Ao longo do século XIX ocorreu um expressivo crescimento econômico e demográfico no vale do Paraíba. A expansão da cafeicultura teve um papel fundamental neste fato, pois abriu novas oportunidades aos moradores da região e aos oriundos de fora. Neste contexto, procuramos entender essas transformações e as formas de acumulação dos indivíduos que viveram nesta economia. Selecionamos para estudo a localidade de Lorena (SP) nessa época. Inicialmente a expansão da cana-de-açúcar marcou a economia da região durante o final do século XVIII e início do XIX. Posteriormente, o plantio da rubiácea figurou como a principal atividade dos habitantes. As fontes documentais utilizadas consistiram basicamente nas listas nominativas de habitantes e dos inventários. Na primeira parte da tese apresentamos um panorama geral da localidade como um todo em seus aspectos demográficos e econômicos de 1778 a 1829, destacando três contingentes: os escravistas, seus escravos e os chefes de domicílio não-proprietários de cativos. Na outra parte centramos a análise numa amostra dos moradores em 1829, para os quais localizamos os seus inventários. A partir destes 187 indivíduos selecionados realizamos a discussão do acúmulo de escravos entre os dois momentos (1829 e o período dos inventários 1830/79). Alguns condicionantes mostraram-se importantes, como, por exemplo, a atividade desenvolvida, a propriedade de terras e as idades dessas pessoas. A mobilidade entre as diferentes faixas de tamanho de plantéis revelou-se maior para os pequenos escravistas. Além da propriedade escrava, pudemos estudar o conjunto da riqueza inventariada das pessoas da amostra: os cafeicultores, lojistas de fazenda seca, usurários e produtores de derivados de cana mantinham a quase totalidade da riqueza, inclusive dos escravos. O procedimento de acompanhar os indivíduos no tempo permitiu o exame das mudanças de suas ocupações. A continuidade da cafeicultura garantiu um patrimônio médio superior ao dos que abandonaram esta atividade. Entretanto, um número significativo de pessoas da amostra passou a atuar na faina canavieira, em alguns casos abandonando até a produção de café. Os fornecedores locais de crédito tiveram um papel atuante na expansão da cafeicultura e alcançaram as maiores fortunas. Não encontramos evidências de relações de dependência financeira entre a região e a praça do Rio de Janeiro. Assim, a economia cafeeira possibilitou a continuidade de atividades pretéritas moldadas à nova realidade e à abertura de novas opções de inversão especialmente para os detentores de grandes recursos. Estes últimos mantiveram-se no topo da hierarquia econômica da região ao longo do tempo. / The economic and demographic growth in vale do Paraíba was substantial in the course of the nineteenth century. The expansion of coffee planting played a fundamental role in that growth, opening new opportunities to the inhabitants and to people coming from other regions. Within this context we tried to understand the forms of accumulation of the individuals in that economy. We selected for study the locality of Lorena (São Paulo) in that period. The expansion of sugar cane dominated the region\'s economy by the end of the eighteenth century and beginning of the nineteenth. Coffee planting became the main occupation of the inhabitants afterwards. The documental sources we used were basically manuscript censures and inventories. The first part of the thesis is an outlook on the locality as a whole in its demographic and economic aspects from 1778 to 1829, focusing on three groups: slaveowners, their slaves, and households heads that were not slaveowners. The other part of the thesis centers its analysis on a sample of the inhabitants in 1829 whose inventories we located. The 187 individuals selected were used as a basis for discussion on the accumulation, ownership of land, and age of the individuals. The owners of small slaveholdings showed higher mobility along different categories of slaveholding sizes. In addition to slave ownership, we can study the whole wealth of the individuals whose inventories figured in the sample. Almost all the wealth, including the slaves, was held by coffee planters, dry goods merchants, usurers, and producers of sugar cane by-products. The procedure of following each individual along the time made it possible to examine their occupation changes. Those who remained in coffee planting guaranteed for themselves an average wealth higher than those who quit this activity. However, a significant number of the individuals in the sample turned to activities related to sugar cane, some of them even quitting coffee planting. Local credit suppliers played an expressive role in the expansion of coffee planting and obtained the largest fortunes. Evidence of financial dependence relations between the region and the financial market of Rio de Janeiro was not found. Thus, the coffee economy made it possible the continuity of past activities, shaped by the new reality and by new investment options opened mainly to large resource owners. The latter remained at the top of the region\'s economic hierarchy all along the time.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-26112008-155949 |
Date | 18 June 1998 |
Creators | Renato Leite Marcondes |
Contributors | Jose Flavio Motta, Maria Silvia Casagrande Beozzo Bassanezi, Iraci Del Nero da Costa, Ida Lewkowicz, Nelson Hideiki Nozoe |
Publisher | Universidade de São Paulo, Economia, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0026 seconds