Esta tese trata do estatuto silábico das consoantes finais /r, l, s, n/ no Português. Partimos, inicialmente, da proposta de Harris e Gussmann (1998), segundo a qual as consoantes finais não ocupam a coda silábica, mas são onsets de sílabas com núcleos vazios. Essa proposta baseia-se em uma concepção de estrutura silábica independente da estrutura segmental e que obedece às condições próprias (condições de licenciamento), as quais determinam a boa formação silábica. Nesse sentido, a estrutura silábica pode ser bem formada independentemente da estrutura segmental que a preenche. Assim se explica a ideia de Harris e Gussmann (1998) de núcleos vazios, isto é, de sílabas bem-formadas em termos de estrutura silábica, mas com núcleo não preenchido. Para procedermos a esta discussão, o trabalho foi subdividido em quatro capítulos. No primeiro, apresentamos a abordagem de que consoantes finais são onsets, buscando entender as implicações dessa abordagem e seus desdobramentos. Fazemos também uma comparação com abordagens alternativas, como a da extraprosodicidade e das semissílabas. Noções como a de licenciamento e outros detalhes da perspectiva adotada por Harris e Gussmann (1998) são explicitadas no capítulo 2, no qual também buscamos abordar os principais pressupostos da tese. Embasamo-nos na perspectiva de que a gramática é regida por princípios e parâmetros, admitindo marginalmente a existência de condições e regras específicas à língua. Adotamos também a perspectiva da existência de mais de um nível representacional. A abordagem considera tanto níveis derivacionais, como proposto pela Fonologia Lexical, Kiparsky (1982), quanto a de representação abstrata das estruturas fonológicas, com vários níveis (tiers) estruturais independentes, hierarquicamente organizados. Dessa forma, o núcleo vazio é criado no Léxico e pode ser preenchido, ainda nesse nível, por vogais introduzidas pela sufixação e pela flexão. Por outro lado, uma sílaba com núcleo vazio pode prosseguir até o nível pós-lexical sem precisar ser preenchido com conteúdo segmental. No capítulo 3, trazemos algumas línguas para as quais foi defendida na literatura a existência de consoante final como onset de um núcleo vazio, que denominamos línguas NV. Diferentes processos ilustram a existência dessas categorias após uma consoante na posição final. A observação das evidências para os núcleos não preenchidos foneticamente em distintos idiomas reforça a ideia de que eles sejam estruturas representacionais possíveis; além disso, traz informações para a construção da argumentação da análise de núcleos vazios para o Português. No capítulo 4, argumentamos pela análise das consoantes finais /l, r, s/ como onsets de sílabas com núcleos vazios. Para essa argumentação, trazemos inicialmente a análise do estatuto silábico das consoantes finais no Português Europeu, com base em Mateus e D’Andrade (2000). Em seguida, analisamos argumentos baseados na literatura sobre o Português Brasileiro para cada um dos segmentos finais, mostrando que a análise como onset final é compatível com o comportamento observando para essas consoantes. A nasal final, por sua vez, não pode ser considerada onset como as outras, pois se trata do processo de nasalização da vogal, em que não há um segmento consonantal, mas um glide nasal, conforme Battisti (1997). Por fim, propomos a representação de uma estrutura CVC] como constituída silabicamente como CV.CØ]. A análise adota, ainda, a existência do Parâmetro da Consoante Final que estaria ativado no Português Brasileiro. / This thesis focuses on the syllabic status of word-final consonants /r, l, s, n/ in Portuguese. We had as initial proposal the one presented by Harris and Gussmann (1998), according to which word-final consonants do not occupy the syllable coda, but the onset of a syllable containing an empty nucleus. Such proposal is based on a conception of syllable structure independent of the segmental structure and obeys constraints (licensing constraints) that determine the syllable well-formedness. Following this assumption, the syllable structure can be well-formed independently of the segmental structure that fills it. This explains the authors’ idea of empty nuclei, i.e. of well-formed syllables in terms of syllable structure despite an unfilled nucleus. To proceed to this discussion, this work was divided into four chapters. On the first chapter, we present the approach of C] as onsets, as a way of understanding the implications of this approach and their unfolding. We also compare it to alternative approaches, such as the extraprosodicity and the semisyllable ones. The notion of licensing, among other notions, and some other details of the perspective adopted by Harris e Gussmann (1998) are presented on Chapter 2, on which we also try to make the main presuppositions of this thesis explicit. We adopted the perspective of a grammar ruled by principles and parameters, assuming marginally the existence of specific conditions and rules to the language. We also adopted the perspective that assumes the existence of more than one representational level. This approach considers both the derivational levels, as proposed by Lexical Phonology, Kiparsky (1982), and the abstract representation of phonological structures, with independent structural tiers, hierarchically organized. Thus the empty nucleus is created on the Lexicon and can be filled, on this same tier, by vowels inserted through suffixation and inflection. On the other hand, an onset of a syllable containing an empty nucleus can proceed up to the pos-lexical level without being necessary to be filled by any segmental content. On chapter 3, we mention some languages to which it was assumed the existence of word-final consonant as the onset of an empty nucleus. These languages are named NV languages. Different processes show the existence of empty nucleus after a word-final consonant. The observation of evidences to empty nuclei in different languages reinforces the idea that these empty nuclei are possible representational structures; besides, it carries information to the argumentation construction of the empty nucleus analysis in Portuguese. On chapter 4, we argue for the word-final consonants /l, r, s/ analysis as onsets of syllables containing empty nuclei. For this argument, we bring up the analysis of the syllabic status of word-final consonants in the European Portuguese, based on Mateus e D’Andrade (2000). Then we analyze arguments based on the literature about Brazilian Portuguese to each word-final segment, showing that the word-final onset analysis is compatible with the behavior observed to these consonants. The word-final nasal, however, cannot be considered syllable onset as the other consonants, because this represents the vowel nasalization process, in which there is no consonantal segment, but a nasal glide instead, according to Battisti (1997). Finally, we propose the representation of a CVC] structure as CV.CØ]. This analysis adopts the existence of Word-final Consonant Parameter that would be active in the Brazilian Portuguese.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/62017 |
Date | January 2012 |
Creators | Barbosa, Patrícia Rodrigues |
Contributors | Collischonn, Gisela |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.004 seconds