[pt] Esta dissertação mapeia relações entre o movimento antropofágico e o
movimento eugenista no contexto entreguerras no Brasil. A eugenia, ciência do
aprimoramento da raça, predominava nos meios científicos mundiais e nacionais,
enquanto a Antropofagia representava, no campo cultural, uma ampliação e
amadurecimento ideológico do modernismo brasileiro. Assim como na geração de
1870, que buscou interpretar o Brasil através da aplicação de preceitos científicos
na crítica literária, na geração de 1920 as questões culturais e raciais retornaram
com mesmo léxico. A intelectualidade letrada e científica do país, impulsionada por
um surto de modernização do Estado (maximizado ao fim da primeira guerra),
ganhou um novo fôlego para reverter a imagem do Brasil como uma nação atrasada,
devido às alegações fatalistas sobre o clima, a miscigenação e a herança colonial.
Simultaneamente, pensava-se em resolver a falta de coesão entre os elementos
étnicos, intensificada após uma larga imigração europeia. Através da análise do
periódico paulista, Revista de Antropofagia, e de seus suplementos literários em
outros estados (pouco considerados pela crítica), é possível perceber que ambos os
grupos, com perspectivas heterogêneas e até divergentes internamente, encontraram
uma confluência ao debater a formação de uma raça brasileira essencialmente
mestiça, forte e original, dotada de uma unidade moral e espiritual. Tal aproximação
entre a Antropofagia e a eugenia colabora para a compreensão dos motivos pelos
quais a valorização da herança negra e ameríndia dentro da brasilidade modernista
(absorvida pelo Estado a partir de 1930), longe de ter rompido com os preconceitos
raciais, culminou na legitimação de um modelo peculiar de neutralização das
alteridades através da devoração. / [en] This dissertation maps the relations between the Antropophagy(Anthropophagic Movement) and the Eugenics Movement in Brazilian interwar context. Eugenics, is the science of racial improvement, predominated in bothglobal and national scientific circles, while Anthropophagy represented, in thecultural field, an expansion and ideological maturation of Brazilian Modernism s.Similar to the generation of the 1870s, which sought to interpret Brazil through the application of scientific principles in literary criticism, in the 1920s, cultural and racial concerns resurfaced with the same lexicon. The country s literary and scientific intelligentsia, driven by a modernizing surge from the State (which was maximized after the First World War), gained new impetus to reverse the image of Brazil as a backward nation due to fatalistic claims about the climate,miscegenation, and colonial heritage. Simultaneously, there was a desire to address the lack of cohesion among ethnic elements, intensified after a significant European immigration. Through the analysis of the São Paulo s literary journal Revista de Antropofagia and its literary supplements in other states (often overlooked bycritics), it is possible to perceive that both groups, with heterogeneous and eveninternally divergent perspectives, found a confluence when discussing the formation of a Brazilian race that is essentially strong, miscegenation-driven, and endowed with moral and spiritual unity. This convergence between Anthropophagy and eugenics contributes to the understanding of why the valorization of Black and Amerindian heritage within Modernism s Brazilianness (incorporated by the Statestarting from 1930) far from breaking with racial prejudices, culminating in the legitimation of a peculiar model of neutralizing otherness through devouring.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:64884 |
Date | 14 November 2023 |
Creators | TAINA CAVALIERI FARIA |
Contributors | FREDERICO OLIVEIRA COELHO, FREDERICO OLIVEIRA COELHO, FREDERICO OLIVEIRA COELHO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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