O eixo principal que estrutura este trabalho é, num sentido amplo, a busca pelo entendimento dos modos de dominação característicos das sociedades modernas. É nessa direção que retomamos a clássica noção de ideologia cunhada em seu teor crítico pela obra de Karl Marx , pois ela aponta, no interior das sociedades capitalistas, para o processo social de produção de ideias, valores e representações cuja função é ocultar e legitimar as divisões de uma determinada ordem social. Nosso objetivo é acompanhar os desdobramentos desse debate na cena francesa do século XX, elegendo duas importantes contribuições: uma fornecida pelo filósofo Claude Lefort, outra, pelo sociólogo Pierre Bourdieu. Embora situados em campos disciplinares diferentes, os trabalhos de Lefort e Bourdieu confluem em direção a uma reformulação das bases a partir das quais os fenômenos ideológicos são tratados, ampliando as perspectivas de análise e lançando uma nova luz sobre eles. Tecida por uma relação crítica com o marxismo, a trajetória lefortiana permite acompanhar o trabalho histórico de um pensamento que busca apreender o surgimento, a especificidade, as formas e as transformações da ideologia nas sociedades modernas. Os trabalhos de Bourdieu, por sua vez, desvelam e caracterizam o modo de dominação moderno concebido enquanto violência simbólica, fenômeno baseado no acordo objetivamente orquestrado entre as estruturas sociais objetivas e as estruturas cognitivas dos agentes. Envolvendo e ultrapassando a noção de ideologia, a violência simbólica é operante na medida em que os agentes participam da dominação e conferem a ela um reconhecimento baseado no desconhecimento dos mecanismos pelos quais a ordem social se produz, reproduz e se legitima. Situando suas heranças e distanciamentos perante a tradição inaugurada por Marx, buscamos refletir sobre o alcance das concepções que esses dois pensadores nos legaram: ideologia enquanto recusa da historicidade, do conflito e da indeterminação constitutiva do político, em Lefort, e enquanto conjunto de práticas e estilos de vida fundados na dominação simbólica, em Bourdieu. / This work is structured, in a broad sense, as an attempt to understand the modes of domination characteristic of modern societies. It is in this perspective that we take into account the classical notion of ideology, as it was critically developed by Karl Marx. This term points out the social process of production of ideas, values and representations within capitalist societies, whose function consists in hiding and legitimizing the divisions of a social order. Our aim is to follow the developments of this debate in the French philosophical scene of the twentieth century, choosing two important contributions in particular: one provided by the philosopher Claude Lefort, another by the sociologist Pierre Bourdieu. Although located in different fields, Bourdieu and Lefort\'s works converge towards a reformulation of the bases from which the ideological phenomena are conceived, by enlarging the analytical perspectives and casting a new light on them. In a constant critical relationship with the Marxism, the lefortian trajectory allows us to follow the historical movement of a thought, which seeks to apprehend the rise as well as the specificities, forms and transformations of ideology in modern societies. The work of Bourdieu, in turn, unveils and characterizes the modern way of domination conceived as a symbolic violence; it is a phenomenon based on the agreement objectively orchestrated between social structures and the cognitive structures of agents. Involving and overcoming the notion of ideology, the concept of symbolic violence becomes effective when the agents participate in the domination. They give it a recognition based on ignorance of the mechanisms by which social order is produced, reproduced and legitimized. Considering the heritages and distances of the two thinkers with reference to a tradition inaugurated by Marx, we try to reflect on the scope of the main concepts that they leaved us: ideology as a refusal of historicity, of conflict and of political indeterminacy in Lefort, and as a set of practices and styles of life grounded in symbolic domination in Bourdieu.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-09062015-120030 |
Date | 30 January 2015 |
Creators | Martha Gabrielly Coletto Costa |
Contributors | Marilena de Souza Chaui, Sylvia Gemignani Garcia, Renata Schlumberger Schevisbiski |
Publisher | Universidade de São Paulo, Filosofia, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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