Até a Ilustração, em decorrência da grande influência da religião no imaginário popular, das enormes limitações do saber médico e da ausência de serviço público de saúde, o êxito do processo de cura dos enfermos era predominantemente concebido antes de tudo como uma graça de Deus, concedida aos que fossem dignos de merecê-la. Por essa razão, a maior parte da população ficava entregue à sua própria sorte quando se via ameaçada pelas doenças. A partir de então, com o impulso dado à ciência, que já vinha sendo estimulada desde a Renascença, a elite médica começou a reformular as bases da medicina. Em meio a isso, foi mostrando a possibilidade de os problemas de saúde serem combatidos, inclusive preventivamente, por meio da combinação entre as técnicas de tal campo de conhecimento e ações governamentais. Assim, ela mobilizou-se para, por um lado, aprimorar os seus recursos contra as enfermidades com novas descobertas, por outro, elaborar propostas destinadas à melhora das condições da saúde pública, uma vez que essa melhora estava sendo cada vez mais compreendida como um pré-requisito do avanço da civilização e como uma necessidade humanitária. No Brasil, a elite médica que aqui atuou no século XIX, em sintonia com a reformulação do seu saber que estava ocorrendo na Europa e com alguns ideais da Ilustração, sobretudo o de progresso, empenhou-se para apresentar meios que pudessem superar a péssima situação sanitária do país. Dessa forma, seguindo a tendência de seus pares europeus, ela buscou promover a institucionalização da medicina, criando instituições de pesquisa e divulgação de conhecimento, para defender seus interesses corporativos e combater as causas que muito comprometiam a saúde dos indivíduos em geral, inclusive dos escravos. Entre elas, dedicou especial atenção àquelas que poderiam ser superadas com a mudança de costumes, tanto em relação ao corpo das cidades, quanto aos corpos dos seus habitantes. Com esse objetivo, os médicos que integravam a elite do seu campo de conhecimento no Brasil defenderam a intervenção governamental na vida social para impor novos hábitos condizentes com os preceitos da higiene à população, bem como a necessidade de a saúde ser transformada em objeto de interesse público, de acordo com o que estava ocorrendo na Europa desde a Ilustração, o que, com efeito, aos poucos foi aproximando o seu saber ao poder do Estado. Desse modo, eles acabaram, por meio dessa aproximação e do seu esforço destinado a promover uma reforma dos costumes prejudiciais à saúde, sendo convertidos na sociedade brasileira em um dos seus principais agentes reformadores a partir do século XIX. / Until the Enlightenment, due to the large influence of religion in peoples lives, the great limitations of medical knowledge and the absence of a decent public health service, the success of the healing processes was mainly conceived as Holy Grace, presented to those who were found worthy of it. Thus people were forced to rely on their own luck when threatened by diseases. From then on, with the throttle in science, which had already been encouraged ever since the Renaissance, the medical elite began to reformulate the basis of medicine. Meanwhile, it began to show a possibility of effective treatment for health problems, including preventive medicine through by combining its techniques along with governmental action. Hence it was mobilized so that on one hand it could develop its resources against diseases with new discoveries while on the other hand elaborating propositions to improve public health conditions, since it became clear that this was a requirement for the advancements in society and a human necessity. In Brazil, the medical elite had its major influence during the XIX century, in synchrony with the reformulating of its knowledge, the same went on in Europe enforced by Enlightenment ideals, particularly that of progress, working its way to change the decadent sanitary system of the country. Hence, following a European tendency, it struggled to promote the institutionalizing of medicine, creating research institutions and means to spread knowledge, to defend its corporative interests and fight the cause of health problems among the general public, including the slaves. Among which special focus was dedicated to those that could be overcome by the change of habits, in terms of city prospects, as well as its inhabitants. With this in mind, physicians who were part of the elite in their field of work in Brazil defended government intervention within social aspects to impose habits condescend with the hygienic precepts of the population, as well as the need of making health an object of public interest, accordingly to what had been happening in Europe since the Enlightenment, which, as a result, little by little approximated its knowledge to State power. Thus it was accomplished through this approximation and struggle destined to promote change in the habits which were prejudicial to health, having thus been converted in Brazilian society in one of its main reforming agents since the 19th century.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-15042009-143805 |
Date | 10 September 2008 |
Creators | Eugênio, Alisson |
Contributors | Rocha, Antonio Penalves |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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