Na aula de 21 de Janeiro de 1976, proferida no Collége de France, Michel Foucault faz uma breve referência ao Sebastianismo como exemplo de um discurso associado a uma contra-história. A alusão surge no contexto da análise das relações de poder e da discursividade subjacente à luta das raças. Trata-se de um discurso elaborado por autores como Coke ou Lilburne em Inglaterra e por Boulanvillier e Buat- Nançay em França, e cujo ponto de inteligibilidade é a divisão do corpo social e a consequente reactivação da guerra através de outros meios que não os do conflito armado. Este trabalho trata das condições de possibilidade do mito sebastianista e das suas metamorfoses. Não pretende apresentar uma delimitação categórica e definitiva daquilo que possibilitou o Sebastianismo no devir histórico, mas de uma proposta de confrontação entre grelhas de leitura que subjazem a um contexto político e cultural particular e a transfigurações discursivas e epistemológicas que não se restringiram à idiossincrasia nacional. Opondo-se ao discurso universal, totalizador, normativo e neutro da verdade jurídico-filosófica, o mito sebastianista assoma como a prédica do derrotado e do proscrito, põe em circulação a denúncia das injustiças cometidas e anuncia uma ordem outra. O Sebastianismo emerge, por conseguinte, não apenas como discurso desqualificado e estranho à tradição filosófica, mas afirma-se, sobretudo, como agente impulsionador das instituições e da ordem e como reactivação de uma guerra silenciosa no interior dos mecanismos de poder.
Identifer | oai:union.ndltd.org:up.pt/oai:repositorio-aberto.up.pt:10216/57344 |
Date | January 2011 |
Creators | Ferreira, Leonel da Costa |
Publisher | Porto : [Edição do Autor] |
Source Sets | Universidade do Porto |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Dissertação |
Format | application/pdf |
Source | http://aleph.letras.up.pt/F?func=find-b&find_code=SYS&request=000211543 |
Rights | openAccess |
Page generated in 0.002 seconds