A obra inicial de Lídia Jorge, O dia dos prodígios, por meio de um riquíssimo conjunto de imagens e metáforas, constrói ficcionalmente o que seria, na visão de sua autora, a realidade socioeconômica e política de uma parcela significativa da população portuguesa a do Portugal agrário, de pensamento medievalizado e medievalizante, absorto em seu próprio cotidiano e, também por isso, distante das transformações vividas pelo restante do país. Para isso, a escritora cria um ambiente tempo e espaço que carrega marcas ideológicas nas imagens que o constituem, o que caracteriza, assim, o procedimento a que Mikhail Bakhtin deu o nome de cronotopo. Dessa forma, o propósito central desse estudo é identificar, no romance, os elementos espaciais que representem ideologicamente Portugal através dos tempos, com ênfase no pensamento português no contexto da Revolução dos Cravos, e quais traços dessa ideologia são alegorizados por esses elementos cronotópicos, na crença de que, ao identificá-los e compreendê-los, será possível perceber a existência de diferentes graus de importância que teriam sido atribuídos à insurreição de abril de 1974, em diferentes contextos. É também objetivo dessa dissertação descrever os procedimentos narrativos empregados por Lídia Jorge a fim de representar cronotopicamente a sociedade rural portuguesa, uma vez que a geração de prosadores de ficção pós-1974 pautou seu trabalho não só pelo resgate da identidade nacional envolta em brumas ideológicas desde o século XVI , mas também pela ruptura com a estética literária herdada do salazarismo , estética essa tributária da tradição cultural portuguesa, cujos valores mantiveram-se quase intactos ao longo dos séculos. / Lidia Jorges first novel, O dia dos prodígios, brings out a rich set of imagery and metaphors which builds in fiction what would be the authors point of view on the socioeconomic and political reality of a very meaningful part of the Portuguese society the one that lives in and from the countryside, whose ideas are quite medieval, and who spends life locked into their own sight of view, far from all the changes faced by their country. In order to do so, the writer builds a setting time and space which carries ideological signals in the imagery that constitutes it, what leads to the concept of chronotope, as defined by Mikhail Bakhtin. Thus, the main purpose of this study is to identify the elements that represent Portugal ideologically throughout time, in the novel, with emphasis on the Portuguese thought in the context of the Revolução dos Cravos (the revolution that ended the dictatorship in which Portugal had been submerged until 1974), and which aspects of this ideology are metaphorically represented through chronotope procedures, once it is believed that it will be possible to notice the existence of different ways of perception of the Revolução, in different contexts, by identifying and comprehending those chronotopic constructions. It is also an aim of this paper to describe the narrative procedures used by Lidia Jorge in order to represent chronotopically the rural Portuguese society, once the post-1974 generation of writers made a point not only in recreating Portugals identity but also in breaking the ties with the literary procedures inherited from the cultural Portuguese tradition, kept alive by Salazars dictatorship.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-01022010-171243 |
Date | 06 August 2009 |
Creators | Mauro Dunder |
Contributors | Marlise Vaz Bridi, Lilian Jacoto, Maria Helena Fioravante Peixoto |
Publisher | Universidade de São Paulo, Letras (Literatura Portuguesa), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0019 seconds