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Previous issue date: 2010 / Trânsito musical é a expressão que utilizo para designar o conjunto de elementos musicais em processo dinâmico de compartilhamento em uma cultura musical. Os elementos musicais são as temáticas, textos, frases rítmico-melódicas, formas, texturas, toques, estilos vocais, instrumentos, conceitos e comportamentos. A cultura musical é a “afro-brasileira”, com destaque aos seus traços de origem banto, composta pelas matrizes religiosas e formas expressivas de cunho ritual, onde a música exerce papel central, comunicativo, regulador e espiritual. Procurei identificar os elementos musicais em trânsito entre a Capoeira Angola, o Samba de Roda, o Candomblé de Nação Angola e o Culto ao Caboclo, iluminando, sempre que possível, a correlação com os elementos extra-musicais presentes em seus rituais, corporeidades, cosmovisão, narrativas mítico-históricas e trajetórias. A pesquisa de campo aconteceu junto ao Grupo Nzinga de Capoeira Angola, em Salvador, BA, em 2009 e 2010, assim como no ambiente mais amplo das formas expressivas e religiões “afro-brasileiras” nesta cidade. No final da primeira década do século XXI, o trânsito musical pode ser percebido tanto como construção, expressão e legitimação de identidade quanto como manifestação da fé. Ainda, os sujeitos podem transportar tais elementos musicais motivados pelo deleite estético e desenvolvimento de competências numa forma lúdica de interação. Discuto aqui termos geralmente atribuìdos à Capoeira Angola, como “tradicional”, “popular” e “afro-brasileiro”, buscando também definir os termos “identidade” e “etnicidade” e sua relevância para a pesquisa etnomusicológica. Diversas questões atravessam o tema desta pesquisa, como a propriedade intelectual, as identidades culturais herdadas ou reflexivas e a busca por legitimidade, as reivindicações e ações dos movimentos de minoria, a Diáspora, os discursos subalternos no pós-colonialismo, a globalização, a fragmentação e o descentramento do sujeito pós-moderno e os limites entre o sagrado e o secular. O trânsito musical na Capoeira Angola é abordado também em relação às formas de manifestação do divino e da espiritualidade, sendo o transe sua forma extrema nas religiões afro-brasileiras e formas expressivas de cunho ritual. O transe é visto por estudiosos como comportamento aprendido, estado alterado de consciência e estado emocional e, pelos sujeitos que o vivenciam, como incorporação de divindades, entidades e espíritos. Procurei avaliar a possível eficácia das cantigas em trânsito entre a Capoeira Angola, o Candomblé e o Culto ao Caboclo na maior ou menor intensidade do “transe ritual” da Capoeira Angola, tomando como parâmetro o “transe de possessão” das religiões afro-brasileiras. Foi demonstrado também como a relação inerente entre a capoeira e a religiosidade “afro-brasileira” contrasta com a cooptação atual desta prática musical pelos neopentecostais, os quais utilizam sua música como ferramenta privilegiada no processo de evangelização. Algumas etnografias a partir do século XX, que documentam pontos de contato entre a Capoeira e as religiões afro-brasileiras foram visitadas para demonstrar o caráter inclusivo e tolerante desta cultura musical e religiosa, a qual reverencia não apenas as Divindades de origem africana e os Caboclos, mas também os Santos católicos, Jesus, Deus, não ignorando sequer o Diabo. A intenção é demonstrar que não basta trocar os textos das cantigas, evitando fazer menção aos Inquices, Orixás e Caboclos para negar a relação da Capoeira com as religiões afro-brasileiras, pois existe ampla gama de aspectos menos explícitos que confere unidade a esta cultura musical. / Salvador
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:192.168.11:11:ri/7866 |
Date | January 2010 |
Creators | Diniz, Flávia Cachineski |
Contributors | Garcia, Sonia Maria Chada |
Publisher | Universidade Federal da Bahia |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Repositório Institucional da UFBA, instname:Universidade Federal da Bahia, instacron:UFBA |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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