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A constelação do zenite : imaginação utopica e historica em Heiner Muller (anos setenta e oitenta)

Orientador: Roberto Schwarz / Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem / Made available in DSpace on 2018-07-20T22:59:19Z (GMT). No. of bitstreams: 1
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Previous issue date: 1995 / Resumo: O dramaturgo alemão Heiner Müller (Eppendorf, 1929 -) compreende o teatro como o "laboratório da imaginação social". Essa assertiva implica uma consideração e crítica de seus pressupostos materiais, do aparelho teatral como instituição e seus limites, avançando gradualmente até o Espírito da Época ("Zeitgeist"). Nesse sentido, a experiência dramatúrgica alude ao conjunto da experiência social como seu "órgão" de autoreflexividade democrática, não apenas como decalque do existente, mas como um instrumento de descoberta e extensão de suas possibilidades e do seu vir-a-ser, de suas reservas imaginárias. Em meio ao turbilhão de meios tecnológicos, o anacronismo da forma teatral permanece como uma das últimas formas de relação imediata de nossa espécie. A reflexão sobre o "texto" da História é, portanto, a matriz de seu projeto dramatúrgico e a maneira pela qual se tece representa a produção da própria subjetividade como uma consciência de si e dos estratos que compõe sua temporal idade impura; mas é também a produção de seu "inconsciente", de seus recalques e do esquecimento. O relógio da História, para Müller, corre em sentido inverso do presente até atingir a estrutura mitológica que "fecunda", por assim dizer, este texto. Equilibrando-se entre a reflexão histórica, saturada de presente e articulada numa complexa noção de material artístico como "fragmento sintético" - um trabalho sobre as fraturas, descontinuidades e imprecisões das obras do passado, sobre a "inércia" que se revela em sua traditio -, e a necessidade em "olhar no branco dos olhos da Historia", como entende a capacidade política em seu sentido pleno, além da gravitação das ideologias e da política como esfera da instrumentalidade e engenharia socialmente eficaz, o olhar de Müller para o zênite da História é a ruptura de sua continuidade, a primazia da visão epifânica que transfigura e intensifica seus significados. Para Müller, este instante não é produto do acaso mas, incorporando a noção de Carl Schmitt de' seu ensaio Hamlet ou Hécuba: a irrupção do tempo no jogo, a formação de uma constelação trágica pela irrupção do tempo empírico na cena. Essa intrusão implode a moldura formal, colocando em movimento camadas profundas da experiência histórica sob o chão do presente. A afirmação de um sujeito histórico universal nos ensaios produzidos por Heiner Müller durante os anos setenta e oitenta é também correlata de um conceito de experiência genuína ("autentische Erfahrung") no campo da arte. Entretanto, a ênfase na substancial idade desse sujeito não resiste muitas vezes ao próprio paradigma intelectual em que se move e à maneira pela qual se articula, desfazendo-se como fantasmagoria. Os anos Honecker (1971-1989) caracterizam-se por uma deslegitimação progressiva da RDA nos planos interno e externo. Essa perda de horizonte utópico ("Utopieverlust") traduziu-se, em parcela considerável da inteligência leal da RDA, por uma conversão de paradigma conceitual ("Paradigmawechsel"). O foco da crítica desvia-se do campo do socialismo real para o âmbito civilizatório. Como parte desse complexo, pode-se pensar a dramaturgia de Heiner Müller como um instante privilegiado da apropriação da Dialética do Esclarecimento (1947) na RDA, cujo impacto, embora tardio, foi decisivo nessa conversão. Antes de representar a recepção pontual de um livro. A Dialética do Esclarecimento parece oferecer anacronicamente as categorias práticas de uma experiência de secularização intelectual a toda uma geração, através da desilusão ("Enttãuschung") com um espaço político cada vez mais restrito e suplantado pelo gerenciamento tecnocrático da economia, depois do fechamento da fronteira em 1961. De modo mais atento, seria possível perceber na terminologia crítica de Müller a restauração de figuras típicas do pensamento vitalista alemão de fins do XIX, tangenciando muitas vezes um diagnóstico conservador de crítica à modernidade. Se a derrocada do socialismo não deixava outra alternativa senão o avanço civilizatório, o teatro tardio de Müller e sua reflexão invocam poderes elementares e um culto dionisíaco para conjurar o presente. Esse investimento semântico anacrônico é incompatível com o próprio caráter descontínuo de sua escrita, de sua fragmentação. Contabilizando também para si a vantagem de estar à margem do debate ideológico, a noção de experiência em Heiner Müller transita em um "jargão de autenticidade" (Adorno) que extropola do campo da crítica estética para implicar o conjunto da cultura como "corretivo" de suas reservas utópicas. Essa incongruência é o foco de minha análise / Abstract: Not informed. / Mestrado / Mestre em Teoria Literaria

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.unicamp.br:REPOSIP/270158
Date13 December 1995
CreatorsGalisi Filho, Jose
ContributorsUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, Schwarz, Roberto, 1938-, Gagnebin, Jeanne Marie, Koudela, Ingrid Dormien
Publisher[s.n.], Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem, Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Format413f., application/pdf
Sourcereponame:Repositório Institucional da Unicamp, instname:Universidade Estadual de Campinas, instacron:UNICAMP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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