Resumo:Para delinear a gênese do simbólico em Merleau-Ponty, percorremos em suas obras
iniciais, A estrutura do comportamento e Fenomenologia da percepção, os elementos que
apontam para o surgimento desta ordem e suas implicações na filosofia do autor.
Primeiramente, compreendendo a divisão realizada pelo filósofo francês em três grandes
estruturas, a física, a vital e a humana, bem como o envolvimento destas ordens com o
plano do simbólico. A partir daqui, a presente leitura diverge de alguns comentadores no
que tange a abrangência deste novo campo, pois o simbólico para uns, é exclusivo do
humano, quando no próprio Merleau-Ponty ele se inicia no plano da adaptação
(instrumental) do animal ao seu meio. Assim, veremos a diferença existente entre o campo
simbólico que se abre ao animal e o que torna possível ao humano uma multiplicidade
perspectiva. Tal ganho humano será realizado não por uma consciência constituinte do
mundo, ele virá como movimento do corpo em direção a um mundo que ele nunca abarca,
mas que ele não deixa de vivenciar. Num segundo momento, carece entender o papel que o
corpo ocupa na filosofia de Merleau-Ponty e contra que perspectivas ele surge. Tendo em
vista a necessidade do autor de superar a dicotomia clássica entre sujeito e objeto, signo e
significação, alma e corpo; o corpo assumirá o privilégio de ser o sujeito da percepção, o
veículo do ser no mundo. Desta forma, o corpo deve possibilitar a imbricação destas esferas
antes opostas, ele deve permitir a assunção paradoxal do ser “para-nós” e “em-si”, se
expressando como corpo simbólico. Mas será justamente no retorno à experiência
primordial de expressão, neste movimento de abertura para o novo, que uma certa
“polarização” é requerida para que se dê o nascimento do sentido, e esta abertura será
exposta por Merleau-Ponty como “não-ser”. Neste momento a Fenomenologia da
percepção pode ser levada a um impasse, pois a postulação de um não-ser instaura uma
dupla interpretação no discurso merleaupontiano. De um lado, podemos compreendê-la
como inerente ao movimento de expressão criadora, pois para que o novo se engendre é
preciso manter uma distância que não seja reconhecida como completa exterioridade e nem
mesmo como suporte interior; desta forma, o não-ser seria entendido como uma abertura
necessária no âmbito da própria temporalidade, sendo aquilo que impede a expressão de se
fixar totalmente, possibilitando o surgimento de significações autênticas. Por outro lado, tal
postulação pode ser entendida como reveladora de um impensado em Merleau-Ponty.
Como se esta postulação reabrisse o dualismo por meio de um resquício de idealismo que
exige ainda a presença de um si indeclinável, uma vez que este não-ser seria compreendido
ainda como uma interioridade por meio da qual a experiência é organizada. Por fim, ao
tentarmos compreender o movimento temporal, fundamento de todas as descrições
merleau-pontianas, é que poderemos entender qual é o sentido que o filósofo confere a esta
noção de não-ser (ou de vazio, por oposição a um ser pleno), tendo em vista o projeto de
uma fenomenologia da percepção. E com isso, poderemos descobrir se há realmente criação
na Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty ou se tudo já está dado de antemão.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:dspace.c3sl.ufpr.br:1884/27345 |
Date | 16 May 2012 |
Creators | Scarpa, Mariana Cabral Tomzhinsky |
Contributors | Moutinho, Luiz Damon Santos, 1964-, Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciencias Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduaçao em Filosofia |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Repositório Institucional da UFPR, instname:Universidade Federal do Paraná, instacron:UFPR |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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