Quais as definições do jornalismo investigativo no Brasil? Na prática profissional, o que o distingue do jornalismo de modo geral e de outras especialidades da área? Quais os critérios de consagração de um jornalista como repórter investigativo? Essas e outras questões estão no seio desta pesquisa que busca identificar as condições de possibilidade da emergência dos discursos sobre o jornalismo investigativo em nosso país e, principalmente, esclarecer as apropriações que foram feitas a partir deles. Nosso intuito era compreender as definições de jornalismo investigativo que têm sido trabalhadas na bibliografia nacional à luz das disputas que tomam forma no interior do campo jornalístico. Partimos da análise de obras teóricas sobre o tema, de coletâneas de reportagens investigativas e de fontes documentais (como resultados de premiações, dados de associações etc.) para levantarmos definições, referências e apropriações do discurso do \"jornalismo investigativo\" em nosso país. Ao longo da pesquisa - que se focou na análise de obras publicadas principalmente entre 1970 e 2010 - conseguimos identificar três eixos nos quais as definições de JI poderiam ser divididas (um com foco no papel ativo do jornalista, outro com foco na função de denúncia e um terceiro que considera o jornalismo investigativo um pleonasmo) e, pelo menos, três usos diferentes dessa especialidade jornalística: ora ela aparece como sinônimo de grande reportagem, ora está identificada com o jornalismo policial e, após a redemocratização e a profissionalização do jornalismo brasileiro, ela será mais identificada com o escândalo político. Argumentamos que cada um desses deslocamentos de sentido, que por vezes são muito sutis e não necessariamente lineares, podem ser entendidos como posicionamentos diante de acontecimentos e transformações que ocorreram no período: o fim da censura prévia e o início da abertura política do regime militar, o crescimento do papel das Relações Públicas e das assessorias de imprensa, as regulamentações profissionais e o desenvolvimento do ensino de jornalismo, bem como as reformas editoriais em grandes veículos de comunicação. Compreendendo essas disputas e tendo em vista as transformações que as novas mídias estão promovendo no campo, defendemos uma nova compreensão do jornalismo investigativo, em termos de sua posição em relação à esfera do poder, que recusa os critérios puramente baseados nos métodos de apuração ou nos seus efeitos. / What are the definitions of investigative journalism in Brazil? In professional practice, which distinguishes it from ordinary journalism and other specialties of the area? What are the acclaim criteria of a journalist as an investigative reporter? These and other questions are at the core of this research that seeks to identify the emergence conditions of discourses on investigative journalism in our country, and, primarily, clarify the appropriations made from them. Our aim was to understand the investigative journalism definitions that have been put forth in the national bibliography in light of disputes that take shape within the journalistic field. We started from the analysis of theoretical works on the subject, investigative reports collections and documentary sources (such as results of awards, associations data etc.) to gather definitions, references and appropriations of the \"investigative journalism\" discourse in our country. During the research - which focused on the analysis of works published mainly between 1970 and 2010 - we were able to identify three areas in which IJ definitions could be divided (one focusing on the journalist\'s active role, the other focusing on the denunciation function and a third part who considers investigative journalism pleonastic) and at least three different uses of this journalistic branch: sometimes it appears as synonymous with cover story, occasionally it is identified with police reporting and, after the democratization and professionalization of Brazilian journalism, it will be identified with political scandal. We argue that each of these shifts of direction, which are sometimes very subtle and not necessarily linear, can be understood as stances regarding events and changes that occurred during the period such as: the end of censorship and the beginning of the political relaxation of the military regime, the growth of the role of Public Relations and press offices, professional regulations and development of journalism education, as well as editorial reform in major media outlets. Understanding these disputes and in light of the changes in the field promoted by the media, we advocate a new understanding of investigative journalism, in terms of its position in relation to the power sphere, a sphere that refuses criteria based purely based on the reporting methods or its effects.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-19092016-155529 |
Date | 03 July 2015 |
Creators | Seane Alves Melo |
Contributors | Mayra Rodrigues Gomes, Eugênio Bucci, Eliza Bachega Casadei |
Publisher | Universidade de São Paulo, Ciências da Comunicação, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0106 seconds