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O caso Schreber como um testemunho escrito / The Schreber case as a written testimony

Esta dissertação tem por objetivo discorrer sobre a paranoia de Daniel Paul Schreber, mais especificamente, no que se refere à assunção de sua missão divina como fruto de um trabalho do delírio através da escrita de seu livro Memórias de um Doente dos Nervos. Freud deixou uma marca indelével no campo das psicoses com o estudo do caso Schreber: um passo importante na medida em que as produções delirantes são legitimadas no plano próprio à experiência psicanalítica freudiana, o do inconsciente. O avanço teórico lacaniano abre as vias para uma inserção mais efetiva do estudo acerca das psicoses enquanto clínica possível. Conforme Lacan, a psicose se distinguiria das outras estruturas clínicas pela foraclusão (a Werverfung) de um significante primordial na ordem simbólico. Essa falta marca toda a fenomenologia da psicose, implicando o estabelecimento de uma relação peculiar do sujeito ao conjunto da linguagem: o psicótico é habitado pela linguagem; contrariamente ao neurótico que habita a linguagem, ou seja, toma-a por todo seu ser e enquanto fala. O sujeito habitado pela linguagem conota essa relação de exterioridade que há com o conjunto da linguagem: uma não integração do sujeito ao registro do significante, ao ponto que a análise de um pré-psicótico vai levá-lo ao desencadeamento da psicose. A entrada na psicose se manifesta com o surgimento de uma linguagem preciosa por ser plena de significância, mas também de uma dimensão do significante em seu aspecto material. É justamente na dimensão da fala do outro enquanto objeto, ao falar de si, que as ideias delirantes schreberianas vêm à superfície e seu quadro paranoico se revela para o ouvinte. O testemunho é essa dimensão da fala na qual o sujeito está engajado. Assim, a escrita do livro de memórias schreberianas é um testemunho aberto sobre essa especificidade do psicótico em sua relação à linguagem, mais nomeadamente, sobre a intrusão do discurso do Outro. A especificidade da função da escrita, no caso Schreber, se sustenta justamente na medida em que, conforme Lacan, neste nível há algo da ordem de uma reflexão: livrar-se do parasita falador ou deixar-se invadir pelas propriedades fonêmicas da fala. Essa definição é magistral para lermos a paranoia schreberiana: é em meio a esses dois polos que vislumbramos a sua escrita: a língua estrangeira plena de sentido (a língua fundamental) e, no outro extremo, as frases vazias dos pássaros falantes que sucumbem com a homofonia. Evidencia-se aqui senão aquilo que a noção do inconsciente a céu aberto na paranoia mostra-se devedora, ainda mais se considerarmos a formulação lacaniana do inconsciente ser algo no real (Seminário Les non-dupes errent - 1974). É por ser algo no real que Lacan sustenta que é do lado da escrita que se concentra aquilo de onde tenta interrogar essa sua formulação acerca do inconsciente. Por isso, não é sem razão que, tal qual Lacan, é do lado da escrita que Schreber tenta interrogar isso que seria expressão de sua paranoia: o retorno no real do significante foracluído no simbólico / This dissertation aims to discuss the paranoia of Daniel Paul Schreber, specifically, with respect to the assumption of his divine mission as the result of a work of delusion through writing his book Memoirs Of My Nervous Illness. The declared extension of the clinical psychoanalytic treatment of psychotic patients was given by Lacanian theories. Thus, there will be a primacy of the Lacanian theoretical framework in this dissertation. However, Freud left an indelible mark in the field of study of psychosis with the study of the Schreber case in a text from 1911: an important step in the psychoanalytic research with respect to psychosis, because the delusional productions are legitimized in the same plan of Freudian psychoanalytic experience, the unconscious. The Lacanian improvement in this field opens the way for a more effective insertion of the study of the psychosis as a possible clinical. A next step in Lacan\'s theory occurs when he formulates that psychosis is distinct from other clinical structures because in that case theres a foreclosure (Werverfung) of a primordial significant in the field of the Other. Thus, that lack defines all the phenomenology of psychosis, implying the establishment of a special relationship of the subject with respect to the set of language: the psychotic subject is inhabited by language, unlike the neurotic who inhabits the language, in other words, he takes it for his whole being and speech. The subject inhabited by language connotes the relationship of exteriority with the whole language: A non-integration of the subject to the field of the significant, what implies that the analysis of a pre-psychotic will lead him to the triggering of his psychosis. The entry in psychosis manifests itself with the emergence of a precious language full of significance, but also of a dimension of the significant in its material aspect. It is precisely in the dimension of talking of the other as an object, to talk about themselves, that Schrebers delusions come to the surface and his paranoia reveals itself to the listener. The testimony is this dimension of speech in which the subject is engaged. Thus, the writing of the book of memories by Schreber is an open testimony about the specificity of psychotic in his relation to language, most notably, about the intrusion of the discourse of the Other. The specificity of the function of writing, for Lacan, is sustained according as at this level there is something of the order of reflexion: get rid of the talkative parasite or let yourself be invaded by the phonemic properties of speech. This definition is masterful to read the Schreber\'s paranoia, because we envision his writing precisely in the middle of these two poles: a foreign language full of meaning (the fundamental language) and, at the other side, the empty phrases of talking birds who succumb to homophony. It is evident here what the notion of the unconscious is at the surface for the paranoid is too related, especially considering the Lacanian formulation of the unconscious being something in the real (Seminar Les non-dupes errent - 1974). It is because its something in the real that Lacan argues that it is at the writing side that he focuses on where he tries to interrogate this formulation about the unconscious. So it is not without relation that, as Lacan, is at the writing side that Schreber tries to interrogate what would be the expression of his paranoia: the return from the real of the significant foreclosed in the symbolic order

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-28052014-103107
Date09 May 2014
CreatorsDiógenes Domingos Faustino
ContributorsJussara Falek, Maria Lúcia Baltazar, Helena Maria Sampaio Bicalho
PublisherUniversidade de São Paulo, Psicologia Clínica, USP, BR
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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