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\"Quem não pega, não se apega\" : o acolhimento institucional de bebês e as (im)possibilidades de construção de vínculos afetivos / Who does not catch, does not attach: the institutional care of babies and the (im) possibilities of building emotional bonds

As práticas de assistência às crianças e aos adolescentes alijados do convívio familiar de origem, resultantes de diferentes processos históricos e sociais, culminaram nos atuais programas sociais de proteção integral, dentre eles, os serviços de acolhimento institucional (abrigos). Partindo de perspectiva que entende o desenvolvimento humano como se dando nas inerentes relações estabelecidas com o outro e ambiente, aquelas sendo mediadas pela linguagem e engendradas num determinado contexto histórico-cultural, questionamos: como o bebê se relaciona com e nesse ambiente? Há especificidades no acolhimento e na construção de relações dessa faixa etária? Assim, a presente pesquisa propôs-se investigar como se dão as relações entre bebês, adultos e outras crianças. A meta é apreender a existência (ou não) do (re)conhecimento de pessoas e parceiros preferenciais; e, se ocorrem interações que envolvam trocas afetivas, com indícios de vínculos afetivos. O estudo foi realizado em cidade de médio porte do interior de São Paulo. Foram realizadas videogravações, por três meses, tendo como foco dois bebês, cujos nomes (fictícios) são Lucas (3 meses) e Luis/Guilherme (10 meses). Para apreensão das relações, foram utilizados dois métodos: uma observação sistemática, de caráter quantitativo, buscando avaliar, por meio do uso de recursos comunicativos e emocionais específicos, a ocorrência de \"orientação da atenção\", \"busca/manutenção de proximidade\" e \"trocas sociais\" com os diferentes interlocutores deste contexto; e, utilizando método de cunho qualitativo, também foram realizadas seleções e descrições de oito episódios interativos envolvendo trocas afetivas. A Rede de Significações, enquanto perspectiva teóricometodólogico, amparou o olhar para a complexidade e apreensão dos entrelaçados e múltiplos sentidos que se apresentam nas situações. A análise das relações bebê-adulto e bebê-bebê evidenciaram trocas afetivas, com carícias, brincadeiras, vocalizações e um padrão diferencial de interação. Os indícios de preferência (seletividade) e de compartilhamento sugeriram a manifestação de vínculos afetivos nesse contexto. Por outro lado, os dados também mostraram que são diversos os modos de relações estabelecidos no contexto de acolhimento institucional, dependendo tanto do perfil dos funcionários quanto das características de cada criança. Ainda que os bebês tenham demonstrado preferências e busca de proximidade, predominantemente, com funcionários, na maioria das vezes, esses não eram muito responsivos. Além dos funcionários, os próprios bebês/crianças foram outros importantes parceiros de interação e de trocas sociais, sendo, inclusive, mais responsivos aos comportamentos direcionados a eles. No entanto, no geral, devido à organização do ambiente e às conceções/normas, tais relações eram dificultadas, fragmentadas ou com ausência de objetos que mediassem suas atividades. Concluindo, os dados revelaram a ocorrência das relações envolvendo trocas afetivas, com indícios de vínculo, apesar dessas interações não serem freqüentes. Novos estudos devem aprofundar a questão, de modo a se considerar intervenções junto a essas instituições, que potencializem a qualidade das interações e a construção de vínculos, mesmo que a criança ali permaneça de forma temporária. / The assistance practices aimed to children and adolescents jettisoned from their biological family, resulted from different historical and social processes and culminated in the current diverse social programs of custody, one of which is the institutional care service. Based on a perspective that understands human development as unfolding from the inherent relationships established both with the other and the environment, the process being mediated by language and engendered in a particular historical and cultural context, we argued: how does the baby relates him/herself to and in that environment? Are there specificities of greeting, care and relationships construction regarding this age group? Considering this questions, this research aimed to investigate the forms of relationship construction between babies, adults and other children, seeking to apprehend the presence (or the absence) of the babies\' recognition of people around as well as presence (or the absence) of preferred partners, in the institutional care context. Specifically, the goal is to investigate if affective bonds are established in that context; and, in an affirmative case, investigate how they are established. The study has been carried out in a city of São Paulo. Video records were made during three months, focusing on two babies with the following ages and fictional names: Lucas (3 months); Luis/Guilherme (10 months). To grasp the relationships, we used two methods: a systematic observation (quantitative) seeking to evaluate, through the infant\'s use of specific emotional and communicative means, the occurrence of \"orientation of attention\", \"search/maintenance of proximity\" and \"social exchanges\" with different interlocutors in this context; and, by using a qualitative method, it was also performed selections and descriptions of eight interactive episodes involving emotional exchanges. The Network of meanings was the theoreticalmethodological support, which helped at analyzing the interwoven multiple meanings and at their complexity on the situation. Analysis of the infant-adult and infant-infant/children relations revealed the presence of emotional exchanges, constituted by caresses, games, vocalizations and a differential pattern of interaction. Evidence of preference (selectivity) and of sharing activities made unmistakable the manifestations of affective ties in this context. Moreover, data also showed that there are several modes of relationships established within the institutional care context, depending on the profile of both employees and the characteristics of each child. Although babies have shown preferences and proximity search, predominantly with employees, in most cases, adults were not highly responsive. In addition to employees, the other babies / toddlers were other important partners of interaction and social exchange, even being the most responsive to behaviors directed at them. However, in general, due to the organization\'s environment and conceptions, such relationships were hindered, fragmented or unfolding with the absence of objects that could mediate their activities. Finally, the data revealed the occurrence of relations involving emotional exchanges with evidence of linkage, although these interactions did not happen frequently. Further studies should examine the issue in order to consider interventions with these institutions to leverage the quality of interactions and bond constructions, even if the child stays there temporarily.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-10102013-152307
Date16 October 2012
CreatorsMoura, Gabriella Garcia
ContributorsAmorim, Katia de Souza
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
TypeDissertação de Mestrado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

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