Esta pesquisa analisa a historiografia que abordou a formação das culturas afro-americanas e os intercâmbios culturais entre africanos e euro-americanos, mostrando como ela tem sido marcada por uma coexistência contraditória de premissas universalistas e particularistas a respeito da natureza da cultura. Tais contradições já podem ser observadas na antropologia culturalista de Franz Boas, que desliza entre duas definições de cultura por um lado, como um espírito orgânico e estável e, por outro, como um agregado histórico e dinâmico de costumes e ideias , apontando a permanência e a mudança como aspectos simultâneos dos contatos culturais. Melville Herskovits fundamentou-se na obra boasiana e herdou essas contradições ao realizar seu estudo sobre as culturas afro-americanas, representando-as simultaneamente como uma aculturação, na chave da descontinuidade com o passado, e como uma preservação de africanismos, na chave da continuidade com as culturas africanas. Tais dificuldades desdobram-se até o debate contemporâneo em torno do conceito de crioulização e da obra de Mintz e Price, que descreve das culturas afro-americanas ressaltando ao mesmo tempo a criatividade e a sobrevivência de estruturas africanas. Autores filiados à chamada corrente afrocêntrica tentaram resolver esses impasses minimizando a transformação e privilegiando a continuidade com o passado, no que intensificaram o dualismo implícito na vertente particularista de análises anteriores. Uma outra tradição de estudos sobre os intercâmbios culturais em sociedades coloniais incluindo autores como Gilberto Freyre, Fernando Ortiz e outros associados ao pensamento pós-colonial desenvolveu um modelo conceitual distinto, centrando-se nas ambivalências e inversões presentes na dimensão afetiva dos contatos culturais. Com isso, esses autores compreenderam o intercâmbio cultural a partir de uma lógica dialética, desconstruindo raciocínios dualistas, abraçando o caráter autocontraditório dos fenômenos e propondo, assim, uma alternativa teórica aos modelos herdados do culturalismo antropológico. / This work analyses the historiography which has studied the formation of African-American cultures and the cultural exchange between Africans and Euro-Americans, sustaining that it has been characterized by a contradictory coexistence of universalistic and particularistic presuppositions about the nature of culture. These contradictions can already be observed in Franz Boass Anthropological culturalism, which moves between two definitions of culture on the one hand, as an organic and stable spirit and, on the other hand, as a historical and dynamic aggregate of customs and ideas , indicating permanence and transformation as simultaneous aspects of cultural contact. Melville Herskovits was grounded on Boass ideas and inherited these contradictions when he studied African-American cultures, representing them simultaneously as an acculturation, focusing a discontinuous relation with the past, and as a preservation of africanisms, stressing a continuous relation with African cultures. These difficulties have unfolded themselves up to the contemporary debate about the concept of creolization and Mintz and Prices work, which describes African-American cultures focusing cultural creativity and the survival of African structures at the same time. Authors of the so-called afrocentric perspective have tried to solve this impasse by minimizing transformations and stressing continuity with the past. By doing so, they have intensified the dualism implicit on the particularistic arguments of previous analyses. Another tradition of studies about cultural exchange in colonial societies including authors such as Gilberto Freyre, Fernando Ortiz and others associated to post-colonial thought has developed a different conceptual model, which focuses on the ambivalences and inversions that can be observed on the affective dimensions of cultural contacts. These authors have interpreted cultural exchange through a dialectical logic, deconstructing dualistic thoughts, embracing the self-contradictory nature of the fenomena, and thus indicating a theorical alternative to the models inherited from anthropological culturalism.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-13102010-152346 |
Date | 30 June 2010 |
Creators | Alexandre Almeida Marcussi |
Contributors | Marina de Mello e Souza, Robert Wayne Andrew Slenes, Maria Cristina Cortez Wissenbach |
Publisher | Universidade de São Paulo, História Social, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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