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Observando crianças e refletindo sobre o papel do movimento na comunicação

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Previous issue date: 2008 / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior / Este trabalho procura compreender as relações entre corpo, pensamento e comunicação partindo
do pressuposto de que o ser humano é biologicamente social. É pelo corpo que o recém-nascido
expressa suas emoções as quais, pelo seu poder de contágio, possibilitam um intercâmbio entre a
criança e o adulto. Wallon enfatiza que se é por meio do corpo que a criança expressa,
inicialmente, suas disposições e seus estados afetivos e, posteriormente, suas idéias, a mímica
está mais próxima da representação do que da ação. Assim, o ato mental é constituído a partir do
ato motor. Impedir a criança de se movimentar é, muitas vezes, impedi-la de pensar. Tomasello,
ao enfatizar a funcionalidade do gesto de apontar, explicita a relação íntima entre o corpo e o
pensamento. Esse e outros movimentos, analisados dentro de uma cena de atenção conjunta,
podem ter a função de influenciar o comportamento do outro (gesto imperativo), fazer com que o
outro compartilhe a atenção em relação a uma terceira entidade (gesto declarativo) ou oferecer
ajuda ao co-específico em relação a um objeto perdido (gesto informativo). As teorias de Wallon
e Tomasello trazem como ponto comum a idéia de ser o gesto um recurso comunicativo préverbal
que possui íntima relação com a construção e a expressão do pensamento da criança.
Diante dessas considerações, o objetivo do presente trabalho foi explicitar, por meio da
observação de crianças interagindo, o papel de seus movimentos na constituição da atividade
mental. Foram videogravadas 19 crianças entre 39 e 51 meses, pertencentes a uma creche pública
da cidade do Recife, durante duas situações interacionais distintas. Na primeira, o grupo foi
filmado duas vezes, durante trinta minutos em média, no momento da atividade pedagógica
reservada para a conversa - educadora e crianças discutem assuntos específicos previamente
selecionados. Na segunda situação, as crianças, em grupos de três, foram videogravadas durante
20 minutos brincando livremente em uma sala organizada com materiais que supostamente
estimulavam o faz-de-conta. A partir da observação desses registros, foram recortados 66
episódios (55 da situação de trio e 11 da situação da conversa ) que indicavam como a criança
fazia uso do movimento para conferir presença ao pensamento e assim se comunicar com o
parceiro. A análise desses episódios conduziu à reflexão de quatro aspectos: (1) movimento e
emoção: indícios da coesão grupal; (2) corpo como instrumento de representação; (3) o gesto de
apontar: componente do pensamento e da comunicação; (4) o não controle do movimento.
Embora a criança faça uso da linguagem verbal, a análise traz indícios relevantes que fortalecem
a hipótese de que o corpo é instrumento para expressar idéias e se comunicar com o parceiro. E
mais, assim como a linguagem verbal, o movimento que se ajusta às idéias para explicitá-las,
segmentando-as e seqüenciando-as, é constitutivo do pensamento. Os achados sinalizam a
impossibilidade de se conceber a mente como algo segregado do corpo: orgânico e psíquico
desdobram-se mutuamente, portanto, constroem-se por exigências do interagir. Em decorrência,
lança-se um olhar sobre os sistemas disciplinares de instituições educacionais infantis: a
dificuldade de as crianças conterem o movimento durante a interação contraria a concepção
corrente de que para pensar é preciso estar imóvel. Conclui-se que compreender o pensamento da
criança implica compreender a sua corporeidade, reconhecendo o movimento como um veículo
de expressividade e comunicação

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufpe.br:123456789/8233
Date31 January 2008
CreatorsMaria Porpino Viana, Karine
ContributorsIsabel Patricio de Carvalho Pedrosa, Maria
PublisherUniversidade Federal de Pernambuco
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFPE, instname:Universidade Federal de Pernambuco, instacron:UFPE
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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