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[en] PORTRAITS OF A PALEOTERRITORY: STORIES HIDDEN IN THE FOREST LANDSCAPE OF GRUMARI, RJ / [pt] RETRATOS DE UM PALEOTERRITÓRIO: HISTÓRIAS ESCONDIDAS NA PAISAGEM FLORESTAL DE GRUMARI, RJ

ISABELLE SOARES PEPE 29 December 2020 (has links)
[pt] A dicotomia na relação sociedade-natureza se projeta consideravelmente sobre as florestas tropicais, que muitas vezes são consideradas uma natureza estática, sem história e com poucos habitantes, onde sua complexidade estrutural e funcional se deu apenas por processos naturais. O presente trabalho investigou: i. a transformação da paisagem de Grumari, bairro localizado no extremo sudoeste do Maciço da Pedra Branca (RJ), que possui, atualmente, a maior área de cobertura vegetal do município e ii. os legados socioecológicos encontrados na floresta, com o intuito de desvendar quais e como as interações humanas com meio físicobiológico contribuíram para a construção da atual paisagem florestal. Para isso foram usadas metodologias oriundas da Geografia, História e Ecologia que perpassaram a investigação de documentos históricos com fontes primárias e secundárias extraídos de Arquivos Históricos, complementados pela identificação e sistematização de vestígios materiais encontrados em trabalhos de campo, segundo a metodologia da leitura da paisagem. Por fim, utilizou-se a fitossociologia para análise do componente arbóreo ao redor dos vestígios encontrados, no sentido de compreender as resultantes ecológicas do encontro entre a dinâmica social e natural. Foram inventariadas oito unidades amostrais da vegetação arbórea perfazendo 0,32 ha. Foi encontrado um total de 90 espécies, sendo Guarea guidonia, Piptadenia gonoacantha, Sparattosperma leucanthum, Gallesia integrifolia e Joannesia princeps as mais conspícuas. A encosta florestal de Grumari foi habitada por populações humanas, possivelmente desde os povos sambaquieiros; passando por indígenas Tupinambás; colonizadores portugueses; instituições religiosas de poder; latifundiários e pequenos lavradores posseiros - que até hoje ocupam o território – e, mais atualmente, o Poder Público, que exerce a governança ambiental através das Unidades de Conservação. Alguns efeitos da modificação dos ecossistemas para a sobrevivência e atividades econômicas referentes a distintos momentos históricos estão impressos na paisagem através de vestígios como: depósitos malacológicos, resquícios de carvoarias, ruínas e antigos caminhos, geralmente associados à presença de espécies exóticas, e espécies nativas que apresentam padrão de dominância na comunidade vegetal. A associação desses elementos encontrados na paisagem conta histórias para além da história escrita. Depois de mais de 200 anos de intenso uso do solo para agricultura, fornecimento de energia e água e habitações humanas, a vegetação avançou sobre áreas de antigas roças, carvoarias e pastos abandonados. A floresta seguiu sucessões ecológicas únicas, que expressam a história e a cultura em sua composição e estrutura. A complementaridade de fontes – escritas, materiais, biológicas e fotográficas – contribuíram para a compreensão da complexidade da paisagem e dos fatores histórico-ambientais que a levaram à configuração atual. Além disso, permitiu dar luz a grupos sociais sistematicamente invisibilizados que foram importantes agentes de transformação do espaço com suas práticas culturais. A reunião dessas informações e a sistematização de vestígios materiais revelam as complexidades e dão concretude à discussão sobre florestas como paisagens culturais. / [en] The dichotomy in the society-nature relationship is projected considerably over tropical forests, which are often considered to be a static nature, with no history and with few inhabitants, and whose structural and functional complexity occurred only through natural processes. The present work investigated: i. the transformation of the landscape of Grumari, a neighborhood located in the southwestern corner of Maciço da Pedra Branca (RJ), which currently has the largest vegetation area in the municipality and ii. the socioecological legacies found in the forest, in order to discover which and how human interactions with physical-biological environment contributed to the construction of the current forest landscape. For this, methodologies from Geography, History and Ecology were used, which permeated the investigation of historical documents with primary and secondary sources extracted from Historical Archives, complemented by the identification and systematization of material traces found in fieldwork, according to the landscape reading methodology. Finally, phytosociology was used to analyze the tree component around the traces found, in order to understand the ecological results of the encounter between social and natural dynamics. Eight sampling units of tree vegetation totaling 0.32 ha were inventoried. A total of 90 species were found, with Guarea guidonia, Piptadenia gonoacantha, Sparattosperma leucanthum, Gallesia integrifolia and Joannesia princeps being the most conspicuous. The forested slope of Grumari was inhabited by human populations, possibly from the sambaquieiros peoples; passing by indigenous Tupinambás; Portuguese colonizers; religious institutions of power; landowners and small-scale tenant farmers - who still occupy the territory today - and, more recently, the Public Power, which exercises environmental governance through Conservation Units. Some effects of the modification of ecosystems for survival and economic activities referring to different historical moments are imprinted on the landscape through traces such as: malacological deposits, remnants of charcoal production, ruins and ancient paths, usually associated with the presence of exotic species, and native species that present a dominance pattern in the plant community. The association of these elements found in the landscape tells stories beyond written history. After more than 200 years of intense use of the soil for agriculture, energy and water supply and human habitation, the vegetation has advanced over areas of old fields, charcoal fields and abandoned pastures. The forest followed unique ecological successions, which express history and culture in their composition and structure. The complementarity of sources - written, material, biological and photographic - contributed to the understanding of the landscape complexity and the historical-environmental factors that led to its current configuration. In addition, it allowed to give light to systematically invisible social groups that were important agents of transformation of the space with their cultural practices. The gathering of this information and the systematization of material traces reveal the complexities and give substance to the discussion about forests as cultural landscapes.

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