Return to search

Estupro na imprensa: o processo de trabalho de jornalistas e profissionais de direito na cobertura do caso Roger Abdelmassih pelo jornal Folha de S.Paulo (2009-2015), na perspectiva de estudos de jornalismo, da legislação e das práticas do Poder / -

Esta pesquisa parte da leitura de uma cobertura jornalística e desvenda o processo de produção das notícias e as condições de sua veiculação, com mediações dos estudos de jornalismo, estudos de direito e dos estudos de gênero. Iniciamos com a análise empírica do conteúdo jornalístico produzido pelo jornal Folha de S.Paulo entre janeiro de 2009 e maio de 2015, sobre os acontecimentos relacionados à investigação, ao julgamento, à fuga e à prisão de Roger Abdelmassih, especialista em reprodução humana assistida condenado a 278 anos de prisão por cometer crimes contra a dignidade sexual de 37 pacientes. O processo de leitura colocou-nos interrogações sobre a cobertura jornalística. Em busca de respostas, entrevistamos jornalistas e profissionais do direito envolvidos no caso e constatamos diferenças e relações de interdependência no trabalho deles, que condicionam os acontecimentos em 1) fatos jurídicos culminados em processos de caráter privado na Justiça e 2) em fatos jornalísticos culminados em informações traduzidas em textos publicáveis na imprensa, conforme demonstramos no Capítulo 2 desta dissertação. Estudos de jornalismo apontam as limitações do fazer jornalístico e sua inserção na vida cotidiana e o processo de repetição do senso comum que pode ser desafiado em condições especiais (MORETZSHON, 2007). Mas pesquisa da feminista (SEGATO, 2003) destaca a importância da informação veiculada pela imprensa para a defesa dos direitos das mulheres. Estudos de gênero rastreiam a construção dos estereótipos de gênero e a ordem patriarcal de gênero que embasam valores morais a partir dos quais são forjados os estigmas e preconceitos que atingem as vítimas de estupro (SAFFIOTI, 2015). Na análise de conteúdo do jornal Folha de S.Paulo, constamos uso de termos inadequados para nominar vítimas e agressor, erros jurídicos e julgamentos morais impertinentes ao caso. Essas visões dominantes e equivocadas sobre as vítimas de estupro precisam ser desconstruídas por outro modo de fazer jornalismo. Esta pesquisa nos mostrou que, ao descolar-se dos fatos jurídicos, a cobertura jornalística confinou no universo privado a violência sexual. Deixando de tratá-la como questão de saúde pública, não promoveu a divulgação de informações que poderiam contribuir para a construção da cidadania das mulheres. / This research stems from the reading of a news story coverage and unveils the production process of news stories and their dissemination, negotiated by media, law, and gender studies. We begin with the empirical analysis of the journalistic content produced by Folha de São Paulo between January 2009 and May 2015 about the incidents involving the investigation, trial, escape and arrest of Roger Abdelmassih - specialist in assisted human reproduction condemned to 278 years of prison for committing crimes against the sexual dignity of 37 patients. The process of reading posed questions about the news coverage. In search for answers, we interviews journalists and lawyers involved in the case and found differences and relations of interdependence in their work, which condition the events in 1) legal facts culminating in private processes in the legal system and 2) in journalistic facts culminating in information translated into publishable texts in the press, as demonstrated in the 2nd chapter of this dissertation. Media studies point the limitations of journalistic procedures and its insertion in the daily lives and the repetition process of commen sense that may be challenged in special conditions (MORETZSHON, 2007). But feminist research (SEGATO, 2003) highlights the importance of the information circulated by the media to defend women\'s rights. Gender studies trace the construction of gender stereotypes and the patriarchal gender order that ground the moral values on which the stigma and prejudice that affect rape victims is forged (SAFFIOTI, 2015). In the content analysis of Folha de São Paulo we found the use of inadequate terms to name the victims and the aggressor, legal errors, and unconnected value judgments about the case. These dominant and erroneous views about rape victims must be deconstructed by a different type of journalistic procedure. This research demonstrates that in disconnecting from legal facts, the news coverage confined sexual violence to a private realm. By not treating it as a matter of public health, it did not promote the circulation of useful information that would help the women\'s rights cause.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-22092016-142659
Date22 March 2016
CreatorsMonteiro, Lieli Karine Vieira Loures Malard
ContributorsKoshiyama, Alice Mitika
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
TypeDissertação de Mestrado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

Page generated in 0.0091 seconds