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O Lago Grande do Curuai : história fundiária, usos da terra e relações de poder numa área de transição várzea-terra firme na Amazônia / Le Lago Grande de Curuai : histoire foncière, usages de la terre et relations de pouvoir dans une zone de transition entre terre ferme et plaines d’inondation en Amazonie / Lago Grande do Curuai : land tenure, land use and power relations in transition areas between floodplain and terra firme forest ecosystemsTheophilo Folhes, Ricardo 07 December 2016 (has links)
L’objectif de cette recherche est de comprendre comment des facteurs d’ordre social et environnemental ont influencé, en Amazonie brésilienne, le peuplement, l’appropriation et l’usage conjugué des ressouces naturelles, dans une région de transition entre des écosystèmes de plaines d’inondation et de terre ferme. L’approche adoptée est historique et ethnographique, afin d’examiner comment les relations de pouvoir et les pratiques sociales sont articulées au régime hydraulique de crues et d’étiages. Le lieu de l’étude est la région du Lago Grande do Curuai, dans la commune de Santarém (État du Pará), au croisement des communes d’Óbidos et Juruti. Je me suis interrogé sur de possibles continuités et ruptures entre les relations de pouvoir actuelles et celles de l’époque coloniale – relations qui influencent la circulation des hommes entre ces deux écosystèmes. Je conclue que les plaines d’inondation (várzeas) sont, aujourd’hui encore, contrôlées par des segments sociaux issus de l’élite locale, formés de propriétaires terriens et d’éleveurs de bovins. Ceux-ci ont construit leur pouvoir pendant la colonie portugaise et ont graditativement impulsé un mouvement vers des terres situées de plus en plus loin dans la terre ferme, avançant sur la forêt. Depuis 1950, l’élevage est la principale activité économique à l’origine de cette expansion, au moyen des pratiques liées à la transhumance du bétail. Parmi les facteurs qui induisent la circulation saisonnière entre la várzea et la terre ferme, la transhumance a reçu une attention particulière dans ce travail. Initialement réservée aux grands fazendeiros, cette pratique s’est popularisée dès les années 1970 parmi les différents profiles d’éleveurs, avec une intensification dans les années 1990. L’élevage repose sur trois pratiques locales qui favorisent la transumance : les « sociétés », les « permissions » et les locations de terrain (arrendamentos). Leur analyse conjointe m’a permis de montrer que les « sociétés » entre grands et petits éleveurs sont à l’origine de l’expansion de l’élevage. Cette activité va bien au-delà d’un « livret d’épargne » ; elle confère du prestige et une opportunité d’accéder régulièrement aux plaines d’inondation. Lors de la création, en 2005, d’un projet d’établissement agro-extractiviste – le PAE Lago Grande – afin de régulariser l’occupation foncière des populations régionales, seuls les terrains de terre ferme ont été intégrés dans la nouvelle unité territoriale. Ceux de várzea en ont été exclus. Les données disponibles permettent de montrer qu’au fond, la structure foncière n’a pas été modifiée. Dès lors, les relations de pouvoir historiquement inscrites dans ce paysage restent relativement inchangées. Enfin, la circulation des populations régionales entre ces deux écosystèmes ainsi que les pratiques de transhumance n’ont pas été prises en compte lors de la mise en œuvre des politiques de gestion territoriale en Amazonie. / The aim of this study is to understand the role of the social and environmental order influenced the peopling, land appropriation and the seasonal use of natural resources between floodplains (várzea) and firm land (terra firme) ecosystems in the Brazilian Amazon. I follow an historical and ethnographical approach to examine how social practices and the local power relations influenced the interrelated dynamic between social life and water movements (floods and droughts). The study area is Lago Grande, located in the city of Santarem, Pará State bordering the towns of Óbidos and Juruti. The main question is to investigate if power relations among social groups established and inherited during the colonial living in Lago Grande region are still operating in current times, and how this situation affects the control of transhumance between várzea and terra firme ecosystems. I conclude that the Amazon floodplains are still controlled by local elites, represented by land and livestock owners. The local elite established their socio-political power during colonial times, dominating an increasing process of entering from várzea to terra firme areas (i.e. deforestation). Since 1950, the main economical activity responsible for the expansion of land use from várzea to terra firme was cattle raising through transhumance between both ecosystems. Transumance has received a specific attention in this study, for it is among the main factors encouraging the circulation of local population between várzea and terra firme environments. From 1970’s, large farmers started the transhumance which was later followed by smaller farmers, and intensified through the 1990’s. Cattle ranching builds on three local practices which promote transhumance: “societies”, “permissions” and land rentals (arrendamentos). A joint analysis allowed me to demonstrate that “societies” between large and small farmers sustain the cattle ranching growth. This activity is lucrative and bestows prestige and opportunities to access the floodplains more regularly. In 2005, an Agro-extractivist Settlement was created (PAE Lago Grande) to favor land distribution and better economical opportunities among local populations. Though, the territorial unit included terra firme but not the areas of the várzea ecosystem, vital for the local economy part of the year. Additionally, the PAE also did not alter the land tenure, keeping the same historically constructed power structures it aimed to deconstruct. / O objetivo geral desta pesquisa foi compreender como fatores de ordem social e ambientalinfluenciaram o povoamento, a apropriação e o uso conjugado dos recursos naturais em umaregião de transição entre os ecossistemas de várzea e de terra firme na Amazônia brasileira.Adotei uma abordagem histórica e etnográfica para examinar como relações de poder e práticassociais mediaram a articulação da vida social ao regime de cheias e vazantes. A área eleita paraa realização da pesquisa foi a região do Lago Grande, localizada no município de Santarém-PA, na confluência com os municípios de Óbidos e Juruti. Questionei se seria possível, naatualidade, enxergar nas relações entre os segmentos sociais que coabitam a região do LagoGrande continuidades e rupturas com as relações de poder herdadas do período colonial e comotais relações poderiam estar intervindo na circulação humana entre os dois ecossistemas.Conclui-se que as várzeas ainda são controladas por segmentos das elites locais, formadas porproprietários de terras e gado. Estes fundaram seu poder no período colonial e lentamentecomandaram o processo de ampliação dos sistemas de uso da terra para os interiores da terrafirme. Desde 1950, a principal atividade econômica a impulsionar esta expansão tem sido apecuária, por meio da prática da transumância. Entre os diversos fatores que sustentam acirculação sazonal entre a várzea e a terra firme pela população local, a transumância recebeuatenção especial da pesquisa. Iniciada pelos grandes fazendeiros, a transumância se popularizouentre os diversos perfis de criadores a partir das décadas de 1970 e foi intensificada na décadade 1990. Três instituições comandam a atividade pecuária e logo sustentam a transumância: as“sociedades”, as permissões e os arrendamentos. Analisados em conjunto estes institutospermitiram que a pesquisa chegasse à conclusão de que as “sociedades” entre grandes epequenos criadores sustentam o crescimento da pecuária, atividade que muito mais do que umasimples poupança é sinônimo de prestígio e oportunidade de acesso regular a várzea. A criaçãode um projeto de assentamento agroextrativista em 2005, o PAE Lago Grande, anexou apenasa faixa de terra firme da região do Lago Grande, deixando as várzeas de fora. O PAE não anexouas várzeas e não alterou a estrutura fundiária em terra firme. Desta forma, pouco alterou asrelações de poder historicamente construídas. Por fim, considera-se que a circulação realizadaentre as populações regionais entre os dois ecossistemas, de maneira geral, e a transumância,em particular, não vem sendo levada em consideração nas políticas de ordenamento territorialna Amazônia.
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