[pt] Desde que o conceito de luto foi tomado como objeto de estudo pela psicanálise, há uma tendência a pensá-lo somente enquanto capacidade de vivenciar e superar as perdas por que se passa durante a vida. No entanto, ampliações teóricas nos permitem conceber também o seu importante papel no processo de desenvolvimento desde os primeiros momentos da vida de um indivíduo. Partindo do conceito de luto fundamental e de sua vivência na primeira infância, promovemos uma reflexão psicanalítica sobre as perdas e o processo de luto, abordando ainda sua inter-relação com a possibilidade de elaborar os lutos por perdas na vida adulta. A partir de Freud e sua metáfora da sombra em Luto e Melancolia, propomos um entendimento de como o objeto perdido pode tanto sufocar o ego com sua sombra ou enriquecê-lo com sua luz. Para isso, retomamos os conceitos de introjeção e incorporação, diferenciando-os, e mostramos que, enquanto os processos introjetivos estão ligados à elaboração satisfatória do luto, a incorporação estaria mais ligada a processos menos saudáveis. Por fim, discute-se a questão do acting out no caso de pacientes graves que podem fazer uma escolha inconsciente por compartilhar do mesmo destino do objeto perdido diante da impossibilidade de elaboração de uma perda. Tal escolha pode se traduzir no engajamento em comportamentos compulsivos, situações de risco e/ou autodestrutivas, além de formas diretas e indiretas de suicídio. Neste sentido, são apresentados fragmentos de casos clínicos – as histórias de vida e de morte – para ilustrar algumas dessas situações. / [en] Since the concept of mourning has been taken as the object of study by psychoanalysis, there is a tendency to think as only as a capacity to experience and overcome the losses that occur during life. However, theoretical extensions allow us to also conceive of its important role in the development process from the earliest moments of an individual s life. Starting from the concept of fundamental mourning and its experience in early childhood, we promote a psychoanalytic reflection on the losses and the process of mourning, also addressing its interrelationship with the possibility of elaborating the mourning for losses in adult life. From Freud and his metaphor of the shadow in Mourning and Melancholy, we propose an understanding of how the lost object can either suffocate the ego with its shadow or enrich it with its light. In order to do so, we return to the concepts of introjection and incorporation, differentiating them, and we show that while the introjective processes are linked to the satisfactory elaboration of mourning, the incorporation would be more related to less healthy processes. Finally, the issue of acting out is discussed in the case of severe patients who may make an unconscious choice by sharing the same fate of the lost object in the face of the impossibility of drawing a loss. Such choice can be translated into engaging in compulsive behaviors, risky and or self-destructive situations, as well as direct and indirect forms of suicide. In this sense, fragments of clinical cases – the life and death stories – are presented to illustrate some of these situations.