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Previous issue date: 2015-09-22 / A manutenção da qualidade dos solos tem sido um desafio para cientistas, técnicos e agricultores. Dados da FAO apontam que 25% dos solos agrícolas do mundo estão degradados, o que fez com que a ONU decretasse 2015 o Ano Internacional dos Solos, buscando sensibilizar a sociedade mundial para este problema, que compromete a sustentabilidade do planeta. A avaliação dos solos se faz com o uso de indicadores, atributos do solo que permitem avaliar e concluir sobre a sua qualidade. Esses indicadores são desenvolvidos por cientistas e por agricultores. O desafio posto é promover um diálogo entre os indicadores acadêmicos e os etnoindicadores, para orientar o manejo do solo de forma a potencializar suas funções e a sustentabilidade da agricultura. O objetivo geral desta tese foi identificar e sistematizar, de forma dialogada com os/as agricultores/as familiares, etnoindicadores de qualidade do solo e, a partir deles, constuir uma base de avaliação sobre a qualidade do solo e estratégias de manejo sustentável dos agroecossistemas. O referencial teórico-metodológico utilizado foi a pesquisa participante, com a utilização de técnicas participativas para o reconhecimento e valorização do saber dos agricultores, com base nos princípios da Etnopedologia e da Agroecologia. Os etnoindicadores de qualidade do solo utilizados pelos agricultores de duas comunidades rurais dos municípios de Araponga (Sítio Oito de Março) e Muriaé (Associação Bonsucesso) foram identificados e sistematizados. Tais comunidades se localizam na Zona da Mata de Minas Gerais, Brasil. Realizou-se em conjunto com os agricultores a estratificação ambiental e a espacialização dos ambientes, utilizando etnoindicadores de qualidade do solo, e avaliou-se também com os agricultores a qualidade dos diferentes ambientes estratificados. A análise química foi o ponto de partida para uma discussão sobre formação de solo e manejo integrado da fertilidade com ênfase nas práticas agroecológicas de manejo do solo, que compreendem a fertilidade do solo de forma holística e não apenas como um balanço de nutrientes presentes no solo. Levantaram-se vinte e dois indicadores, sete deles referentes a aspectos biológicos do solo, dois a atributos químicos, sete referentes aos aspectos físicos e seis indicadores visuais. Os resultados demonstraram a riqueza de conhecimentos dos agricultores/as sobre o solo e as diversas interações que ocorrem em seus agroecossistemas. Os agricultores de Araponga estratificaram a área do Assentamento Sítio Oito de Março em treze ambientes diferentes e os agricultores de Muriaé estratificaram a área da Associação Bonsucesso em quinze ambientes distintos. A partir das informações dos agricultores foi construída uma chave de identificação de ambientes para cada assentamento, sendo a pedoforma o principal atributo de estratificação. A estratificação realizada pelos/as agricultores/as foi similar às classificações científicas no que se refere à pedoforma, mas incorporou outros atributos do solo, como a estrutura e a exposição do terreno ao sol, o que permitiu maior detalhamento, possível nesta escala de trabalho. Com o uso de uma metodologia participativa e de campo, os agricultores aprenderam a avaliar os diferentes ambientes dos assentamentos, atribuindo-lhes notas. Com isto, os agricultores podem, com suas adaptações, aperfeiçoar ainda mais sua capacidade de observação, monitoramento e avaliação de seus ambientes e melhorar o manejo de seus agroecossistemas. A riqueza de informação sobre os etnoindicadores de qualidade do solo aliada à estratificação ambiental demonstrou o enorme conhecimento dos agricultores sobre o solo e as diversas interações que ocorrem em seus agroecossistemas. Este conhecimento não é estático, pelo contrário, está em constante transformação, pois eles aprendem na medida em que manejam e observam suas áreas, assim como quando interagem com outras pessoas. Muitos indicadores apontados pelos agricultores são encontrados na literatura científica internacional, demonstrando assim que o conhecimento dos agricultores é mais cosmopolita do que sugere algumas literaturas. Em muitos casos os indicadores apontados pelos agricultores coincidiram com os indicadores técnicos de qualidade do solo, mas em alguns casos suas avaliações são mais detalhadas porque utlizam indicadores mais sensíveis. Por exemplo, os solos de diversas áreas não apresentaram diferenças quando utilizada a análise química de rotina como indicadora, mas com base nas plantas espontâneas, tais áreas diferenciadas e estratificadas em mais detalhes. Considerou-se que o uso de indicadores técnicos e etnoindicadores foram complementares e ambos foram importantes para avaliar a qualidade do solo com mais precisão. O processo de troca de conhecimentos entre técnicos e agricultores foi imensamente rico, com todos aprendendo e ensinando e contribuiu para ressignificar a avaliação da qualidade do solo, muitas vezes feita com base exclusivamente na análise química de rotina dos solos. Esta também foi ressignificada durante os estudos, onde os agricultores tiveram a oportunidade de aprender como interpretar seus resultados. Uma metodologia denominada “Feira de Solos” foi utilizada para devolver os resultados da pesquisa sobre etnoindicadores de qualidade do solo. Durante a feira foi possível trocar outras experiências e aprofundar ainda mais o conhecimento sobre manejo agroecológico do solo com agricultores e agricultoras participantes da pesquisa. A devolução dos resultados das pesquisas foi entendida como um compromisso social e ético assumido pelo pesquisador, e parte da pesquisa participante. O seminário de defesa da tese foi entendido também como parte do processo de intercâmbio entre o saber local e o conhecimento científico e por isto foi acompanhado pelos agricultores participantes da pesquisa. / The maintenance of soil quality has been a challenge for scientists, technicians and farmers. FAO data show that 25% of agricultural soils in the world are degraded, which caused the UN decreed 2015 the International Year of Soils, seeking to sensitize the world society to this problem, which jeopardizes the sustainability of the planet. The evaluation of soil is done with the use of indicators, developed by scientists and by farmers. The challenge posed is to promote a dialogue between academic indicators and etnoindicators to guide soil management in order to enhance its functions and the sustainability of agriculture. The objective of this thesis was to identify and systematize, in a dialogue with the farmers, the etnoindicators relatives of soil quality and, from them, build a knowledge base on soil quality and sustainable management strategies of agro-ecosystems. The theoretical framework used was participatory research, with the use of participatory techniques for identifying and recognizing the knowledge of farmers, based on the principles of Ethnopedology and Agroecology. The soil quality etnoindicators used by farmers in two rural communities in the municipalities of Araponga (Sítio Oito de Março) and Muriaé (Associação Bonsucesso) were identified and systematized. These communities are located in the Zona da Mata, Minas Gerais State, Brazil. Together with farmers, using etnoindicators soil quality, an environmental stratification and map of the environments were done, as well as, the evaluation of the quality of different stratified environments. Chemical analysis was the starting point for a discussion on soil formation and integrated management of fertility with emphasis on agroecological practices of soil management, which comprise the fertility holistically and not only as a nutrient balance in the soil. The survey identified twenty-two indicators, seven of them related to soil biology, two to the chemical attributes, seven related to the physical attributes, and six to the visual indicators. The results demonstrated the richness of the knowledge of the farmers related to the soil and the various interactions that occur in their agricultural ecosystems. The farmers, in Araponga, stratified the area of the Sítio Oito de Março in thirteen different environments and the farmers, in Muriaé, stratified the area of Associação Bonsucesso in fifteen different environments. From the information of farmers, an identification key for the environments was organized for each settlement. The landform was the main attribute to stratify the environments. The stratification performed by farmers was similar to scientific stratification with respect to the landform, but incorporated other soil properties, such as structure and the exposure of the field to the sun, allowing more details, possible in this working scale. Using a participatory and field methodology, farmers have learned to evaluate the different environments of the settlements, giving them notes. As a result, farmers can, with their adaptations, further improve their capacity for observation, monitoring and evaluation of their environments and for improve the management of their agro-ecosystems. A richness of information on soil quality etnoindicators coupled with the information on environmental stratification demonstrated the amount of knowledge of farmers. This knowledge is not static, on the other way around, it is constantly changing as the farmers keep observing their areas, as well as interacting with others. Many indicators pointed by the farmers are found in the international scientific literature, demonstrating that the knowledge of farmers is more cosmopolitan than some literature suggest. In many cases the indicators mentioned by the farmers coincided with the technical indicators of soil quality, but in some cases their assessments are more detailed because they use more sensitive indicators. For example, soils from different areas showed no differences when using the routine chemical analysis as an indicator, but based on weeds, such areas were differentiated and stratified in more detail. We considered that the use of technical indicators and etnoindicators were complementary and both were important for evaluating soil quality more accurately. The process of exchange of knowledge between technicians and farmers was immensely rich, with all learning and teaching and contributed to reframe the assessment of soil quality, often made based solely on chemical routine analysis of the soil. The routine analysis also got a new meaning during the studies, when the farmers had the opportunity to learn how to interpret it. The methodology called “Soil Fair” was used to share the results of the research. During the fair it was possible to exchange other experiences and further deepen knowledge on the agro-ecological soil management with farmers participating in the research. To share the research results was a social and ethical commitment of the researcher. The thesis defense seminar was also understood as part of the exchange process between local and scientific knowledge and because of that it was accompanied by the farmers enrolled in the research.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:localhost:123456789/10338 |
Date | 22 September 2015 |
Creators | Calixto, Juliana Sena |
Contributors | Botelho, Maria Izabel Vieira, Cardoso, Irene Maria |
Publisher | Universidade Federal de Viçosa |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Repositório Institucional da UFV, instname:Universidade Federal de Viçosa, instacron:UFV |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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