O diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) apresentou um expressivo crescimento durante a última década (LEGNANI et al., 2006), tornando-se o mais frequente dos transtornos psiquiátricos tratados em jovens (ROHDE et al., 2007). Dados epidemiológicos apontam para prevalência mundial de 4% a 10% entre crianças. Os desdobramentos dessa epidemia diagnóstica não são sem efeitos para a criança e seu corpo. Temos, do lado da família e da escola, uma criança tida como insuportável, que não para e que ninguém consegue controlar; via de regra, esta última não é escutada, mas julgada a partir de seus comportamentos. O desejo tanto do lado da escola como do da família é silenciar a criança e sua agitação. E a resposta a essa demanda vai ser encontrada junto ao saber médico-científico que, consoante à lógica do discurso capitalista de mercados, que tende a simplificar para gerir, tem uma resposta clara e objetiva: trata-se de um transtorno neurobiológico que deve ser tratado via medicação e terapia cognitivo-comportamental. Essa pesquisa tem como objetivo debater de forma crítica a homogeneização da criança sob o diagnóstico de TDAH no discurso médico-científico, trazendo rigor e formalizando a discussão, tanto no âmbito clínico, em que há uma redução do sujeito e seu sofrimento a processos neuroquímicos, como no campo político, no qual a articulação entre saber e poder, evidenciada pela medicalização da existência, permanece oculta sob o véu do discurso da neutralidade científica. A partir de recortes da experiência da clínica psicanalítica de orientação lacaniana com crianças procurou-se restaurar a complexidade da leitura da produção sintomática de um sujeito, articulando-a a um modo de gozo e ao desejo do Outro. Nesse sentido foi possível formalizar que se trata de sujeitos que, de modo singular, renunciam ao seu espaço e à apropriação/subjetivação de seu corpo para gozar e servir ao gozo ao Outro. Quando consideramos o eixo político, podemos pensar a medicalização do desvio como uma construção social que evidencia um momento singular da evolução da cultura e da função social da medicina, em que o aumento do poder médico sobre a regulação de condutas e comportamentos passa a ter uma função de normalização psíquica, constituindo um novo sintoma no laço social / The diagnosis of attention-deficit hyperactivity disorder (ADHD) has showed a significant growth over the last decade (LEGNANI et al., 2006), making it the most common psychiatric disorder treated in young people (ROHDE et al., 2007). Epidemiological data indicate a global prevalence of 4 % to 10 % among children. The consequences of this epidemic of diagnosis are not without effects on the children and their body. We have, on the side of the family and school, a child seen as \"unbearable,\" unstoppable and uncontrollable. By and large, these children are not heard, but judged from their behaviour. That which the school and the family desire is to mute this children and \"their agitation.\" And the answer to this demand will be found in the medical-scientific discourse which, in line with the logic of capitalist market discourse, which tends to simplify to manage, has a clear and objective answer: it is a neurobiological disorder that should be treated via medication and cognitive behavioural therapy. The present research aims to critically discuss the homogenization of the child under the ADHD diagnosis in the medicalscientific discourse, bringing rigor and formalizing the discussion both in the clinical setting, where the subject and his suffering are reduced to neurochemical processes, and in the political field, in which the relationship between knowledge and power, as evidenced by the medicalization of existence, remains hidden under the veil of the discourse of scientific neutrality. Based on the experience of clippings of Lacanian psychoanalytic clinical guidance with children, we sought to restore the complexity of reading a symptomatic production of a subject, linking it to a mode of enjoyment and desire of the Other. In this sense, it was possible to formalize that these subjects who, in a unique way, give up their space and the appropriation/subjectivization of their body to enjoy and serve the jouissance of the Other. In relation to the political axis, we can consider the medicalization of deviance as a social construct that reflects a unique moment in the evolution of culture and the social function of medicine, in which the increased medical power over the regulation of conduct and behaviour acquires a function of psychic standardization, thereby creating a new symptom in the social bond
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-03122014-150050 |
Date | 29 April 2014 |
Creators | Lacet, Cristine Costa |
Contributors | Rosa, Miriam Debieux |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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