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Desavenças: poesia, poder e melancolia nas obras do doutor Francisco de Sá de Miranda / Disagreement: poetry, power and melancholy in the doctor\'s works Francisco de Sá de Miranda

Esta tese pretende estabelecer os nexos históricos entre dois aspectos aparentemente contraditórios da atuação do poeta quinhentista português Francisco de Sá de Miranda (1486?-1558): a inovação na poesia e a retirada para o campo. Por um lado, ele foi o letrado e cortesão responsável pela introdução na lírica portuguesa de formas italianas como o soneto e o verso hendecassílabo. Por outro, foi o senhor de terras que decidiu se afastar da corte de D. João III e ir morar numa quinta distante, no Norte de Portugal. A partir do seu retiro campestre, Sá de Miranda passou a se dedicar ao gênero da epístola em verso, espalhando em suas \"cartas\" sua crítica dos destinos que ia tomando o reino de Portugal em meados do século XVI, sobretudo com relação às Índias, ao comércio das especiarias e às navegações. O afastamento do corpo do autor permitiu que sua imagem nas letras sobressaísse: Sá de Miranda se retirou da corte, mas não da cultura letrada. Sem deixar de reconhecer sua própria amargura diante das circunstâncias da vida humana, ele não aderiu à doutrina neoplatônica de exaltação da melancolia como enfermidade dos homens de gênio. Para ele, como adepto da atitude estóica difundida no Renascimento, a desavença consigo próprio experimentada pelo indivíduo melancólico era análoga à desordem do corpo político entregue à corrupção e à cobiça. Seu modo de resistir à própria melancolia acabou revelando uma melancolia própria do ordenamento político moderno, ao qual também cumpria resistir. / This thesis aims at establishing historical links between two aspects of the trajectory of the sixteenth-century portuguese poet Francisco de Sá de Miranda (1486?-1558) that appear to be contradictory: innovation in poetry and retreat to the country. On the one hand, he was the man of letters and courtier that introduced in Portuguese poetry Italian poetical forms such as the sonnet and the hendecasyllable verse. On the other hand, he was the landlord who decided to retreat from the court of the King D. João III and live in his distant manor in northern Portugal. From his country retreat, Sá de Miranda devoted himself to the genre of the verse epistle, spreading in his \"letters\" his criticism of the directions taken by the Kingdom of Portugal in mid-Sixteenth Century, especially concerning its expansion to India, the commerce of spices and the navigations. While the author\'s body moved away, his literate image could take the front scene: Sá de Miranda retreated from the court, not from the culture of letters. Although he acknowledged his own bitterness in respect to the facts of human life, he did not adopt the Neoplatonic exhalted view of melancholy as the typical condition of the men of genius. For him, as a supporter of the Stoic attitude disseminated in Renaissance, the melancholy man\'s disagreement with himself was analogous with the disorder of a political body taken over by corruption and greed. Thus, his way of resisting his own melancholy ended up revealing the modern political order\'s own melancholy, demanding resistance as well.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-13032008-135134
Date20 December 2007
CreatorsAmaral, Sérgio Alcides Pereira do
ContributorsSouza, Laura de Mello e
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
TypeTese de Doutorado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

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