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As veredas do grande sertão-Brasília : ocupação, urbanização e resistência cultural

Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Centro de Desenvolvimento Sustentável, 2007. / Submitted by wesley oliveira leite (leite.wesley@yahoo.com.br) on 2009-10-06T19:39:03Z
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Previous issue date: 2007-05 / Este trabalho comprova a hipótese de que a cultura sertaneja resistiu à desconstrução e
ao desenraizamento intensificado por Brasília. A resistência acontece, marcadamente,
ao nível simbólico, pois os sertanejos mantém suas raízes no “Sítio Simbólico de
Pertença Sertanejo”. Ele foi organizado, a partir da documentação da história de vida de
pessoas vindas do Sertão do Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, a saber:
o Norte de Minas Gerais, Sudoeste da Bahia e Nordeste de Goiás. Interpretei
depoimentos de narradores residentes nas regiões administrativas do Distrito Federal,
articulando as questões da sustentabilidade e o romance roseano. A ocupação se
aproxima dos 11.000 anos antes do presente. Os Macro-Jê derivaram dos caçadorescoletores
e receberam os Tupis-Guaranis, que fugiam do colonizador. Com a rebelião
dos índios na lavra do ouro, os europeus importaram escravos africanos. O sertanejo
nasce, então, das mestiçagens entre o branco, o índio e o negro. Sua cultura emergiu de
contradições. O índio, em busca de quinquilharias, o português, de ouro e o negro, de
liberdade, definem um ambiente de namoros, massacres e etnocídios. Na organização
política do sistema, as capitanias cuidaram da defesa externa e conquista do Sertão; a
distribuição das sesmarias foi definida pela tradição e favoritismo. Ancorados nessa
natureza de distribuição de terras e no municipalismo, surgem os coronéis paternalistas,
clientelistas e seus jagunços. Esgotado o ouro, pequenas cidades e latifúndios passaram
a definir a paisagem com a prática da pecuária extensiva e agricultura de subsistência.
Brasília, simultaneamente, aqueceu e pôs fim ao namoro entre os sertanejos e o poder
instituído. É fechado um “pacto de modernidade” com a capital e a tecnologia
internacional. Chegava o desenvolvimento com estradas, hospitais e escolas, mas
também o desassossego da perda de biodiversidade, iminente colapso dos recursos
hídricos e ocupação desordenada do território. Nascia o Sertão-Brasília. As políticas
públicas dos governos posteriores ao período JK, fortaleceram o pacto. No turbilhão, a
cultura sertaneja é sustentada pelo “Sítio Simbólico de Pertença Sertanejo”, cujas caixas
esquemáticas são, metaforicamente, apresentadas como canastras. A “Canastra dos
Mitos, Memória e Trajetória de Vida” revela sertanejos e sertanejas trabalhadores, não
hedônicos, honrados, corajosos, cristãos e com trajetória de vida circular. A “Canastra
Conceitual” apresenta comunidade alicerçada na família, com o marido à frente do
trabalho pela subsistência; o gado é força motriz, fonte protéica, de matéria prima e
acumulador de riqueza; e estrutura educacional que tanto inclui, quanto exclui. A
“Canastra de Ferramentas” traz dois modelos de ação: o familiar e o comunitário,
fundados na solidariedade vicinal que interliga os dois modelos. Recomenda-se o
rompimento do pacto e volta do namoro, que possibilita o desenvolvimento situado. As
metáforas do pacto e do namoro, extraídas do romance roseano, organizaram a
interpretação das relações Sertão-Brasília, que se constitui na fusão de horizontes entre
as metáforas, a fundamentação teórica do trabalho e as histórias de vida dos narradores.
As metáforas fizeram a tessitura da interpretação. O pacto que Riobaldo, o narrador do
romance, busca fechar com o Diabo, é cartesiano, separa, reduz e mata. O namoro é
aberto, cheio de incertezas, contradições, seduções e complexo. Darcy Ribeiro (1995),
Edgar Morin (1999), Terry Eagleton (2005), tratam da cultura. Hassan Zaoual (2003),
Martin Buber (1987), e Simone Weil (2001), conceituam sítio simbólico de
pertencimento, comunidade e desenraizamento. Considerando a importância educativa
da compreensão da complexidade destas questões para as novas gerações, integrei a
produção de um vídeo à metodologia. Ele dá visibilidade ao “Sítio de Pertença
Sertanejo”. _______________________________________________________________________________ ABSTRACT / This study supports the hypothesis that Brazilian backland culture resisted the
deconstruction and uprooting intensified by the creation and growth of Brasília. This
resistance occurs markedly on the symbolic level, for the backlanders retain their roots
in the “Symbolic Site of Sertanejo Domains.” This site is based on documentation of the
life (hi)stories of individuals coming from the Sertão of João Guimarães Rosa’s novel
Grande Sertão:Veredas, a region encompassing the north section of the State of Minas
Gerais, the southwest of Bahia, and the northeast of Goiás. I have interpreted
depositions from narrators residing in the administrative regions of the Federal District
(Brasília), articulating questions of sustainability and the Rosean novel. This area has
experienced human occupation for some 11,000 years. The Macro-Jê indigenous
peoples originated as hunters and gatherers and received into their midst the Tupi-
Guarani peoples fleeing from European colonizers. With the indigenous rebellion in the
gold fields, the Europeans began to import African slaves. The Sertanejo, therefore, is
the product of the mixing of the white, Indian and black races, and is characterized by a
culture of contradictions. The Indian in search of trinkets, the Portuguese searching for
gold, and the black man seeking liberty typify an atmosphere of courtships, massacres,
and ethnocide. In the political organization of the administrative system, the hereditary
captaincies took charge of external defense and the conquest of the backland; the
distribution of cultivatable allotments was characterized by tradition and favoritism.
Anchored in this tradition of land distribution and municipalism, the paternalistic
“colonels” emerged with their clienteles and private armies . Once the gold supply had
been exhausted, small towns, cities, and large plantations came to characterize the
backland landscape, with a predominance of extensive livestock raising and subsistence
agriculture. Brasília simultaneously fueled and put an end to the courtship between
backlanders and institutional power. A “pact of modernity” was signed with capital
interests and international technology. A wave of development – highways, hospitals,
and schools – came to the fore, along with concern caused by the loss of biodiversity,
the imminent collapse of water resources, and the uncontrolled occupation of available
territory. And so was born the Sertão-Brasília alliance. Public policy in governments
following the JK period strengthened this pact. In the midst of this whirlwind, backland
culture was sustained by the “Symbolic Site of Sertanejo Domains,” whose schematic
boxes are metaphorically presented as baskets. The “Basket of Myths, Memory and Life
Trajectory” reveals backland workers of both sexes; they are honorable, courageous,
Christian, non-hedonistic, and live a circular life trajectory. The “Conceptual Basket”
presents a family-based community, with the husband at the forefront of subsistence
labor; cattle are the moving force, the protein source, the raw material, and
accumulators of riches; the typical educational structure is as inclusive as it is exclusive.
The “Basket of Tools” offers two models of action: that of the family and that of the
community founded on the neighborly solidarity that links the two models. This study
recommends the breaking of the above-mentioned pact and a return to a kind of
“courtship” that makes possible appropriate development. The metaphors of “pact” and
“courtship” derived from Rosa’s novel structure the study’s interpretation of the Sertão-
Brasília dynamic resulting from the fusion of horizons among: the metaphors, the
theoretical basis of the work, and the life histories of the narrators. The metaphors
constitute the interpretative texture. The pact that Riobaldo, the novel’s fictional
narrator, seeks with the Devil is Cartesian; it separates, reduces, and kills. The courtship
is open and complex, full of uncertainty, contradictions, and seduction. Darcy Ribeiro
(1995), Edgar Morin (1999), and Terry Eagleton (2005) deal with culture. Hassan
Zaoual (2003), Martin Buber (1987), and Simone Weil (2001) classify the symbolic site
of domains, community, and uprootedness. In light of the educational importance of an
understanding of the complexity of these questions for future generations, I have
included in my methodology the production of a video, which gives visibility to the
“Site of Sertanejo Domains.”

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.unb.br:10482/1911
Date05 1900
CreatorsMonti, Estevão Ribeiro
ContributorsProcópio Filho, Argemiro
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Sourcereponame:Repositório Institucional da UnB, instname:Universidade de Brasília, instacron:UNB
RightsA concessão da licença deste item refere-se ao termo de autorização impresso assinado pelo autor com as seguintes condições:Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo a Universidade de Brasília e o IBICT a disponibilizar por meio dos sites www.bce.unb.br, www.ibict.br, http://hercules.vtls.com/cgi-bin/ndltd/chameleon?lng=pt&skin=ndltd sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra disponibilizada, conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data., info:eu-repo/semantics/openAccess

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