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Ciência e valores na história da fissão nuclear

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Florianópolis, 2016. / Made available in DSpace on 2016-09-20T04:46:19Z (GMT). No. of bitstreams: 1
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Previous issue date: 2016 / A relação entre ciência e valores sempre foi, de certo modo, atribulada. Enquanto positivistas não concediam que juízos de valor pudessem fazer parte da prática científica, os primeiros pós-positivistas chocaram o mundo filosófico ao não apenas defender que juízos de valor ocorrem na ciência, como fazem parte da atividade cotidianamente. Racionalidade e objetividade da ciência passaram a ser questionadas em razão dessa intrusão dos valores na atividade científica. Interessantemente, Thomas Kuhn associou, epistemologicamente, racionalidade e objetividade aos juízos de valor que se sucedem na ciência. Sua incipiente defesa foi alvo de críticas, mas bastante profícua: uma série de novos trabalhos sobre a relação foram desenvolvidos buscando uma terceira e mais razoável via entre o positivismo e pós-positivismo. Neste trabalho, são apresentadas as ideias seminais de quatro filósofos que analisaram o papel dos valores na atividade científica: Thomas Kuhn e as primeiras ideias, McMullin e seu argumento realista científico crítico, Larry Laudan e o modelo reticulado de justificação e Helen Longino e o papel constitutivo de determinados valores e da intersubjetividade na busca pela objetividade da ciência. São quatro teses que, apesar de muito distintas, podem promover novas perspectivas na análise da história da ciência e, em especial neste trabalho, da fissão nuclear. Em 1934, bombardeando núcleos de urânio com nêutrons, esperando torná-los artificialmente radioativos, o físico italiano Enrico Fermi e seus colaboradores comunicaram ter produzido os primeiros elementos transurânicos; a química analítica alemã Ida Noddack, no entanto, redigiu um trabalho em resposta às investigações do grupo romano, criticando as escolhas experimentais e as interpretações do grupo, levantando inclusive a hipótese de que uma quebra do núcleo irradiado pudesse ter ocorrido. Apesar das robustas críticas, seu trabalho teve pouca repercussão na comunidade e os transurânicos de Fermi foram reconhecidos como parte do cânone da ciência nuclear pelos cinco anos que se seguiram. Foram necessárias alterações na própria física nuclear, além do intenso trabalho em grupo da física austríaca Lise Meitner com seu colaborador, o químico alemão Otto Hahn (e mais tarde, o também químico Fritz Strassmann) para que os enigmáticos transurânicos fossem finalmente interpretados enquanto produtos da cisão dos núcleos. Desde uma perspectiva axiológica da filosofia da ciência, certos aspectos da história da fissão podem esclarecer diversos e interessantes pontos das teses filosóficas descritas e salvaguardar a racionalidade e a objetividade neste episódio de aparente ilogicidade. O momento histórico em que se desenrolaram tais pesquisas permite também compreender a dimensão contextual de determinados valores que tiveram impacto na ciência nuclear da década de 1930. Essa profusão de aspectos é tratada, de um ponto de vista educacional, em todos os quatro artigos que constituem esta tese, e aprofundado no quinto artigo, que trata da construção, implementação e avaliação de uma unidade de ensino potencialmente significativa, direcionada a pesquisadores da área. Esse curso busca salientar, através da discussão de artigos, elaboração de mapas conceituais e proposição de novas unidades de ensino, a pertinência da análise axiológica da história da ciência como pilar para a a educação em ciências. Embora a área de educação científica tenha uma inclinação histórica à aproximação com a filosofia da ciência, a relação entre ciência e valores - muito importante nos quadros atuais da filosofia ? tem sido mera figurante nas pesquisas com educação.<br> / Abstract : It has always been somewhat troubling to associate Science and values. While positivists did not grant that value judgments could be part of scientific practice, the first post-positivist philosophers shocked the world not only defending the occurrence of value judgements in Science, but also understanding it as a typical part of the activity. As a consequence, science s rationality and bojectivity began to be questioned. Interestingly, Thomas Kuhn epistemologically associated rationality and objectivity to the value judgments that succeed in science. His fledgling defense was very criticized, but also very fruitful: a series of new works on the relationship were developed seeking a third and most reasonable route between positivism and post-positivism. This work presentes the seminal conceptions on Science and values of four philosophers: Thomas Kuhn and the first ideas, McMullin and the critical scientific realism argument, Larry Laudan and the reticular model of justification, and Helen Longino and the constitutive role of particular values and intersubjectivity in the quest for objectivity. These are four theses which, although very different, may lead to new perspectives in the analysis of the history of science and, particularly in this work, of nuclear fission. In 1934, bombarding uranium nuclei with neutrons in the hopes of making them artificially radioactive, Italian physicist Enrico Fermi and his colleagues reported that they had produced the very first transuranic elements; German analytical chemist Ida Noddack, however, wrote a paper in response criticizing the experimental choices and interpretations of the group, even raising the possibility of a major rupture of the studied nuclei as an alternative interpretation. Despite those robust criticisms, her work had little impact in the community, and Fermi s transuranics were recognized as part of the canon of nuclear science during the five following years. It took profound changes in nuclear physics itself, in addition to the intensive colaborative work of Austrian physicist Lise Meitner and German chemist Otto Hahn (and later on, German chemist Fritz Strassmann) so that the enigmatic transuranics were finally interpreted as products of nuclear fission. From an axiological perspective of the philosophy of science, certain aspects of the history of fission can clarify many interesting points of the described philosophical theses and safeguard the rationality and objectivity in this episode of apparent illogicality. The historical moment when those investigations took place also allows an understanding of the contextual dimension of certain values that impacted on the nuclear science of the 1930 s. The first four chapters, although centered in philosophical and historical aspects, also approach the perspectives of this discussion to Science education. The fifth chapter, however, mostly aims an educational point of view, as it describes the development, implementation, and evaluation of a potentially meaningful teaching unit, offered as a workshop to sience education scholars. With the discussion of the first four chapter, the elaboration of conceptual maps, and the proposition of new teaching units on science and values, this workshop enphasizes the importance of the axiological analysis of the history of Science as a groundstone for the Science education. Even though there s a tendency in Science education of approximation to History and Philosophy of Science, the important relationship of Science and values has only played a supporting role in Science education research.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufsc.br:123456789/168030
Date January 2016
CreatorsCordeiro, Marinês Domingues
ContributorsUniversidade Federal de Santa Catarina, Peduzzi, Luiz Orlando de Quadro
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Format228 p.| il.
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFSC, instname:Universidade Federal de Santa Catarina, instacron:UFSC
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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