As normas culturais estruturam o sentido dado aos problemas vividos e, consequenternente, a procura de cuidados. A sociedade ocidental moderna é marcada pela complexidade cultural, pela convivência de diferentes crenças, valores e normas, o que tem propiciado o surgimento de um Pluralismo Terapêutico. Porém, enquanto algumas práticas são legitimadas e valorizadas, outras são consideradas - pela ciência - como primitivas, próprias dos sujeitos ignorantes. Entre essas últimas estão incluídas as práticas religiosas de cura afro-brasileiras. No entanto, como aponta o antropólogo Gilberto Velho (1984), a crença em espíritos e sua manifestação constitui tema básico na rede de significados que percorre a sociedade brasileira. Este estudo questiona a atividade terapêutica que nega essa característica, considerando, especialmente, que na área da psiquiatria predominam os aspectos subjetivos e essas questões aparecem com ênfase. Os conceitos de Holismo e Individualismo são referência fundamental nessa discussão. O estudo relaciona também esta questão aos princípios da Reforma Psiquiátrica, que preconizam a vinculação do sofrimento a existência humana, ou seja, que os profissionais trabalhem com a experiência/sofrimento do cliente. As pessoas procuram, alternada ou simultaneamente, não só as práticas que mantêm afinidades entre si, com algumas teórica e ideologicamente incompatíveis. lncoerência dos usuários que, na sua ignorância, apelam para qualquer recurso? Ou estaremos frente a outro tipo de coerência, que desafia os paradigmas e a lógica letrada, e cujo sentido nos cabe desvendar? A fim de estudar os caminhos percorridos na busca de alívio o sofrimento, foram realizadas entrevistas com clientes que recorrem a ambos - psiquiatria e religiões de possessão - em três instituições psiquiátricas públicas e um centro de umbanda. Deu-se ênfase, assim, ao sentido dado pelo sujeito do sofrimento. O objetivo foi analisar as trajetórias e as interpretações das pessoas, buscando-se determinar o modo como esses recursos são acionados pelos clientes, a fim de demonstrar a lógica subjacente a esse Pluralismo Terapêutico. Paralelamente, foram realizadas entrevistas com profissionais que atuam na psiquiatria e com mãe e pai-de-santo. Evidencia-se que a procura de um recurso terapêutico não exclui o uso do outro, seja em termos de práticas a ele associadas, seja da lógica que norteia essa prática. Entre diferentes sistemas de explicação e cura não há, para as clientes, oposição, mas atribuição de papéis.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/urn:repox.ist.utl.pt:UERJ:oai:www.bdtd.uerj.br:1244 |
Date | 01 September 2000 |
Creators | Ruth Mylius Rocha |
Contributors | Jane Araujo Russo, Benilton Carlos Bezerra Júnior, Luiz Fernando Dias Duarte, Simoni Lahud Guedes, Sergio Levcovitz |
Publisher | Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, UERJ, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ, instname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instacron:UERJ |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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