No decorrer da história da humanidade, acompanha-se o nascimento de novos (e velhos) discursos sobre a loucura. Porém, foi na era moderna que o campo da saúde testemunhou o desenvolvimento de um discurso que se tornaria hegemônico, o qual via a loucura como doença mental. Para isso, desenvolveu-se instituições e instrumentos especializados de tratamento. Com o surgimento do movimento de reforma psiquiátrica, nos últimos 20 anos, procurou-se reorientar o saber e o fazer com relação à loucura, buscando romper com a visão altamente hospitalocêntrica do cuidado e direcionando a assistência para o contexto da comunidade. Por ser um movimento que porta, no seu interior, contradições inerentes ao seu caráter dialético, a mesma reforma que cria possibilidades de transformação do saber e da prática em saúde mental, corre o risco de cair na inércia, que mantém relações estreitas com modelos tradicionais antagônicos a ela. Nesse sentido, este estudo pretende analisar os discursos sobre a prática de trabalhadores de saúde mental no contexto social da reforma psiquiátrica. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, na qual foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas a 17 de 25 trabalhadores de saúde mental de um serviço substitutivo da cidade de Joinville/SC. O referencial teórico-filosófico deste estudo foi a análise crítica de discurso. A análise do corpus foi realizada com o desenvolvimento de um dispositivo chamado de diagrama axiológico-discursivo. Optou-se por analisar o corpus a partir de quatro eixos temáticos, a saber: representações sobre os usuários, as famílias, a prática dos trabalhadores e o serviço. Para cada uma delas, chegou-se aos seguintes discursos prototípicos, com suas respectivas combinações axiológicas: benevolência (não-negativo), distanciamento (negativo), incerteza (não-positivo) e inovação (positivo). A análise foi realizada através da interpretação das principais estruturas linguísticas que representassem cada discurso prototípico e cada dimensão axiológica identificada, orientada a partir das premissas do referencial teórico-filosófico escolhido. Espera-se que este estudo possa contribuir para o avanço das pesquisas de abordagem qualitativa na área da saúde e para refletir sobre o processo de consolidação da reforma psiquiátrica no contexto brasileiro. / In the history of humankind, several new (and old) discourses about madness have arisen. However, it was in modern age that the field of health witnessed the development of a discourse that would become hegemonic, which realized madness as a mental disorder. With this purpose, several specialized treatment institutions and tools were developed. With the emergence of the psychiatric reform movement, over the last 20 years, an effort has been made to give a new direction to knowledge and actions relating to madness, with the aim to break with the highly hospital-centered view of health care and targeting care services toward the context of community. Since it is a movement that holds contradictions inherent to its dialectic character, the reform that offers possibilities of changing mental health knowledge and practice is also at the risk of falling within the inertia that maintains close relations with antagonist traditional models. In this sense, the aim of this study is to analyze the discourses about mental health workers within the social context of the psychiatric reform. This is a qualitative study, which used semi-structured interviews with 17 of a total 25 mental health workers from a substitutive service in the city of Joinville, in the state of Santa Catarina. The theoretical-philosophical framework of this study was critical-discourse analysis. The corpus analysis was performed by developing a device called axiological-discourse diagram. The corpus was analyzed based on four theoretical axes, which were: representations about the users, the families, the workers practice and the service. For each of them, the following prototypic discourses were achieved, with their respective axiological combinations: benevolence (non-negative), withdrawal (negative) uncertainty (non-positive), and innovation (positive). The analysis was performed through the interpretation of the main linguistic structures that represented each prototypic discourse and each identified axiological dimension, guided based on the premises of the chosen theoretical-philosophical framework. It is expected that this study will contribute with the advancement of qualitative approach studies in the health area and with reflections about the process to consolidate the psychiatric reform in the Brazilian context.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-30062009-103643 |
Date | 09 June 2009 |
Creators | Leandro Barbosa de Pinho |
Contributors | Luciane Prado Kantorski, Antonio Miguel Bañon Hernandéz, Toyoko Saeki, Graciette Borges da Silva, Christine Wetzel |
Publisher | Universidade de São Paulo, Enfermagem Psiquiática, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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