Introdução A pneumonia hospitalar é a principal causa de morte dentre as infecções hospitalares. A prevalência de pneumonia hospitalar em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) varia de 10 a 65%, com taxas de mortalidade que podem variar de 24 a 76%. A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) é um determinante de mortalidade independente em pacientes submetidos à ventilação mecânica. A adequação do tratamento empírico precoce parece ser fundamental no prognóstico. Os critérios atualmente estabelecidos para avaliar adequação do tratamento empírico utilizam parâmetros clínicos, escores de gravidade e, principalmente, a sensibilidade do germe causador da infecção aos antibióticos administrados. Estes resultados balizam a necessidade de possíveis modificações no esquema antimicrobiano. A possibilidade de utilizar a Procalcitonina (PCT), a Proteína-C Reativa (CRP) e o escore SOFA (Avaliação de Falência de Órgãos Relacionada a Sepse), como indicadores de resposta do paciente, comparando seu status no dia do início do tratamento antimicrobiano (D0) com a evolução destes indicadores no quarto dia de tratamento (D4) abre a possibilidade de comparar o paciente com ele próprio, independente da exuberância da expressão da resposta inflamatória que ele possa desenvolver. Os resultados desta cinética entre D0 e D4 podem ser preditivos de gravidade de infecção, de eficiência antimicrobiana, e possivelmente de sobrevivência ou mortalidade hospitalar nos pacientes com suspeita de PAV. Objetivos Determinar e comparar o valor prognóstico de sobrevivência da cinética da PCT, da CRP, dos escores clínicos CPIS (Escore Clínico de Infecção Pulmonar) e SOFA, e do APACHE II (Avaliação da Fisiologia Aguda e da Saúde Crônica) na PAV entre o diagnóstico e o quarto dia de tratamento, quando a adequação do tratamento é avaliada. Pacientes e Métodos Realizamos um estudo de coorte prospectivo observacional que avaliou 75 pacientes internados no Centro de Tratamento Intensivo clínico-cirúrgico de adultos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre que desenvolveram PAV no período de outubro de 2003 a agosto de 2005. Os pacientes com suspeita clínica de PAV que se adequaram aos critérios de inclusão e exclusão do estudo foram os candidatos a participar. Os familiares ou representantes dos pacientes receberam esclarecimentos por escrito acerca dos exames a serem realizados, bem como dos objetivos gerais da pesquisa. Os que aceitaram participar do estudo assinaram o termo de Consentimento Informado. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. No dia do diagnóstico de PAV foram coletados aspirado traqueal quantitativo, hemoculturas e sangue para a realização de dosagens de PCT, CRP, hemograma, plaquetas, creatinina, bilirrubinas, gasometria arterial e radiografia de tórax, com o objetivo de calcular o CPIS e o escore SOFA. No terceiro dia de tratamento foram novamente coletados aspirados traqueais quantitativos e os demais exames para o cálculo do CPIS. No quarto dia foi coletado sangue para dosagens de PCT, CRP e para os demais exames necessários para o cálculo do SOFA. Os pacientes foram acompanhados por 28 dias após o diagnóstico de PAV, quando foram considerados sobreviventes. Todos os pacientes que morreram antes do vigésimo oitavo dia foram considerados não-sobreviventes. Resultados Os níveis de PCT foram mais baixos nos sobreviventes em D0 (p=0.003) e em D4 (p=0.001). Os níveis de CRP não foram diferentes em sobreviventes e nãosobreviventes em D0 (p=0.77) e em D4 (p=0.14). O CPIS não pode diferenciar sobreviventes de não-sobrevientes em D0 (p=0.32) e em D3 (p=0.45). ΔCPIS decrescente não foi correlacionado a sobrevivência (p=0.59), o mesmo ocorrendo com CPIS <6 em D3 (p=0.79). Pacientes que morreram antes de D4 não puderam ter sua cinética calculada e foram considerados casos perdidos. Variáveis incluídas no modelo de regressão logística univariável para sobrevivência foram idade, APACHE II, ΔSOFA decrescente, ΔPCT decrescente e ΔCRP decrescente. Sobrevivência foi diretamente correlacionada a ΔPCT decrescente com RC = 5.67 (1.78;18.03) p = 0.003, ΔCRP com RC = 3.78 (1.24;11.50) p = 0.02, ΔSOFA decrescente com RC = 3.08 (1.02;9.26) p = 0.05 e escore APACHE II com RC = 0.92 (0.86;0.99) p = 0.02. O modelo de regressão logística multivariável para sobrevivência incluiu todas as variáveis participantes da análise univariável. Somente ΔPCT decrescente com RC = 4.43 (1.08;18.18) p = 0.04 e ΔCRP com RC = 7.40 (1.58;34.73) p = 0.01 permaneceram significativos. A avaliação da cinética dos marcadores inflamatórios e a associação com sobrevida no estudo mostraram que: - Em 95,1% dos sobreviventes houve queda dos níveis de PCT ou de CRP. - Em 61% dos sobreviventes ambos os níveis de PCT e de CRP caíram. Apenas 4,9% dos sobreviventes tiveram níveis de PCT e CRP crescentes. Com relação aos não-sobreviventes, 78.9% tiveram pelo menos um dos dois marcadores ou ambos com níveis crescentes. Conclusão As cinéticas da PCT e da CRP, obtidas pelas dosagens de seus níveis no dia do diagnóstico e no 4º dia de tratamento, podem predizer sobrevivência em pacientes com PAV. A queda dos níveis de pelo menos um destes marcadores ou de ambos indica maior chance de sobrevivência. / Introduction: Nosocomial pneumonia is the main cause of death among hospital acquired infections, with prevalence in Intensive Care Unit (ICU) patients ranging from 10 to 65%. The mortality rate for Ventilator-associated Pneumonia (PAV) ranges from 24 to 76%. PAV is an independent mortality risk factor for patients submitted to mechanical ventilation. Adequacy of early antimicrobial treatment is an important determinant of survival. Adequacy of antimicrobial therapy is usually assessed in the third day of treatment, by microbiological identification and the evolution of clinical parameters or scores of severity. Results are used to guide changes on antimicrobial treatment. Patients may express different serum levels of markers when exposed to bacterial toxins. Kinetics advantage is that, independently of an absolute value, modifications may be correlated to the outcome. Procalcitonin (PCT), C-Reactive Protein (CRP) and SOFA (Sepsis-related Organ Failure Assessment) score kinetics from D0 to D4 may indicate infection severity, antimicrobial efficiency and possibly predict survival or mortality in PAV patients. Objective: Study performed to assess the prognostic value of the kinetics of PCT, CRP and clinical scores CPIS (Clinical Pulmonary Infection Score), SOFA, and APACHE II (Acute Phisiology and Chronic Health Evaluation) in the outcome of ventilatorassociated pneumonia at an early time point, when adequacy of antimicrobial treatment is evaluated. Patients and Methods: This prospective, observational cohort study was conducted in the clinical/surgical 26-bed intensive care unit of Hospital de Clinicas de Porto Alegre (HCPA), a tertiary care-teaching hospital. The 75 patients who developed PAV from October 2003 to August 2005 were enrolled, observing inclusion and exclusion criteria. Research protocol was reviewed and approved by the Human Research Committee from the institution and informed written consent was obtained from patients representatives prior to enrollment. On the diagnosis day, Quantitative Endotracheal Aspirate (QEA), blood samples for PCT, CRP, cultures, complete blood count with platelets, creatinine, bilirrubines and blood gases were collected and chest x-ray was performed to determine CPIS and SOFA scores. In the third day QEA and tests necessary to calculate CPIS were collected. In the fourth day blood was collected for PCT, CRP and to calculate SOFA score. Patients were followed for 28 days after the diagnosis, when they were considered survivors. Patients who died before Day 28 were the non-survivors. Results: PCT levels were lower in survivors in D0 (p=0.003) and in D4 (p=0.001). CRP levels showed no difference between survivors and non-survivors in D0 (p=0.77) and in D4 (p=0.14). CPIS did not discriminate survivors from non-survivors in D0 (p=0.32) and in D3 (p=0.45). Decreasing ΔCPIS was not related to survival (p=0.59), neither CPIS <6 in D3 (p=0.79). Patients who died before D4 could not have kinetics determined and are missing cases. Variables included in the univariable logistic regression model for survival were age, APACHE II, decreasing ΔSOFA, decreasing ΔPCT and decreasing ΔCRP. Survival was directly related to decreasing ΔPCT with OR=5.67 (1.78;18.03), decreasing ΔCRP with OR=3.78 (1.24;11.50), decreasing ΔSOFA with OR=3.08 (1.02;9.26) and APACHE II score with OR=0.92 (0.86;0.99). In multivariable logistic regression model for survival only decreasing ΔPCT with OR=4.43 (1.08;18.18) and decreasing ΔCRP with OR=7.40 (1.58;34.73) remained significant. Decreasing ΔCPIS was not related to survival (p=0.59). Crosstabulation of PCT and CRP kinetics with survival in the 60 patients who had kinetics available showed: - From the 41 survivors, 25 (61.0%) had both PCT and CRP decreasing levels and (95.1%) had either one or both with decreasing levels. - Only 2 (4.9%) survivors had both PCT and CRP increasing levels. From the 19 non-survivors, 4 (21.1%) had both PCT and CRP decreasing levels and 15 (78.9%) had either one or both with increasing levels. Conclusions: Kinetics of PCT and CRP, measured at onset and the fourth day of treatment, can predict survival of PAV patients. The decrease of either one of these markers values or both indicates higher odds for survival.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:www.lume.ufrgs.br:10183/7322 |
Date | January 2006 |
Creators | Seligman, Renato |
Contributors | Teixeira, Paulo Jose Zimermann |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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