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"O privilégio de reinventar a poesia" : vanguarda pop e reestruturação do tempo histórico na arte em New York nas décadas de 1960 e 1970

O presente trabalho tem o objetivo de analisar uma cena de poesia experimental desenvolvida em Nova York, na parte sul de Manhattan, especificamente o East Village, entre meados dos anos 1960 e meados dos anos 1970. Neste contexto, surgiram algumas comunidades poéticas que se caracterizavam por experimentalismos linguísticos, valorização da vida cotidiana na lírica poética, projetos de leitura e performance poética e formalismo linguístico, que visava alcançar uma nova vanguarda literária. Esta análise divide-se em três momentos, que procuram abarcar este fenômeno histórico: em primeiro lugar, trato dos primeiros movimentos desta cena de poesia, conhecido como New York School of Poets, que se organizou, ainda no final dos anos 1950, em torno dos poetas John Ashberry, Frank O´Hara, Kenneth Koch e James Schuyler, que organizaram a primeira revista independente e mimeografada, chamada Locus Solus, entre 1961 e 1962. Esta geração de poetas, seguindo o estilo francês do início do século, aproximava-se esteticamente da escola de pintores em voga da época, que no caso nova-iorquino, era o expressionismo abstrato. O segundo momento trata de meados dos anos 1960 até o final desta década, quando a comunidade de poetas localizados à margem do mainstream das publicações estabelecidas, multiplicou-se no East Village. Esta geração, leitora ávida dos poetas da New York School, auto-intitulou-se Second Generation New York School of Poets. Liderados pela poeta Anne Waldman e contando com a participação de poetas consagrados como Tom Clark (editor da revista Paris Review), formalistas, como Clark Coolidge e experimentais como Vito Acconci e Bernadette Mayer, esta geração teve um impacto definidor no que seria considerado como a poesia eminentemente nova-iorquina dos anos 1960. Embora tivessem relação com poetas beats que viviam ou frequentavam Nova York neste período, como Allen Ginsberg e William Burroughs, a segunda geração de poetas nova-iorquinos não compartilhava dos pressupostos estéticos e políticos dos beats. Não se alinhava aos valores hippies, não era adepta ao uso de drogas alucinógenas, e não acreditava em uma espécie de transcendência que pudesse modificar a realidade capitalista, massificada e envolta na guerra fria deste período. A poesia da escola de Nova York era urbana, cotidiana, desencantada em relação ao futuro e ácida e cínica com qualquer tipo de utopias ou novas formas de consciência. O artista plástico Andy Warhol estava no ápice do desenvolvimento da pop art neste momento em Nova York, criticando veladamente a sociedade de consumo e tensionando ao máximo a capacidade de entretenimento que o cinema, as celebridades, o rock and roll etc poderiam proporcionar. A Factory, seu mitológico estúdio, era repleto de superstars que beiravam o puro sarcasmo: travestis, junkies, modelos decadentes, poetas famintos etc. Nesse contexto de virada dos anos 1960 e 1970, surge em Nova York uma nova personagem, um quase herói dandy no sentido de Baudelaire de Benjamin. São jovens poetas que, confrontados com o estabelecimento da poesia em Nova York, veem a oportunidade (e obrigação) de fazer uma nova poesia, como quer a tradição modernista e vanguardista. A segunda geração dos poetas nova-iorquinos é fechada, por laços comunitários e de amizade, reunida em torno do St. Mark’s Church Poetry Project, onde poucos e selecionados poetas são escolhidos para as disputadas readings. Para publicar nas revistas, é necessário o mesmo estatuto simbólico. Há uma geração mais nova que, a partir do ano de 1968, não necessariamente acha que a posição mais vanguardista é publicar na revista Angel Hair, de Waldman, The World, do St. Mark Church Project, ou na 0-9, de Bernadette Mayer. Para eles, a vanguarda mais radical a ser feita na produção da poesia, política e esteticamente, é mesclar lírica poética com performance pop. Essa, portanto, é a terceira parte do meu estudo. Elegi quatro poetas que se dedicaram a produzir poesia que tivesse traços e genética pop. Ou que a própria performance pop fosse uma manifestação poética. E entendo aqui performance pop como um show de rock and roll, uma dança sado masoquista em um happening de Andy Warhol, o modo de vestir-se, o uso de drogas (e a escolha de drogas – no caso de Nova York, heroína e cocaína ao invés de alucinógenos) etc. Os poetas escolhidos neste trabalhos são, portanto: Richard Hell, nascido Richard Meyers, poeta e criador de revistas e livros de poesia antes de tornar-se músico de bandas de rock and roll e idealizador do estilo punk no início dos anos 1970; Patti Smith, poeta e performer nos 1970 e música e criadora de uma das primeiras bandas de punk rock nos anos 1970; Gerard Malanga, poeta ligado à segunda geração de poetas nova-iorquinos desde os anos 1960, assistente de Andy Warhol em seus filmes experimentais, “superstar dançarino” em seus hapennings e talentoso fotógrafo de estrelas de rock and roll; e Jim Carroll, poeta também ligado às publicações de Anne Walman nos anos 1960 e assistente de Andy Warhol nos mais diversos projetos e autor de dois diários aclamados sobre a vida junkie em Nova York nos anos 1960 e 1970. Trato aqui destes poetas a partir dos termos vanguarda pop e presentismo para analisar suas escolhas artísticas a partir da ótica da inovação vanguardista surgida a partir da mudança de uma concepção de tempo histórico. Estes poetas queriam colocar-se no limiar da revolução das artes, e para isso utilizaram-se da cultura pop, massificada. Para eles, essa era a nova e mais legítima vanguarda. Isso explica-se por um sentimento presentista, ou seja, uma sensação de que passado e futuro foram incorporados no presente: o passado não ensina nada, não serve de exemplo; no máximo, de ornamento. O futuro é apocalíptico. A única forma de representar esta sensação é com o imediatismo da performance. / This thesis analyses a specifically experimental poetry scene in East Village, Southern Manhattan, between the 1960´s and 70´s. In this context, some poetic communities were born, characterized by linguistic experimentalisms, the value of the daily life in the poetic lyric, reading projects and poetic performance and linguistic formalism, which aimed to reach a new literary vanguard. This analysis is divided in three moments, aiming to embrace that historical phenomenon: initially, the first movements in this poetry scene, known as New York School of Poets, organized in the end of the 1950´s, surrounded poets John Ashberry, Frank O’Hara, Kenneth Koch and James Schuyler, who organized the first independent and mimeographed magazine, called Locus Solus, between 1961 and 1962. This generation of poets, following the French style from the beginning of the century, was esthetically close to the famous painters from that time, which in the New Yorker case, was the abstract expressionism. The second moment discusses the mid 1960´s until the end of the decade, when the outsider community of poets boomed in the East Village. This generation, voracious readers of the poets from the New York School, was self-entitled Second Generation New York School of Poets. Lead by the poet Anne Waldman and with the participation of famous poets like Tom Clark (editor of the Paris Review magazine), formalists like Clark Coolidge and experimental ones like Vito Acconci and Bernadette Mayer, this generation had a serious impact in which would be considered the prominently New York poetry from the 1960´s. Although they had had some connections to the beat poets who lived in New York at that time, like Allen Ginsberg and William Burroughs, the second generation of New Yorker poets didn´t share the esthetically and political assumptions of the beats. They didn´t have the hippie values, they weren´t into hallucinogens type of drugs and didn´t believe in a kind of transcendence that could change the capitalist, massive and smashing cold war reality from that period. The poetry from the New York School was urban, ordinary, disenchanted in relation to the future, acid and cynical with any type of utopias or new forms of conscience. The artist Andy Warhol was in the apex of the pop art development in that moment in New York, criticizing surreptitiously the consumer society and exploring entertainment potential of movies, celebrities and rock and roll to a greater degree. The Factory, his mythological studio, was full of superstars who were on the brink of pure sarcasm: travesties, junkies, decadent models, hungry poets etc. In the turn of the 1960´s to the 70´s, a new character arises in New York, almost a dandy hero in the sense of Baudelaire or Walter Benjamin. They were very young poets who, when confronted with the establishment of the poetry in New York, saw the opportunity (and obligation) to make new poetry, according to the needs of the modernist tradition. The second generation of New Yorkers poets was closed in a community of friendship ties, united around St. Mark´s Church Poetry Project, where few and selected poets were chosen for the disputed readings. To publish in the magazines, it was necessary the same symbolic status. There was a younger generation that, from 1968 on, didn´t think the most avant garde position was to publish in Waldman´s Angel Hair, St. Mark Church Project´s The World, or in Bernadette Mayer´s 0-9 Magazines. For them, the most extreme vanguard to be seen in the poetry production, not only politically as esthetically, was mixing poetic lyric with pop performance. So, this is the third part of my study. I chose four poets who dedicated themselves to make poetry that had pop traces and genetics. Better yet, the pop performance on its own was a poetic manifestation. And pop performance, in that context, would be a rock concert, a Sadomasochist dance or an Andy Warhol´s happening, the way of dressing, the drug use ( and the drugs of choice, in the case of New York, was heroin and cocaine instead of hallucinogens) etc. The chosen poets for this paper are: Richard Hell, born Richard Meyers, poet and creator of poetry magazine and books before becoming a rock and roll musician and mastermind of the punk style in the beginning of the 1970´s; Patti Smith, poet and performer in the 1970´s, musician and creator of one of the first punk rock bands in the 70´s; Gerald Malanga, poet connected to the second generation of New Yorker poets since 1960´s, Andy Warhol´s assistant in his experimental movies, “superstar dancer” in his happenings and talented photographer of rock stars; and Jim Carroll, poet also connected to Anne Waldman´s publications in the 1960´s and 70´s, Warhol´s assistant in several projects and author of two acclaimed diaries about the junkie life in New York during that time. When talking about these poets, I use terms as pop avant garde and presentism to analyze their artistic choices from the eyes of the vanguard innovation born from a conception of historical time. These poets would like to be on the arts revolution threshold, and to that end, used pop massive culture. To them, this was the new and realest vanguard. This is explained in the context of a very peculiar presentism feeling, a sensation that the past and future were incorporated in the present; the past teaches nothing, it is not an example, maybe only an ornament. The future is apocalyptical. The only way to represent this feeling is with the performance immediacy.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/140306
Date January 2015
CreatorsAraujo, Marina Corrêa da Silva de
ContributorsCezar, Temistocles Americo Correa
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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