Este trabalho analisa a pertinência e a intensidade da interferência das relações de gênero nas jornadas e nos ritmos definidores do trabalho docente. Situado entre os estudos da Sociologia da Educação, do Trabalho e da Família, inicia a reflexão sobre o conceito de gênero, articulado pelas teóricas feministas Joan Scott e Linda Nicholson; de divisão sexual do trabalho e suas conseqüências na vida de homens e mulheres, defendidos por Helena Hirata, Danièle Kergoat, Elizabeth Souza-Lobo, Joan Scott, Cristina Bruschini, Bila Sorj, dentre outros; e da noção de tempo, desenvolvida por Norbert Elias e Alberto Melucci. Em seguida, baseado em levantamento sobre a produção acadêmica acerca do trabalho docente sob a ótica das relações de gênero, constata as lacunas dessa produção sobre os tempos de trabalho, analisa a trajetória de constituição do trabalho docente e mostra os significados femininos e masculinos que o perpassam. A pesquisa empírica de caráter qualitativo foi desenvolvida com professoras e professores de Ensino Fundamental II de uma escola municipal da zona sul de São Paulo, durante os anos de 2006 e 2007. Os dados foram obtidos por meio de questionários, diários de uso do tempo, entrevistas semi-estruturadas e diário de campo. O estudo de Cláudio Dedecca sobre tempo, trabalho e gênero forneceu os elementos para a construção dos conceitos analíticos. A maioria dos docentes - homens ou mulheres - possui extensas jornadas de trabalho total, decorrentes, em parte, dos baixos salários. Além dos serviços escolares realizados em casa, recorrentes nas jornadas de todo o grupo, professoras e professores possuem também extensas jornadas de trabalho para a reprodução social, mesmo que em graus variados. A importância da articulação entre as diversas dimensões do tempo na vida dos sujeitos, apontada por Dedecca, considerando a tensão existente entre elas, possibilitou reconhecer a necessária separação entre trabalho feminino e trabalho masculino. No entanto, a análise do cotidiano das professoras e dos professores pesquisados permitiu questionar uma característica ressaltada pela maior parte dos estudos focados no trabalho fora da docência : a dicotomia entre tempos de trabalho econômico maiores -- que supõem trabalho remunerado e tempos de deslocamento -- para os homens e, para as mulheres, tempos de trabalho para a reprodução social maiores, que incluem o trabalho doméstico e o cuidado com filhos, precisa ser problematizada, ao menos no que se refere aos docentes pesquisados. Ademais, as políticas públicas, educacionais e sociais, para garantir igualdade de oportunidades e condições de vida para os professores e as professoras, precisam considerar a articulação entre as esferas da produção e da reprodução. / This research analyzes the pertinence and intensity of how gender relations interfere with the shifts and rhythms that define the teaching work. Located in between the studies in Sociology of Education, Labor and Family, it starts thinking over the concept of gender, as proposed by feminist theorists Joan Scott and Linda Nicholson; of sexual division of labor and its consequences in the life of men and women, as defended by Helena Hirata, Danièle Kergoat, Elizabeth Souza-Lobo, Joan Scott, Cristina Bruschini, Bila Sorj, among others; and the notion of time, developed by Norbert Elias and Alberto Melucci. Next, based on a survey of the academic production on teaching work under the viewpoint of gender relations, the research finds the gaps in such production about the working times, analyzes how the teaching work is instituted, and shows the feminine and masculine meanings that are intertwined in it. Empirical data are of qualitative nature and were collected among male and female middleschool teachers in a public institution in south area of the city of Sao Paulo, in 2006 and 2007. Data were acquired by means of questionnaires, diaries were the use of time was written down, semi-structured interviews and field diary. The study by Cláudio Dedecca about time, labor and gender provided the elements to construct the analytical concepts. Most teachers - either male or female - have extensive hours of total work partly as a result of their low wages. In addition to the school services they perform at home, which are recurring in the shifts in the entire group, teachers also face many hours of social reproduction work, even if in a diversity of degrees. The importance of the articulation between the several dimensions of time in the life of the subjects, pointed out by Dedecca, considering the tension between them, has allowed the acknowledgment of the necessary separation between feminine work and masculine work. However, the analysis of the everyday life led by male and female teachers taking part in the research allows one to think about a characteristic highlighted by most studies focusing on work, other than teaching work: the dichotomy between the times of economic work that are longer for men, which assume waged work and times of movement, and time of work for social reproduction that are longer for women, which include home chores and taking care of children. This needs to be questioned, at least in the face of what teachers have responded. Moreover, educational and social public policies, in order to ensure equal opportunities and living conditions for male and female teachers, have to consider the articulation between the spheres of production and reproduction.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-13062008-155413 |
Date | 14 March 2008 |
Creators | Carolina Faria Alvarenga |
Contributors | Claudia Pereira Vianna, Celso João Ferreti, Carmen Sylvia Vidigal Moraes |
Publisher | Universidade de São Paulo, Educação, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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