[pt] Esse trabalho olha para como os aplicativos enactam a insegurança no/do Sul Global, de modo a compreender a mediação algorítmica da
governança da segurança. Aplicativos são manifestações computacionais cujo
poder reside em sua proximidade com o usuário final e em seu suposto papel
democratizante e empoderante. Ao mesmo tempo, no entanto, esses apps estão embutidos e replicam uma geopolítica do conhecimentocomplicada que
não pode ser entendida pelo que caracterizo como formas não monstruosas
de teorização de RI, que, intencionalmente ou não, re-enactam a contenção
da autoridade dentro das categorias do indivíduo, do estado e do sistema internacional. Em contraste, formas monstruosas de teorização, como aquelas
que tentam explicar a política dos artefatos (digitais) e da sociomaterialidade,
perturbam as fronteiras disciplinares, suas suposições e representações da política, a fim de expandir e estender o que é compreendido como política e
autoridade. Ao engajar-se com uma compreensão da política de ambas na
governança de segurança, esta tese argumenta que os aplicativos adicionam
camadas de complicação ao nosso entendimento de governança, das quais lidarei com três: simplificação, formalismo e objetividade. Em um segundo impulso
argumentativo, a tese sustenta que essas três camadas também são lógicas de
computação que dão forma à autoridade de um aplicativo, mas não sem serem significativamente transformadas e reaproveitadas na prática. Na medida
em que os aplicativos incorporam de forma decisiva contos sobre políticas democráticas e geopolíticas desiguais do conhecimento, cabe reconhecer que as
questões práticas relativas ao seu trabalho de governança atravessam o Sul
Global, entendido tanto como uma categoria de pensamento sobre os emaranhados pós-coloniais e as interações atravessadas pelas tecnologias digitais,
como um marcador de hierarquias de conhecimento. Esta tese, portanto, fornece uma explicação alternativa para as interações de poder e autoridade que
compõem a política de segurança (do Sul) global. Com isso, afasta-se da teorização abstrata para olhar para a governança computacional no chão, ou
seja, nos contextos sociopolíticos em que opera, é concebida, criada e adaptada. Ao fazer isso, engaja-se em uma filosofia empírica baseada no uso de
métodos etnográficos e no uso antropofágico de conceitos desenvolvidos por
estudiosos de RI, filósofos da tecnologia, estudiosos de política digital e STS, e
filósofos e sociólogos que pensando poder e desigualdade. O trabalho de campo
foi realizado entre 2018 e 2021 com três aplicativos de segurança: Fogo Cruzado, EagleView 2.0, e UN SanctionsApp, e se compõe de uma colagem de
métodos, que vão desde observações participantes, entrevistas, walkthroughs
em aplicativos e pesquisa bibliográfica. Essa combinação confusa de métodos,
objetos e lugares não pode ser vista como desvinculada do impulso conceitual
mais amplo da tese, ou seja, mostrar que é na e por meio da autoridade dos
aplicativos na governança no/do Sul Global, que podemos começar a abraçar
os monstros que têm assustado a política de segurança por tanto tempo. E, ao
o fazermos, seremos finalmente capazes de abrir o estudo da autoridade para
suas manifestações processuais, transversais e múltiplas, por meio da computação, esta mesma entendida como um conjunto de práticas situadas, adaptáveis
e contextuais, que tanto reproduzem como complicam hierarquias de poder e
conhecimento. / [en] This work looks at how apps enact insecurity in/of the Global South in
order to understand the algorithmic mediation of security governance. Apps are
manifestations of computation whose power resides in their proximity with endusers and alleged democratizing and empowering roles. At the same time, however, apps are embedded into and replicate complicated geopolitics of knowledge that cannot be understood by what I characterize as non-monstrous
forms of IR theorizing, which, wittingly or not, re-enact the containment of
authority within the categories of the individual, the state and the international system. In contrast, monstrous forms of theorizing, such as those which
attempt to account for the politics of (digital) artifacts and sociomateriality,
disturb disciplinary boundaries, assumptions and representations of politics in
order to expand and extend what is encompassed as the political and the
authoritative. While engaging with efforts to account for the politics of both
in security governance, this thesis argues that apps add layers of complication
to our understanding of governance, of which I will be dealing with three: simplification, formalism and objectivity. In a second argumentative thrust, the
thesis argues that these three layers are also logics of computation that give
form to an app s authority, but not without being significantly transformed and
repurposed in practice. To the extent that apps decisively embody both stories
of democratic politics and unequal geopolitics of knowledge, we must acknowledge that practical questions pertaining to their governance work traverse the
Global South, understood both as a category of thought about postcolonial entanglements and interactions traversed by digital technologies and a marker of
knowledge hierarchies. This thesis, therefore, provides an alternative account
of the interplays of power and authority in global (South) security politics.
With this, the work moves away from abstract theorizing to look at computational governance on the ground, that is to say, in the sociopolitical contexts
in which they operate, are designed, created and adapted. While doing so, it
engages in empirical philosophy grounded on the use of ethnographic methods
and an anthropophagic use of concepts developed by IR scholars, philosophers
of technology, STS and digital politics scholars and philosophers and sociologists writing about power and inequality. Fieldwork was conducted between
2018 and 2021 with three security apps: Fogo Cruzado, EagleView 2.0, and UN
SanctionsApp, and involves a collage of methods, ranging from participant observations, interviews, app walkthroughs and bibliographical research. This
messy combination of methods, objects and places cannot be seen as untangled from the broader conceptual thrust of the thesis, namely, that it is in and
through the work of apps as authoritative components of governance in/of the
Global South, that we can start to embrace the monsters that have been terrifying security politics for so long. And if we do so, we might finally be able to
open authority to its processual, transversal, and manifold enactments through
computation, itself understood as a situated, adaptable and contextual set of
practices, which both reproduce and complicate knowledge hierarchies.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:57227 |
Date | 31 January 2022 |
Creators | LUÍSA CRUZ LOBATO |
Contributors | ANNA GUDRUN CHRISTINA LEANDER |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | English |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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