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\"Não premiarás, não castigarás, não ralharás...\" : dispositivos disciplinares em grupos escolares de Belo Horizonte (1925-1955). / \"Do not prize, do not punish, do not scold...\" disciplinary measures in Elementary Schools in Belo Horizonte (1925- 1955).

Esta pesquisa problematiza alguns dispositivos disciplinares utilizados nos Grupos Escolares de Belo Horizonte num período em que a cidade foi denominada \"capital pedagógica do Brasil\". Os trinta anos do estudo envolvem algumas Reformas Educacionais baseadas no movimento escolanovista que surgiu em fins do século XIX na Inglaterra. Apesar da longa delimitação temporal, pode-se afirmar que, durante esse período, houve uma certa permanência nas iniciativas educacionais. Isso se justifica porque a Reforma realizada em 1927 foi considerada um marco na educação mineira e não se ousava alterá-la radicalmente ou criticar seus princípios. A pesquisa se encerra nos anos cinqüenta, quando foi assinado um contrato entre Brasil e Estados Unidos chamado PABAEE - Programa de Assistência Brasileiro Americana ao Ensino Elementar - que teve em Belo Horizonte o centro-piloto de organização. Diversas fontes foram utilizadas para a pesquisa como jornais de circulação diária, jornais escolares, duas revistas pedagógicas produzidas no período - Revista do Ensino e Educando - a legislação escolar mineira relativa ao ensino primário e normal, Boletins publicados pela Secretaria do Interior e, mais tarde, da Educação, além de entrevistas com professoras, ex-alunos e ex-alunas e consulta aos arquivos de onze Grupos Escolares de Belo Horizonte. Foram utilizadas, ainda, quatro obras memorialísticas publicadas por professoras primárias e duas biografias de professoras desse período. Uma das características primordiais do movimento escolanovista era o repúdio ao uso das punições na escola, especialmente as mais drásticas e humilhantes, e a defesa à introdução de dispositivos que tinham por objetivo disciplinar, conformar, moldar e moralizar formando, desde os bancos escolares, cidadãos que se adaptassem à ordem social reinante sem revoltas e sem intentar transformá-la. A consulta a essas fontes teve por objetivo rastrear estes dispositivos e analisar de que forma os sujeitos escolares lidavam com as exigências de modernização de suas práticas educativas, especialmente no que se refere às punições e à disciplina escolar. A pesquisa divide-se em dois grandes eixos: no primeiro, estão os educadores e os educandos, suas experiências e lembranças, como eram representados e se representavam e, no segundo, a cultura escolar e alguns dispositivos disciplinares ali instaurados. Demarcar as percepções, as vivências, as tensões e os conflitos que permeavam esse momento de transição das prescrições em práticas de disciplinamento constitui o cerne da investigação desta pesquisa. Teriam os professores se submetido às mudanças pretendidas de forma tão simples e rápida como se esperava com a divulgação do modelo modernizador? Como reagiram professores e alunos diante das mudanças na concepção de escola, do papel do professor e, principalmente, diante das novas prescrições disciplinares que proibiam o uso dos castigos físicos e condenavam os que os utilizassem no ambiente escolar? De que forma os professores lidaram com as necessidades de adaptação a essas novas exigências pedagógicas? Tais questões permearam toda a pesquisa e permitiram compreender que o ideário escolanovista nem sempre foi tão moderna e neutra como apregoava. Há indícios de manutenção de princípios e preconceitos de classe, raça e gênero dissimulados pelo viés da cientificidade. Além disso, a transição da punição à disciplina se fazia de forma contraditória, confusa e, por vezes, não se realizava efetivamente. O brilhantismo da Reforma Francisco Campos, a qualidade sempre exaltada da escola pública neste período tendem a desconsiderar o sistemático processo de exclusão de alunos, considerados pobres, anormais, indisciplinados, pouco inteligentes que passavam pela escola sem usufruir seus benefícios, entre eles, o diploma escolar que a muitos era negado. A exclusão ou a sua ameaça eram formas de punição e disciplinarização, entre muitas outras existentes nas escolas. Foram submetidos a esse processo todos os personagens do universo escolar, de maneira mais ou menos intensa. Através da realização da pesquisa, das fontes consultadas, das páginas dos periódicos, dos documentos escolares, dos relatos de educadores e educandos daquele período puderam ser encontrados novos pontos de vista sobre a vida em Grupos Escolares de Belo Horizonte. Apesar disso, fica a certeza de que as apropriações do escolanovismo escondem, ainda, muitos enigmas que precisam ser decifrados para que se possa ter uma perspectiva mais heterogênea, multifacetada e plural do que foram as escolas primárias neste período. / This research aims at presenting he disciplinary measures employed in elementary schools in Belo Horizonte during the time the city was known as \" Brazil\'s pedagogical capital. The span of 30 years in this study encompasses come of the educational reforms based on the Nwe School Moviment which started in the late XIX century England. Despite the broad temporal scope of the study, one can state that, during this period of time, there was a continuation of such education measures. It happened because the reform which took place in 1927 was considered to be a landmark in the educational landscape in the state of Minas Gerais and also because it did not dare to either change or criticize the educational panorama. This study ends by touching upon the events taken place in the 1950\'s when Brazil and the United states signed an agreement called PABAEE - Brazilian American program for elementary schools support - which was held in Belo Horizonte. Many sources of information such as newspapers, pedagogical magazines, periodicals,bulletins, intervieews with teachers and alumni, and a file research of 11 elementary schools were used to provide the study with information. Four memoirs published by schoolteachers and two bibliographies were also used. One of the main features of Escola Nova was its aversion to the use of punishments, especially those which resorted to humiliation and agression. It also objected the employment of disciplinary measures which aimed at conforming, molding and moralizing by forming citzens who would easily adhere to the existing social order. We examed these sources both in order to find out the measures and analyze how the school actors delt with the necessity to modernize their educational pratices, especially those related to punishments. The study is divided into two major parts: the first part deals with educators and students, their experiences and memories, the way they were portrayed and how they portrayed themselves. The second part deals with the day-byday activities in the schools and the measures taken place in that environment. This research deals with highlighting the perceptions, experiences, tensions and conflicts that permeated this time. Did the teachers subjectd themselves to the changes quickily as was expected from them? How did the teachers deal with the necessity to adapt themselves to the new pedagogical demands? How did both teachers and students react to the changes, to the teachers\' new role, and especially, to the new norms that prohibitted the employment of physical punishments? Such questions permeate the study in order to show that Escola Nova was not always modern and neutral as it was claimed to be. There are many traces of the continuation of some old pratices and also racial, gender and class prejudice. Besides that, the transition from punishment to discipline contradictory, confusing and sometimes, ineffective. The brilliance of the socalled Francisco Campos reform and the exaltation of the quality of public schools of that time tended to neglect the systematic process of students\'s exclusion, especially those considered to poor, indisciplined, handicapped and so on. Both the exclusion or the threat of it represented a form of punishment among the many others that existed at that time. All those involved wih schools at that time went through such experiences. Through the development of the research we could find new viewpoints about the everyday life in Belo Horizonte\'s public schools. Despite that, remains the certainty that Escola Nova in Minas Gerais hides many secrets that need to be revealed so as to allow a more heterogenous view of the public schools of that time.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-06032008-112155
Date27 March 2006
CreatorsRita de Cassia de Souza
ContributorsMaria Cecilia Cortez Christiano de Souza, Tarcisio Mauro Vago, Maurilane de Souza Biccas, Eliane Marta Teixeira Lopes, Dislane Zerbinatti Moraes, Miriam Jorge Warde
PublisherUniversidade de São Paulo, Educação, USP, BR
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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