A obra contística de José Rodrigues Miguéis, construída toda ela sob o signo do exílio, traz a marca da ambivalência nas cinco coletâneas publicadas uma a cada década de sua vida literária: Onde a Noite se Acaba (1946), Léah e Outras Histórias (1958), Gente da Terceira Classe (1962), Comércio com o Inimigo (1973) e Pass(ç)os Confusos (1982, póstuma). O tempo convulso e o espaço de desfazimentos que permeiam a diegese projetam, à luz da teoria de Bakhtin desenvolvida em Questões de Literatura e de Estética (A Teoria do Romance), configurações cronotópicas capazes de suscitar a imagem do estrangeiro em busca de um lugar de realização. É pela porta dos cronotopos que se vê o ciclo desventurado do sujeito migueisiano, cuja sina marcada pela viagem-desencontro-agonia irmana-se à dinâmica do exílio social-psicológico-metafísico. Em uma época de tantas guerras e tiranias, onde a realidade do não-lugar contrapõe-se ao sonho da reintegração, ao emigrante desterrado de si mesmo e do mundo resta a memória forte ou a arte para recuperar aquilo que perdeu. Nesse cenário de incertezas o estigma do despertencimento ultrapassa a contingência pessoal dos narradores ou personagens centrais para se tornar um elemento simbólico da condição humana. / The tales of José Rodrigues Miguéis, constructed under the sign of exile, bear the mark of ambivalence in the five collections published once every decade of his literary life: Onde a Noite se Acaba (1946), Léah e Outras Histórias (1958 ), Gente da Terceira Classe (1962), Comércio com o Inimigo (1973) and Pass(ç)os Confusos (1982, posthumous). The convulsive time and space of breakdowns that permeate diegese project, in the light of Bakhtin\'s theory developed in Questões de Literatura e de Estética (A Teoria do Romance), chronotopic configurations capable of eliciting the image of the foreigner in search of a place of achievement. It is through the door of the chronotopes that one sees the unfortunate cycle of the Miguéisian subject, whose fate marked by the trip-disconcert-agony joins the dynamics of social-psychological-metaphysical exile. In a time of so many wars and tyrannies, where the reality of non-place is opposed to the dream of reintegration, fort the emigrant exiled from himself and from the world remains strong memory or art to recover what he lost. In this scenario of uncertainties, the stigma of non-belonging goes beyond the personal contingency of narrators or central characters to become a symbolic element of the human condition.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-23062017-125631 |
Date | 20 April 2017 |
Creators | Laerte Fernando Levai |
Contributors | Raquel de Sousa Ribeiro, Aurora Gedra Ruiz Alvarez, Humberto Lima de Aragão Filho, Elisabeth Brait, Lenia Marcia de Medeiros Mongelli |
Publisher | Universidade de São Paulo, Letras (Literatura Portuguesa), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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