Return to search

[pt] UMA CARTOGRAFIA DOS RESTOS / [fr] UNE CARTOGRAPHIE DES DÉBRIS

[pt] Esta tese, como um exercício crítico de leitura e escrita, gira em torno da noção de resto e de outras palavras que com ela se relacionam, partindo das figuras do catador e do trapeiro para refletir sobre o processo criativo como ato que aproxima artistas e pesquisadores daqueles que trabalham com o que é descartado, rejeitado e esquecido. Para tanto, apresento uma coleção de fragmentos que versam sobre o gesto de catar a partir da obra da escritora Carolina Maria de Jesus, derivando incialmente do seu conhecido Quarto de despejo para debruçar-me sobre o livro Diário de Bitita. A ênfase na obra em
questão, na qual a autora narra cenas de sua infância, parte do mote benjaminiano de acolhimento das sobras e restos das narrativas oficiais, para que, tal como as crianças, possamos fazer história através do lixo da história. O lugar da infância que o Diário nos convida a visitar aproxima ainda a atividade de catadora dos devires criança e trapeira e motiva o diálogo com outros artistas e teóricos para uma conversa sobre resto e resistência, literatura e excremento, lixo e memória. Entre um e outro texto, como respiros, fragmentos inventados ao longo do caminhar da pesquisa são também costurados ao trabalho. Esses textos variam em forma e conteúdo e apresentam lampejos de memória, notas sobre o processo de pesquisa, atravessamentos do momento político que estamos vivendo e invenções biográficas. Compondo um modo crítico-ficcional de pensar a criação artística pela recolha de objetos, memórias e pensamentos, esse movimento pretende, por fim, interrogar-se também sobre o próprio fazer acadêmico, expandindo as noções de catação e coleção para um movimento de observar, escolher e recolher constitutivo do processo de pesquisa. / [fr] Cette thèse, comme un exercice critique de lecture et écriture, porte sur la notion de débris et d autres mots dérivés, partant de la figure du ramasseur de déchets et du chiffonier afin de réflechir sur le processus créatif comme un acte qui rapproche les artistes et les chercheurs de ceux qui travaillent avec ce qui est laissé de côté, rejeté et oublié. Pour cela, je présente une collection de fragments qui abordent le geste de ramasser les déchets à partir de l oeuvre de l écrivain Carolina Maria de Jesus, dérivés initialement de son célèbre Le dépotoir (Quarto de despejo) pour me pencher ensuite sur le livre Journal de Bitita (Diário de Bitita). L emphase dans l oeuvre en question, où l auteur raconte des
scènes de son enfance, a comme déclencheur benjaminien la réception de débris des récits officiels afin que, comme les enfants, on puisse faire histoire en se servant des déchets de l histoire. La place de l enfance que le Journal nous présente lie l activité de ramasseur avec le devenir des enfants chiffoniers et encourage le dialogue avec d autres artistes et théoriciens pour une conversation sur débris et résistence, littérature et excrément, déchets et mémoire. Entre un texte et l autre, comme des pauses, des fragments créés au long du parcours de la recherche sont aussi associés au travail. Ces textes varient en forme et contenu et présentent des bribes de mémoire, des notes sur le travail de recherche, croisements du moment politique que l on vit et des inventions biographiques. Suivant un modèle critique-fictionnel de penser la création artistique par le ramassage d objets, mémoires et pensées, ce mouvement a pour but de s interroger aussi sur le faire académique, menant les notions de ramassage de déchets et de collecte vers un mouvement consistant à observer, sélectionner et ramasser constitutif du travail de recherche.

Identiferoai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:47653
Date24 April 2020
CreatorsNAYARA MARFIM GILABERTE BEZERRA
ContributorsMARILIA ROTHIER CARDOSO
PublisherMAXWELL
Source SetsPUC Rio
LanguagePortuguese
Detected LanguageFrench
TypeTEXTO

Page generated in 0.0027 seconds