[pt] Esta tese consiste na abordagem crítica de narrativas literárias que performam uma dicção autobiográfica afeta ao modo ficcional, através do qual são rescindidos os tradicionais pactos em torno da identidade escritor-narrador e os pressupostos de autenticidade e sinceridade subjacentes a processos de comunicação que envolvem as memórias narradas. Trata-se dos ego-escritos ficcionais, cujo investimento estético se evidencia na simultânea afirmação e oscilação na construção identitária da primeira pessoa do singular, fundada numa discursividade que se vale de dispositivos do simulado e do falso para desestabilizar os limites tradicionais entre os universos intra e extra diegéticos tradicionais sem apagá-los, mas, ao contrário, acentuar sua diferença. Os egoescritos comparecem, assim, na cena literária contemporânea como um espaço narrativo questionador do estatuto do autobiográfico, não só pela refutação do seu modelo representativo, mas pelo seu devir-cartografia, ou seja, sua atualização escritural como sistema autopoiético aberto a experimentações e intervenções discursivas diversas. Para efetuar uma investigação consistente dos ego-escritos ficcionais esta tese se apropria de contribuições conceituais emigradas da Geofilosofia de Gilles Deleuze e Felix Guattari e da vertente da Sociologia capitaneada por Niklas Luhmann, apresentando uma rentabilidade que estende seu alcance desde o plano da análise literária - em particular nas produções recentes dos escritores John Barth, Silviano Santiago e Rosa Montero - até outras manifestações estéticas, como a cinematográfica e a as artes plásticas, que nesta tese figuram como suporte para melhor visibilidade da dinâmica nomadológica da primeira pessoa. / [en] This thesis investigates literary narratives wherein autobiographical diction allows itself to be affected by fictional elements. These fictional ego-writings stand upon a breach of traditional autobiographical pact as well as the claims of authenticity and honesty which underlie processes of communication entailing narrated memories. Fictional ego-writings`s decisive aesthetic investment becomes evident in the simultaneous affirmation and oscillation of difference within identity constructions of the first person of singular - its discursivity relying upon fakery and simulation. These proceedings destabilize traditional borders between inter and extra diegetic universes - albeit without effacing them - but rather by emphasizing their difference. Fictional ego-writings come upon contemporary literary scene as provocative narrative spaces, questioning the very claims upon which autobiographical writings are founded. This accomplishment is not a mere refutation of their model, but indeed the narrative`s space of becomingcartography. In this sense, fictional ego-writings operate as open Autopoietic systems, susceptible to discursive experimentations and interventions. These investigations rely upon concepts borrowed from Gilles Deleuze`s and Felix Guattari`s Geophilosophy as well as certain notions derived from Niklas Luhmann`s sociological theories, the goal being not only to utilize them in a context of literary studies - i.e. readings of particular works of such authors as John Barth, Silviano Santiago and Rosa Montero - but also to expand the grasp of these theorizations by applying them to other forms of artistic manifestations, such as cinema and contemporary arts, in which the nomadological dynamics of the first person is prominent.