As doenças decorrentes da aterosclerose apresentam uma prevalência mais elevada entre pacientes submetidos a transplante de órgãos sólidos comparativamente à população em geral. Os motivos para esta discrepância podem estar na maior exposição dos pacientes transplantados a fatores de risco cardiovascular. Recentemente identificou-se a participação de fatores da coagulação na patogênese da aterosclerose, tanto em estudos populacionais quanto em pacientes transplantados. No presente estudo aferiram-se diversos fatores da coagulação e a exposição a fatores de risco convencionais para doença cardiovascular em um grupo de 270 pacientes transplantados renais comparativamente a um grupo de indivíduos saudáveis. Adicionalmente, compararam-se pacientes transplantados renais com e sem o diagnóstico de doença cardiovascular quanto a exposição a características ambientais e genéticas relacionadas aos fatores da coagulação e fatores de risco clássicos para doença cardiovascular. As variáveis estudadas foram: idade, sexo, tabagismo, história familiar de doença cardiovascular, índice de massa corporal, pressão arterial sistólica e diastólica, esquema imunossupressor, glicemia, colesterol total, triglicerídios, fibrinogênio, interleucina-6 (IL-6), inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1 (PAI- 1 ), fator VIl coagulante (FVIIc), polimorfismos genéticos do fator VIl c (Arg/Gin 353), alfa (TIA 312) e beta (G/A-445 ) fibrinogênio, PAI-1 (4G/5G), IL-6 (intron-4). O grupo de 270 pacientes transplantados renais foi similar ao grupo de 31 indivíduos saudáveis em relação à idade, sexo e índice de massa corporal. Entre os pacientes transplantados a proporção de tabagistas foi menor (15,9% vs 38,7%) e pressão arterial mais elevada (146/84 vs 133/71 mmHg). Os níveis de colesterol total, triglicerídios, fibrinogênio, interleucina 6, fator VIl coagulante e dímero-D foram mais elevados nos pacientes transplantados comparativamente aos indivíduos saudáveis. Sessenta e três (23,3%) pacientes transplantados tinham o diagnóstico de doença cardiovascular, sendo que 22 já apresentavam doença previamente ao transplante. Estes pacientes eram mais idosos e apresentavam maior freqüência de história familiar positiva para doença cardiovascular e tabagismo comparativamente aos pacientes transplantados sem doença cardiovascular. Não houve diferença entre os 2 grupos em relação a sexo, índice de massa corporal e pressão arterial. Os esquemas de medicações imunossupressoras foram similares nos 2 grupos. Os pacientes com doença cardiovascular apresentaram níveis significativamente mais elevados de fibrinogênio [415 (230-1050) mg/dl vs 360 (211-650) mg/dl P<0,001], interleucina-6 [2,4 (0,26-25) pg/ml vs 2,0 (0,19-23,9) P=0,017], glicose [6 ,6+-2,7 mmoi/L vs 5,9+-1 ,3 mmoVL P=0,007), triglicerídios [1 ,8(0,7-7,5) mmoi/L vs 1,5 (0,4- 12,3) mmoi/L P=0,023] e mais baixos de albumina (40,5+3,3 g/L vs 42,5+3,6 g/L P<0,001). Os níveis de fator Vllc [97(29,8-214)% vs 96 (40,7-226) %; P=0,31], PAI- 1 [9 ,9(2,0-34,6) AU/ml vs 9,0{0,8-50) AU/ml; P=0,248] e colesterol total [6 ,0(4,0- 11 ,0) mmoi/L vs 5,9 (2,9-10,2) mmoi/L P=0,454) foram similares. A freqüência dos alelos raros dos polimorfismos genéticos dos genes do beta fibrinogênio (A/G -445), alfa fibrinogênio (A/T 312), IL-6 (intron-4 A/G), fator Vllc (Arg/Gin-353) e PAI-1 (4G/5G) foram similares entre os pacientes transplantados renais com e sem doença cardiovascular. A interação do a leio A-445 do beta fibrinogênio e tabagismo associou-se com maior prevalência de doença cardiovascular nos pacientes transplantados renais. Em análise de covariância observou-se associação dos níveis de fibrinogênio com a idade, níveis de IL-6 e ciclosporinemia. Os níveis de fator Vllc associaram-se com os niveis de trigliceridios e colesterol e com o genótipo, sendo mais baixo nos portadores do alelo raro (Gin353). Os níveis de PAI-1 associaramse com os níveis de glicose e triglicerídios e com o genótipo, sendo mais elevado nos portadores do alelo 4G. Os nlveis de IL-6 associaram-se com ciclosporinemia. Em análise de regressão logística observou-se associação independente de doença cardiovascular com idade, história familiar positiva para doença cardiovascular, tabagismo e níveis séricos de fibrinogênio e albumina. Em conclusão, identificou-se alterações no sistema de coagulação de pacientes transplantados renais à longo prazo. A prevalência de doença cardiovascular associou-se com estas alterações e com fatores de riscos clássicos para doença cardiovascular, como idade, história familiar e tabagismo. Não detectou-se associação entre a freqüência dos diversos polimorfismos genéticos e prevalência de doença cardiovascular entre os pacientes transplantados. A associação entre a interação de tabagismo e presença do alelo raro (A-445) do beta-fibrinogênio com o diagnóstico de doença cardiovascular merece futura investigação. / The prevalence of clinicai consequences of atherosclerosis is increased in patients submitted to solid organs transplantation, in comparison to the general population. The reason of this is not completely understood. The exposition to a higher prevalence of classical risk factors for cardiovascular disease has been considered. Recently, abnormalities in the coagulation factors are also thought to play a role in the pathogenesis of the atherosclerosis, both in unselected populations and transplant patients. In this study, we studied coagulation factors and the exposition to classical risk factors for cardiovascular disease in a group of 270 renal transplant recipients and compared them to a sample of 31 healthy subjects. Additionally, we analysed those risk factors for cardiovascular disease in transplant patients with and without a diagnosis of cardiovascular disease. In this setting, we evaluated the distribution of the coagulation factors leveis and polymorphisms of the respective genes. The variables studied were: age, gender, smoking, family history of cardiovascular disease, body mass index, blood pressure, immunosuppressor agents, glicemia, total cholesterol, tryglicerides, fibrinogen, interleukin-6 (IL-6), plasminogen activator inhibitor type 1 (PAI-1 ), facto r VIl coagulant (FVIIc), D-dimer, and genetic polymorphisms of factor Vllc (Arg/Gin 353) , alpha (T/A 312) and beta (G/A445 ) fibrinogen, PAI-1 (4G/5G), IL- 6 (intron-4). Age, gender and body mass index were similar in renal transplant recipients and control group. However, in the transplant group the frequency of smokers was lower (15,9% vs 38,7%) and the blood pressure was higher (146/84 vs 133/71 mmHg). The total cholesterol, tryglicerides, fibrinogen, IL-6, facto r VIl c and Ddimer leveis were significantly increased in transplant recipients compared to healthy controls. Cardiovascular disease was present in sixty-three (23,3%) transplant patients. Twenty-two of them have had the diagnosis previous to transplantation. The former patients were older and the frequency of smoking and positive family history of cardiovascular disease was higher compared to transplant patients without cardiovascular disease. There were no differences between these 2 groups related to sex, body mass index and blood pressure. The immunosuppressive regimes were similar in both groups. The patients with cardiovascular disease presented significantly higher leveis of fibrinogen [415 (230-1050) mg/dl vs 360 (21 1-650) mg/dl P<0,001], IL-6 [2,4 (0,26-25) pg/ml vs 2,0 (0,19-23,9) P=0,017], glucose [6,6+- 2,7 mmol/1 vs 5,9+-1 ,3 mmol/1 P=0,007) and tryglicerides [1 ,8(0,7-7,5) mmol/1 vs 1,5 (0,4-12,3) mmol/1 P=0,023]. and lower leveis of albumin (40,5+3,3 g/1 vs 42,5+3,6 g/1 P<0,001). The leveis offactor Vllc [ 97(29,8-214)% vs 96 (40,7-226) %; P=0,31]. PAI-1 [9,9(2,0-34,6) AU/ml vs 9,0{0,8-50) AU/ml; P=0,248] and total cholesterol [6,0(4,0-11 ,0) mmol/1 vs 5,9 (2,9-1 0,2)] mmol/1 P=0,454] were similar. The frequency of the rare alleles of the polymorphic genes of beta fibrinogen (A/G -445), alpha fibrinogen (AIT 312), IL-6 (intron-4 A/G), factor Vllc (Arg/Gin-353) and PAI-1 (4G/5G) were similar in both groups of transplant patients. The interaction of the beta fibrinogen allele A-445 and smoking was associated with a higher prevalence of cardiovascular disease. Fibrinogen leveis were associated with age, IL-6 leveis and trough leveis of cyclosporin. Difference in plasma factor Vllc leveis were associated with factor VIl genotype, tryglicerides and cholesterol. Carriers of the Gln353 allele had lower Vllc when compared with Arg353 homozygous, which may conter a reduced thrombotic risk. Difference in PAI-1 leveis was associated with glucose, tryglicerides and 4G/5G genotype. Carriers of the 4G allele had higher PAI-1 leveis compared with 5G homozygous. IL-6 leveis were associated with trough cyclosporin leveis. Cardiovascular disease was independently associated with age, positive family history for cardiovascular disease, smoking, fibrinogen and albumin in multivariate analysis. In conclusion, long-term renal transplant recipients manifest alterations in coagulation system. Cardiovascular disease was associated with these conditions, as well as with the classical risk factors such as age, positive family history and smoking. There was no association between the polymorphic genes coding for beta and alpha fibrinogen, IL-6, factor Vllc and PAI-1 with a higher prevalence of cardiovascular disease in the transplant recipients presently studied. The association between the prevalence of cardiovascular disease and interaction of smoking and the 13-fibrinogen A-445 allele deserves further investigation.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/164173 |
Date | January 1999 |
Creators | Keitel, Elizete |
Contributors | Fuchs, Flávio Danni, Green, Fiona |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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