Diferentemente das linhas adotadas por um bom número de trabalhos em Estudos da Tradução que têm por objetivo uma análise crítica de tradução ou uma tradução comentada, nosso projeto busca tratar a tradução, mais especificamente a tradução literária, não como um objeto em si, mas como parte integrante do processo de construção de uma obra. Para tanto, nosso pressuposto é a noção aristotélica de ato e potência. A nosso ver, a gênese da tradução literária, como potência, coincide com o início da escritura da obra, como ato, ou seja, a tradução literária é inerente à obra em estado virtual, como um ser em devir, podendo ou não vir a se materializar como obra traduzida. Sob essa ótica, acreditamos que toda e qualquer análise de tradução literária envolva um mergulho não apenas no contexto de sua produção e em seu produto final, mas também nos elementos que envolvem a produção da obra de partida. Baseando-nos nas noções de Dominique Maingueneu (2001) a respeito do contexto da obra literária e no alicerce linguístico em enunciação oferecido por Émile Benveniste (1976), pudemos associá-los a outras importantes contribuições, como os conceitos de posição tradutória, projeto de tradução e horizonte do tradutor propostos por Antoine Berman (1995) que, se observados relacionalmente dentro de cada espaço de negociação que constitui todo processo tradutório em suas diversas etapas, pressupõem necessariamente uma esfera ética. Ao adotarmos a noção proposta por Maurício Mendonça Cardozo (2007), baseando-se em Henrique C. de Lima Vaz (2015), que traz o conceito da palavra ética originalmente como lugar, podemos entendê-la como sendo a consciência da posição que se ocupa em uma dada relação o lugar de onde se fala e para quem se fala , oferecendo, assim, campo fértil para pensarmos efetivamente a ética da tradução como práxis e projetá-la em termos bermanianos. Sob esse arcabouço teórico, a questão das posições enunciativas emerge de maneira fundamentada para uma análise do caso específico da tradução Fires (1981), por Dori Katz, a partir da obra Feux (1936), de Marguerite Yourcenar, em que diversas são as variáveis, que não a relação isolada entre tradutor e texto de partida. Em Feux-Fires, aquilo que chamaremos de uma espiral de posições enunciativas compõe um quadro bastante particular em tradução literária. / Unlike the line adopted by many works in Translations Studies whose purpose are translations critical analysis or commented translations, our project aims at approaching translation, and more specifically literary translation, not as an object in itself, but as an integral part of the building process of a literary work. Assuming Aristotles concept of potency and act, in our view, the genesis of literary translation, as potency, coincides with the beginning of the literary works writing, as an act, i.e. , the literary translation is inherent to the literary work in a virtual state, as a being to be, whether it is eventually materialized as a translated literary work or not. From this perspective, we believe that each and every analysis of literary translation involves not only jumping into its context of production and its final product, but also into the elements surrounding the production of the source work. Based on the notions of Dominique Maingueneau (2001) about the context of the literary work and on the linguistic grounds offered by Émile Benveniste (1976), we managed to associate them to other important contributions, such as the concepts of translational position, translation project, and horizon of translation proposed by Antoine Berman (1995), which necessarily assume an ethical domain if regarded in a relational perspective within every negotiation space that constitutes each translation project in its many phases. By adopting the notion proposed by Maurício Mendonça Cardozo (2007) based on Henrique C. de Lima Vaz (1999), who presents the concept of the word ethics originally as a place, it may be understood as the awareness of the position one holds in a given relation the place where one speaks from and to whom , thus offering fertile ground for ethics in translation to be effectively viewed as praxis and to be projected in bermanian terms. Under this theoretical framework, the question of enunciative positions emerges in a well-founded way for an analysis of the particular case of the translation Fires (1981), by Dori Katz, of the work Feux (1936), byMarguerite Yourcenar, in which many are the variables, other than the isolated relation between the translator and the source text. In Feux-Fires, what we call a spiral of enunciative positions compose a very specific scenario in literary translation.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-04082017-163639 |
Date | 10 March 2017 |
Creators | Mônica de Meirelles Kalil Godoi |
Contributors | Álvaro Silveira Faleiros, Germana Henriques Pereira de Sousa, Roberto Zular |
Publisher | Universidade de São Paulo, Estudos da Tradução, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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