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[pt] ARTES DA ATENÇÃO E DO CUIDADO: EXPERIMENTOS DE TRADUÇÃO INTERESPÉCIES NO SANTUÁRIO ANIMAL VALE DA RAINHA / [en] THE ARTS OF ATTENTION AND CARE: EXPERIMENTS ON INTERSPECIES TRANSLATION AT VALE DA RAINHA ANIMAL SANCTUARYMONICA PRINZAC 29 May 2023 (has links)
[pt] Esta pesquisa aposta nas relações de aliança e contaminação interespécies (humano-animal) como forma de sobreviver criativamente neste mundo em crise. Diante da
urgência de encontrar outras formas de viver a vida e habitar a Terra, o objeto
escolhido para a pesquisa é o tecido social, poético e sensorial do Santuário animal
Vale da Rainha, refúgio dedicado ao resgate e acolhimento de animais de produção
vítimas de maus-tratos e descartes. Por atenção às práticas em curso no Santuário,
busca-se multiplicar versões para as histórias dos animais que ali se encontram, sob
a hipótese de que as histórias normalmente contadas a seu respeito são desatentas
às suas formas criativas de ser. Parte-se do conceito de version da filósofa e
psicóloga belga Vinciane Despret, explorando-se em especial, nas práticas que ele
recobre, exercícios de tradução experimental interespécie. Sob o ponto de vista
implicado no conceito de version, a tradução é entendida como forma de produzir
sentidos a partir de diferenças nascidas no encontro entre humano-animal, opondo-se assim às práticas tradutórias que operam sob a lógica da sinonímia intermundos
e que tendem, muitas vezes, à igualação do não igual segundo parâmetros
antropocêntricos. A pesquisa pergunta: como as traduções interespécies conduzidas
como versions podem transverter histórias frigorificadas (animais de corte) em
histórias vivas e abertas (espécies companheiras)? Como através dessas traduções
é possível reviver relações emaranhadas – e nada óbvias – antes apagadas,
silenciadas, dessensibilizadas? Como essas histórias podem criar, nos termos de
Donna Haraway, response-ability, isto é, tornar-nos mais hábeis para responder
de modo responsável e inventivo às vidas não humanas que nos cercam? Ao lado
das proposições de Vinciane Despret, têm importância especial aqui os conceitos
de espécies companheiras e fabulação especulativa, de Donna Haraway. O trabalho
se origina dos encontros com os animais do santuário, três em especial: a vaca Gaia,
a búfala Chacrona e o bezerro Nandi. A escrita da tese busca materializar em sua
própria trama o trânsito não hierárquico entre saberes preconizado por Despret e
por Haraway - saberes práticos, científicos, filosóficos, poéticos. Nos experimentos
de tradução interespécies propostos, mostra-se como uma ecologia da atenção e do
cuidado subverte a lógica binária dos discursos apocalípticos e salvacionistas – e se
revela em um ativismo sensível. / [en] This research bets on the interspecies relationships of alliance and contamination
(human-animal) as a way to survive creatively in this world in crisis. In face of the
urgency to find new ways to live life and inhabit Earth, the chosen object of study
is the social, poetic and sensorial fabric of the Vale da Rainha Animal, a refuge
dedicated to rescuing and caring for livestock animals victims of mistreatment and
disposal. In attention to the current practices at the Sanctuary, this work aims to
multiply versions for the stories heard about these animals under a hypothesis that
the stories traditionally told usually neglect their creative ways of being. The
starting point is the Belgian philosopher and psychologist Vinciane Desprets
concept of version and this work explores specially its practices: exercises of
interspecies experimental translation. From the perspective implied in the version s
concept, translation is understood as a way to produce meanings for the differences
risen from the human-animal encounter, and it opposes translation practices based
on the logic of interworlds synonymy that frequently tend to the levelling of non-equals based on anthropocentric parameters. This research asks: How can
interspecies translations, performed as versions, convert frozen stories (livestock
animals) into live and open ones (companion species)? How can these translations
make it possible to relive relationships that are entangled – and not at all obvious –
and previously erased, silenced, desensitized? How can these stories create what
Donna Haraway called response-ability, that is, make us more able to be
responsible and inventive in the response to the non-human lives around us?
Alongside Vinciane Despret s propositions, Donna Haraway s concepts of
companion species and speculative fabulation have special importance. This work
originates from the meetings with the sanctuary s animals, three in particular: the
cow Gaia, the buffalo Chacrona and the calf Nandi. The writing of this thesis aims
to materialize, in its own plot, the non-hierarchical flow among the knowledges
advocated by Despret and Haraway – the practical, scientific, philosophical and
poetic knowledge. The interspecies translation experiments proposed show how an
ecology of attention and care subverts the binary logic of apocalyptic and
salvationist speeches– and reveals itself as sensitive activism.
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