das centenas de milhares de
venezuelanos adentrando as fronteiras nacionais. A fim de questionar como os
discursos de perigo e controle das fronteiras coexistem com uma lógica de acolhimento
e defesa dos direitos humanos, a dissertação analisa as práticas discursivas que
participam da construção da governança humanitária do fluxo migratório venezuelano
no Brasil, especialmente através da Operação Acolhida. Partindo de uma análise de
discurso pós-estruturalista, argumenta-se que a Operação Acolhida, ao articular uma
lógica específica de engajamento com o outro venezuelano, funciona (re) produzindo
uma representação específica do Estado e da nação brasileira. Enquanto uma prática de
construção de fronteiras e identidades, a Operação Acolhida apresenta-se, assim, como
propõe David Campbell (1992), como, uma prática de política externa e de
construção de fronteiras. Nessa perspectiva, a representação da identidade estatal não
se refere a um relato objetivo sobre como o Estado realmente é – leitura esta
dominante nos estudos de Política Externa no Brasil, mas sim como uma representação
de uma subjetividade instável, provisória e continuamente reformulada. Assim, a
dissertação contribui para pensar como as práticas de representação do eu e do
outro, do dentro e do fora, do nacional e do internacional articuladas na
Operação Acolhida, especialmente por seus atores militares, não apenas (re) produzem
o que é o problema dos refugiados venezuelanos no Brasil –e como ele deve ser
gerenciado– quanto funcionam estabilizando, provisoriamente, uma imagem – precária
e contestada - de um Brasil benevolente, acolhedor e amigo. / [en] Since the increase in the Venezuelan migratory flow to Brazil in early 2017,
Venezuelan mobility has been portrayed in the media and reproduced in the discourses
of Brazilian government authorities both as a problem and a risk to be controlled
and as an imperative for the reception and protection of this vulnerable population.
Such representations and discourses were reinforced in March 2018 with the creation
of the so-called Operation Acolhida, a government logistics operation constituted to
manage the flow of the hundreds of thousands of Venezuelans entering the national
borders. In order to question how the discourses of danger and border control coexist
with a logic of reception and defense of human rights, the dissertation analyzes the
discursive practices that participate in the construction of humanitarian governance of
the Venezuelan migratory flow in Brazil, especially through Operation Acolhida.
Starting from a post-structuralist discourse analysis, it is argued that Operation
Acolhida, by articulating a specific logic of engagement with the Venezuelan other,
functions (re) producing a specific representation of the Brazilian state and nation. As
a practice of border and identity construction, Operation Acolhida presents itself, as
David Campbell (1992) proposes, as a practice of foreign policy and border
construction. From this perspective, the representation of state identity does not refer
to an objective account of how the state really is - a dominant reading in Foreign
Policy studies in Brazil, but rather as a representation of an unstable, provisional and
continuously reformulated subjectivity. Thus, the dissertation contributes to think how
the practices of representation of self and other, of inside and outside, of
national and international articulated in Operation Acolhida, especially by its
military actors, not only (re) produce what is the problem of Venezuelan refugees in
Brazil - and how it should be managed - but also function by temporarily stabilizing an
image - precarious and contested - of a benevolent, welcoming and friendly Brazil.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:52978 |
Date | 27 May 2021 |
Creators | VICTORIA FIGUEIREDO MACHADO |
Contributors | ROBERTO VILCHEZ YAMATO, ROBERTO VILCHEZ YAMATO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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