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O corpo anatomoclínico : uma análise dos saberes e práticas em uma disciplina de anatomia da medicina

Produzimo-nos tanto culturalmente como biologicamente e é sobre a discussão dessa fabricação – de saberes que constroem o corpo, mas principalmente os saberes submetidos às normas científicas – que se trata essa dissertação. Apresentando a delimitação do meu objeto de pesquisa, deparei-me com a constatação de que os cursos de graduação da área da saúde, em sua maioria, têm a disciplina de Anatomia como introdutória ao currículo de formação; e as mesmas são, em sua quase totalidade, ministradas por médicos. Em tais condições, penso que muitas vezes é nessa disciplina que os alunos têm os primeiros contatos mais diretamente com o corpo humano e a inúmeros saberes a ele relacionados, saberes estes pautados em uma perspectiva médica. Acredito, assim, que a construção do conhecimento proposta nestas condições estabelece uma série de significações que geram efeitos na produção e compreensão sobre o corpo e na subjetivação desses sujeitos e suas práticas. Para tanto, trago como objetivo compreender como vêm sendo produzidos os saberes sobre o corpo em uma disciplina de Anatomia de um curso de graduação em Medicina. Na busca do cumprimento de tal objetivo, busquei compreender como se estabelece/estabeleceu a legitimidade de quem pode ou não falar do/sobre corpo neste âmbito; assim como, investigar alguns atravessamentos histórico-sociais que estavam em funcionamento naquele contexto e, portanto, na constituição desses saberes; e, ainda, identificar como se dava a pedagogização do corpo nessa disciplina. Para realização desta pesquisa busquei experimentar a pluralidade dos acontecimentos decorridos, procurando não estabelecer tópicos a priori; compreendendo a importância da imersão no campo, no contexto onde os acontecimentos se produzem. Nessa perspectiva, realizei a observação das aulas da disciplina de Anatomia de um curso de graduação em Medicina, durante um semestre, visando olhar o contexto enquanto ele acontecia, um trabalho de campo participante de inspiração etnográfica. Neste estudo falo sobre como se dá a legitimidade de falar do/sobre corpo e dos modos de subjetivação que constituem o sujeito médico. Trato da produção de um aprendizado anatômico alicerçado no estudo prático/demonstrativo e sobre como os indivíduos vêm sendo produzidos e ensinados a pensar no laboratório. Assim como, falo do uso e posicionamento da linguagem científica e da utilização e articulação de técnicas pedagógicas para construir o objeto a conhecer. Com a realização deste estudo passei a compreender a produção de um corpo que chamei de anatomoclínico; assim denomino esse corpo dada sua imbricação com a Anatomia e com a clínica, mas principalmente dado o olhar que constituímos na produção deste corpo, um corpo anatômico que é padrão e tudo que desviar desta estandardização deve ser diagnosticado, subsidiado pela conformação do olhar clínico. Descrevemos, nomeamos, classificamos e organizamos uma configuração da doença. Um corpo que deve seguir uma normalidade, mas que às vezes é variante, desviante. Um corpo que segue estágios vitais e deve desenvolver-se conforme uma suposta linearidade biológica. Um corpo que responde ao trauma e se modifica, um corpo disfuncional (pois tem funções bem delimitadas e específicas). Também é um corpo que pode e deve ser diagnosticado. Um corpo que experimenta interferências: pode ser esquadrinhado, tornado visível, anatomizado, pode sofrer incisões, intervenções cirúrgicas, pode ser anestesiado e apresentar intercorrências. esse corpo não é apenas anatômico, é um corpo anatomoclínico. É muito mais do que um corpo passível de doenças, é um corpo que se presta à clínica, é um corpo diagnosticável, e só existe a partir do olhar anatomoclínico. / Producing ourselves either culturally or biologically and is about the discussion of such production – the knowledge that build up the body, but primarily the knowledge which are subject to scientific standards – what this dissertation is about. By showing the delineation of my research object, I came upon the fact that the graduation courses under health area, in their majority, have Anatomy classes as the introductory training curriculum; and they are, almost in its entirety, taught by doctors. In such conditions, I believe that students often have their first contact with the human body and many associated knowledge more directly attending this classes, such topics all based on a medical perspective. Therefore, according to my observation, the construction of the knowledge proposed under these circumstances establishes a series of meanings that generate effects in the constitution and understanding of this body and the subjectivities of these individuals and their practices. To this end, I have aimed to understand how such knowledge about the body in the Anatomy subject in a Doctor School course has been produced. In order to achieve my study goal, I sought to understand how the legitimacy of who can and can't talk about the body in this context is either settled or established; as well as investigating some social-historical crossings that were happening in that context and, therefore, in the constitution of such knowledge; and also, identify how these teaching methodologies and the way they look at the body in this subject become a pedagogy process. In order to carry out this survey I looked for in the plurality of elapsed events experience, seeking to establish a set priori topics; understanding the importance of immersion in the field, in the context where the events take place. In this perspective, I have attended as an observer some Anatomy classes from Medicine course, during a semester; to observe this context while it was happening, like taking part in the fieldwork through an ethnographic inspiration. In this study speak on how to give legitimacy to speak of / on body and subjective modes that constitute the subject physician. Tract the production of an anatomical learning grounded in the practical / demonstration study and how individuals are being produced and taught to think in the laboratory. As I talk of the use and placement of scientific language and the use and articulation of pedagogical techniques to build the object to be known. Through the completion of this study I have understood the production of a body which I have named anatomical/clinical; thus I name it due to its closeness to Anatomy and the clinic, but mainly because of the point of view we have been building up from this body, a standardized anatomical body from which whatever is different from it must be diagnosed by a clinical eye. We describe, name, rank and organize a configuration of the disease. A body that must follow normality, but that sometimes it varies, deviant. A body that follows vital stages and should develop itself according to a hypothetical biological linearity. A body that responds to trauma and changes, a dysfunctional body (as it has well-defined and specific functions). It is also a body that can and should be diagnosed. A body that is experiencing interference: it can be scanned, become visible, anatomized, it can suffer incisions, surgical interventions, it can be anesthetized and present complications. Then, this body is not just anatomical, is an anatomical and also clinical body. It is much more than a body prone to disease, it is a body that lends itself to the clinic, it is a diagnosable body, and exists only from the such perspective.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/122344
Date January 2015
CreatorsSilva, Fernanda Ramires da
ContributorsSusin, Loredana
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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