O que são obras de arte, objetos únicos ou transformações de outras obras. O que a dança faz. O dançarino é quem pensa seu corpo ou é seu corpo que o pensa. Como se dão unidades de movimento, como aparecem, como e onde se fixam. De onde vem o olhar, para onde vai, que funções ou disfunções ele cumpre. Qual o lugar da relação entre intérpretes e espectadores, dissolução ou reformulação dessa fronteira. Pode uma obra de dança ser pensada nos moldes de um ritual, como o define Claude Lévi-Strauss [2011], enquanto uma busca um tanto desenfreada pelo contínuo do vivido em oposição à descontinuidade do pensamento mítico. Quantos corpos cabem num corpo, quantas pessoas podem ser um corpo. Não seria também o processo criativo um vasto ritual de passagem, como o descreve Victor Turner [2005], dançarinos neófitos que se deslocam do mundo social para voltarem a ele transformados, refeitos em corpos outros. Pode a dança ser considerada análoga à poesia, por transformar no corpo o que a poesia transforma na língua. São alguns dos problemas que vou criando ao longo deste ensaio, que é fruto de uma imersão etnográfica no universo dos ensaios do Núcleo Artérias, grupo de dança contemporânea da cidade de São Paulo, dirigido pela coreógrafa Adriana Grechi, com o qual me encontrei um tanto fortuitamente, devido ao interesse primeiro de etnografar processos criativos. Meus interlocutores em campo, além de Adriana, são nove dançarinas e três obras de dança contemporânea, Público [2010], Fleshdance [2012] e Bananas [2013], que são aqui desdobradas enquanto processos. A proporção teórica deste ensaio é fruto de algumas leituras mais significativas que fui fazendo ao longo do mestrado, leituras que passaram a informar a imersão etnográfica a que eu me propunha, influenciando meu olhar em campo e consequentemente o sentido das notas que eu ia fazendo. Sua porção etnográfica provém das notas que fui produzindo ao longo dos processos de Público, Fleshdance e Bananas, que frequentei semanalmente, do início ao fim, ora à distância do olhar ora adentrando os processos criativos, pontualmente, quando elas me pediam considerações. A maior parte do tempo passei no chão, sentado a um canto da sala de ensaios, em silêncio, observando e anotando, à mão. Foram três cadernos de campo inteiros. / What are works of art, unique objects or transformations of other works. What does dance do. Is the dancer who thinks their body or their body thinks the dancer. How do units of movement appear, how and where do they attach. Where does gaze come from, where does it go, what functions or dysfunctions does it meet. What is the place of the relationship between performers and spectators, dissolution or recast of that border. Can a dance work be thought of in terms of a ritual, as defined by Claude Levi-Strauss [2011], while a search somewhat unrestrained for the continuous of living as opposed to the discontinuity of mythical thought. How many bodies fit in a body, how many people can be a body. Is not the creative process also a wide rite of passage, as described by Victor Turner [2005], turning dancers into neophytes who move from social world to get back to it transformed, remade in other bodies. Can dance be considered analogous to poetry, by transforming in the body what poetry transforms in the language. These are some of the problems that create over this essay, which is the result of an ethnographic immersion into the world of the rehearsals of Núcleo Artérias, contemporary dance group from São Paulo, directed by choreographer Adriana Grechi. My interlocutors in the field, besides her, are nine dancers and three works of contemporary dance, Público [2010], Fleshdance [2012] and Bananas [2013], which are deployed here as processes. The theoretical proportion of this essay is the result of some more significant readings I did over master, readings that informed the ethnographic immersion, influencing my gaze on the field and consequently the meaning of the notes I was making. Its ethnographic portion comes from the notes that I produced over the rehearsals of Público, Fleshdance and Bananas, which I attended weekly, from start to finish, sometimes by looking, sometimes by entering the creative processes, occasionally, when they asked for my considerations. Most of the time I spent on the ground, sitting in a corner of the rehearsal room, silently watching and taking notes, by hand. There were three field notebooks, filled entirely.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-18052015-174049 |
Date | 28 November 2014 |
Creators | Renato Jacques de Brito Veiga |
Contributors | Rose Satiko Gitirana Hikiji, Rita de Cássia de Almeida Castro, Renato Sztutman |
Publisher | Universidade de São Paulo, Ciência Social (Antropologia Social), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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