Este estudo busca questionar algumas das bases epistemológicas da psicologia clínica em relação à espiritualidade e à mística. Partindo da discussão entre Freud e o escritor Francês Romain Rolland a respeito do sentimento oceânico (baseado na correspondência entre eles no período de 1927 a 1931), abordaremos a compreensão da natureza ontológica da experiência de união com o universo (como descrito por Rolland) em um duplo vértice: tanto como um subproduto de dinâmicas psicológicas (inerentemente patológicas ou não) ou como uma experiência ontológica de alteridade, mais bem compreendida através de uma abordagem não psicológica que possa investigar seu significado em consonância ao registro da condição humana em si. Nessa última perspectiva, estaremos acompanhados da obra de Gilberto Safra, que em seus escritos evidencia uma preocupação com a busca de uma concepção antropológica que aborde o ser humano em toda sua complexidade, evitando o possível reducionismo psicológico de temas e áreas que possam se relacionar a outras categorias de experiência, como a religiosidade e a espiritualidade. Como eixo central dessa discussão, utilizaremos a vida do místico Indiano Ramakrishna Paramahansa (1836-1886) para ilustrar esses diferentes modos de se abordar a experiência espiritual. Ramakrishna foi uma das principais fontes das construções de Rolland acerca da religiosidade, levando o autor francês a escrever uma de suas principais biografias (A vida de Ramakrishna, 1929), que teve um importante impacto na recepção ocidental de concepções espirituais orientais. Contemplando exemplos da vida de Ramakrishna, através de uma leitura fenomenológica-hermenêutica da obra de Rolland (que abarcam desde sua infância até seu período como um famoso mestre espiritual na Índia), será apresentado, em cada um desses períodos, diferentes perspectivas de autores que consideram Ramakrishna tanto em uma chave psicológica-psicopatológica quanto em uma abordagem que inclua um registro espiritual não redutível a dinâmicas psíquicas em sua vida. Dentro desse estudo, nós percebemos que há uma limitação inerente às leituras exclusivamente psicológicas das experiências místicas, assim como uma há uma limitação das leituras exclusivamente espiritualistas. Assim, ao apresentar tal discussão nós pretendemos repensar a posição que a espiritualidade e a mística ocupam na prática clínica, tanto para reformular sua compreensão em psicoterapia quanto para expandir as concepções éticas e antropológicas subjacentes ao entendimento clínico da condição humana / This study aims at questioning some of the epistemological basis of clinical psychology concerning mystical experience and spirituality. Focusing on the discussion between Freud and French author Romain Rolland regarding the oceanic feeling (based on their letters exchange from 1927 to 1931), we will question the comprehension of the ontological nature of the feeling of union with the universe (as described by Rolland) through a twofold bias: either as a by-product of psychological dynamics (inherently pathological or not) or as an ontological experience of alterity, better comprehended through a non-psychological approach that investigates its inner meaning regarding the human condition as such. In the latter perspective, we will be accompanied by the work of Brazilian author Gilberto Safra, whose clinical writings are concerned with an anthropological conception that approaches the human being in its own complexity, avoiding possible psychological reductionism of themes and issues that relate to other areas of experience, such as religiosity and spirituality. As the main axis of this discussion, we will utilize the life of Indian mystic Ramakrishna Paramahansa (1836-1886) to illustrate these two different ways of approaching spiritual experience. Ramakrishna has been himself one of the main sources of Rollands constructions on religiosity, leading the French author to write one of his main biographies (The life of Ramakrishna, 1929), which had an important impact on Western reception of Eastern spiritual conceptions. Contemplating examples from Ramakrishnas life through a phenomenological-hermeneutical reading of Rollands work (that range from his childhood to his period as a famous spiritual master in India), we will present, in each situation, different perspectives from authors that either consider Ramakrishna exclusively on a psychological-psychopathological note or through a perception of a spiritual dimension non-reducible to psychical dynamics inherent to his life and teachings. Within this framework, we have come to realize that there are inherent limitations on a solely psychological reading of mystical experience, as well as a limitation on an exclusively spiritual approach. Therefore, by presenting such discussion we intend to rethink the position mysticism and spirituality occupy in clinical practice, both to reformulate their understanding in psychotherapy and as a way of enlarging the anthropological conceptions inherent to clinical understanding of the human condition
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-19112015-121306 |
Date | 10 August 2015 |
Creators | Dias, Paulo Henrique Curi |
Contributors | Safra, Gilberto |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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