A partir do final do século XIX, começa a se estruturar, em São Paulo, o modo capitalista de produção. A esta nova ordem, corresponde um novo e extraordinário produto de cidade: a metrópole paulista. O potencial de acumulação se apóia então na diversidade de formas de produção habitacional: é a complementaridade entre formas modernas e aparentemente atrasadas que viabiliza e amplia a acumulação em contexto de subdesenvolvimento. Isto vale tanto para a acumulação geral, através do peso da habitação na definição dos custos de reprodução da força de trabalho, como para a rentabilidade do setor da construção civil. A diversidade de formas de produção do espaço construído, esta característica associada à condição de subdesenvolvimento, fundamenta a estruturação rádioconcêntrica de São Paulo durante o século XX. Entretanto, a complexidade da produção e da estrutura da cidade ultrapassa a dicotomia centro x periferia. De forma incipiente na década de 1970, e especialmente a partir da década de 1980, o esgotamento do modelo de acumulação implica numa reestruturação da cidade sem, entretanto, alterar a lógica que rege a sua produção. A ocupação se pulveriza; a viabilização da acumulação assume bases menos concretas em função do desenvolvimento do sistema financeiro. Surgem modificações nas dinâmicas de valorização da terra e da distribuição dos grupos sócioeconômicos no espaço. A metrópole, entretanto, permanece através da busca constante da acumulação e da diversidade de formas de produção habitacional. Sua história pode ser dividida em duas fases essenciais: a metrópole produtiva (18501985), onde se destacam a organização rádioconcêntrica, a macrosegregação e a viabilização da acumulação através do processo produtivo do espaço (ocorra ela essencialmente na escala do empreendimento ou na escala da cidade); e a metrópole financeira (a partir de 1985), onde identificamos a formação de uma nova estrutura e onde aumenta a importância da microsegregação e da associação entre construção civil e sistema financeiro. Uma única lógica de produção gera, portanto, cidades diferentes ao longo do tempo, em função de características inerentes ao modo capitalista de produção. Mas é importante destacar que esta mesma lógica engendra espaços simultâneos, complementares e fundamentalmente diferentes que pertencem, todavia, a uma única e mesma cidade. O estudo da estruturação da metrópole revela a sobreposição de diversos processos e de diversas dimensões da acumulação de capital. Tal sobreposição dificulta a identificação das variáveis agindo sobre a produção do espaço, dificultando também a elaboração de soluções eficazes para os atuais problemas metropolitanos. Se ainda é difícil apreendermos a nova estrutura e as minúcias da produção espacial atual em São Paulo, é certo, entretanto, que enquanto a acumulação permanecer como chave da produção da cidade, as soluções efetivas para os principais problemas desta última deverão passar, obrigatoriamente, pela contenção dos desequilíbrios, das desigualdades e da degradação que acompanham o modo capitalista de produção do espaço. Sem isto, é inviável qualquer perspectiva de desenvolvimento verdadeiro e sustentável. / The capitalist mode of production starts to structure itself in São Paulo in the end of the 19th century. This new situation corresponds to a new and extraordinary city product: the São Paulo Metropolis. The accumulation potential has then its basis in the diverse forms of housing production: its the union of modern and apparently late forms that makes accumulation viable and bigger in an underdevelopment context. This is true for both, accumulation in general, through the importance of housing in the cost definition of the workforce and for the profit generated by the construction segment. The diversity of built area construction forms, which is a characteristic that is associated to underdevelopment, explains the radius concentric structure of São Paulo in the 20th century. The complexity of production and city structure goes beyond the downtown area x suburban area dichotomy, though. In an incipient way in the 70s and especially from the 80s on, the decline of this accumulation process implies in the restructuring of the city, but that doesnt change the logistics that rule its mode of production. Occupation spreads all over while accumulation viability assumes less concrete basis because of the development of the financial system. The cost of land and the distribution of socioeconomical groups in the city suffer dynamic modifications. In this process, the metropolis remains in constant search for accumulation and different ways of housing production, though. Its history can be divided in two basic phases: the productive metropolis (18501895), in which a radio concentric structure, macrosegregation, and accumulation in the process of space production (both in the scale of the building and the city) play a key role; and the financial metropolis (since 1985), in which we can identify the formation of a new structure with microsegregation playing a more important role and with the association of construction and the financial system. This way, a single production logistics system has generated different cities along time due to core characteristics of the capitalist mode of production. But it is important to emphasize that this same logistics creates simultaneous, complementary and essentially different areas that belong to a single city. The study of the process of structuring the metropolis reveals the coexistence of diverse processes and capital accumulation processes. This superposition makes it difficult to identify the various dimensions of capital accumulation. It complicates the identification of the factors that work on spatial production, which also makes it difficult to elaborate efficient solutions to the present metropolitan problems. Even though its still difficult for us to understand the new structure and the details of todays spatial production in São Paulo, we can surely say that as long as accumulation keeps its key role in the city production, effective solutions for the main city problems will necessarily have to deal with the constraint of unbalance, inequality and degradation which always go together with the capitalist mode of production of space. Without this, any real and sustainable development perspective is not viable.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-20012010-160122 |
Date | 18 April 2008 |
Creators | Thais Ferreira de Souza e Oliveira Lapp |
Contributors | Paulo Cesar Xavier Pereira, Azael Rangel Camargo, Yvonne Miriam Martha Mautner |
Publisher | Universidade de São Paulo, Arquitetura e Urbanismo, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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