Desde seu nascimento, há quase trinta anos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem se destacado pela perenidade de sua organização e disposição de estimular uma diversidade de vínculos capilares com a sociedade civil o que constitui uma das maiores novidades da história política contemporânea do campesinato brasileiro e voz mais expressiva da questão agrária na América Latina. Diante dessa constatação, o objetivo desta dissertação é apresentar e analisar como a dimensão internacionalista do MST enquanto elemento real e ativo de construção de um lócus político constitui-se historicamente, a fim de destacar as diversas influências políticas e ideológicas e a composição heterogênea de seu ativismo transnacional, que foram desenvolvidas (e assimiladas) tanto por circunstâncias políticas e econômicas em que o país enveredou quanto pela atuação das lideranças do MST. A hipótese central é de que, a partir da metade da década de noventa, o MST alcança o auge de sua projeção no exterior, não apenas pela referência mundial simbólica e política da luta camponesa, mas pela percepção de que o internacionalismo está enraizado nas condições materiais da luta de classes na agricultura mundializada. Desde então, inicia-se um processo de redefinição de sua estratégia política que passa a ser ampliada internacionalmente, na busca de convergência de linhas políticas e agendas em comum, principalmente com a Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC) e Via Campesina. Todavia, a política internacionalista do MST não nasce, cresce e amadurece politicamente apenas como reflexo passivo do avanço do capitalismo internacional do campo. O desenvolvimento desigual do capitalismo no campo brasileiro e a trajetória internacionalista do MST não constituem duas retas paralelas que podem ser relacionadas ponto a ponto. Na verdade, ambas adquirem configurações espaciais e temporais mais complexas e são estabelecidas em um constante encontro e desencontro. Por exemplo, a dimensão ética-moral e religiosa principalmente da fonte da Teologia da Libertação e da pastoral da terra é um fator essencial na motivação subjetiva de uma consciência humanista e universal latino-americana e de uma cultura política de solidariedade internacionalista permanente que o MST desenvolve a partir da própria formação específica que aqui se propõe estudar. / From its birth, almost thirty years ago, the Landless Workers\' Movement (MST) has distinguished itself for the continuity of its organisation and its disposition to stimulate a variety of capillary links with the civil society. This characteristic represents one of the major news in the contemporary political history of the Brazilian rural population, so that the MST has become the most expressive voice of the land reform in Latin America. Starting from this consideration, the purpose of this dissertation is to show and analyse how the internationalist dimension of the MST considered as a real and active element of constitution of a political space took form historically, in order to highlight the different political and ideological influences, and the heterogeneous composition of its international activism, which were developed (and assimilated) both by the political and economic circumstances in the countries where it took place, and by the MST leadership\'s action. The main hypothesis hereby presented is that, beginning from the mid-nineties, the MST gets the peak of its projection towards the exterior, not only for the symbolic and political worldwide relevance of the peasants fight, but for the perception that internationalism is rooted in the material conditions of the class struggle in globalized agriculture. Since then, it begins a process of re-definition of its political strategy that spreads world-widely, in search of a convergence of political lines and common agendas, mainly with the Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC) and Via Campesina. Still, the internationalist policy of MST does not begin, grow and mature politically only as a passive mirroring of the progress of international capitalism of land. That is, the unequal development of capitalism in the Brazilian land and the internationalist trajectory of the MST do not constitute two parallels that can be related to each other point-by-point. Actually, the two of them get more complex spatial and temporal configurations, and are formed in a constant dialectic of agreements and disagreements. The religious and ethical-moral dimension principally from the liberation theology and the pastoral of land, for instance, is an essential factor in the subjective motivation of a humanistic and universal Latin-American awareness and of a political culture of permanent internationalist solidarity that the MST develops starting from its own specific formation, which is the object of the present study.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-10052013-121248 |
Date | 07 March 2013 |
Creators | Rubbo, Deni Ireneu Alfaro |
Contributors | Braga Neto, Ruy Gomes |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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